Artigo

Mil dias de luto e de luta: Quem Mandou Matar Marielle?

Se não houver intervenção antiracista seguiremos a lógica dominante que é branca e de elite. Que o povo negro paute, dispute e ocupe todos os espaços. Texto de Plúvia Oliveira

Por Plúvia Oliveira, gestora ambiental e comunicadora popular

Hoje completa-se 1.000 dias do assassinato brutal de Marielle Franco: jovem, mulher, feminista, LGBT, negra e vereadora da cidade do Rio de Janeiro. Mesmo com dois Ex-PM (Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz) presos acusados de participação no crime, encontrados no Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca – mesmo local, onde, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem casa, até hoje não se tem uma resposta. Fica o sentimento de impunidade sobre “Quem mandou matar Marielle?”

É importante destacar que o assassinato foi um ataque às ideias e valores que a vereadora Marielle Franco representava, por ser moradora e defensora dos direitos das periferias, em sua maioria a população negra que está à margem da sociedade através da ineficiência das políticas, falta de serviços públicos e pelo modelo militar de policiamento.

Em todos os territórios, negras/os resistem através de diversas estratégias. O racismo está em todos os cantos: na universidade, nas escolas, nos supermercados, nas praças, dentro e fora das nossas comunidades e nos espaços institucionais. Negra/o que disputa a política incomoda, foi o que aconteceu no último sábado, dia 5. Carol Dartora, primeira mulher negra eleita vereadora de Curitiba, sofreu ameaça de mortes e um discurso de ódio cheio de racismo, misoginia e LGBTfobia. Carol foi mais uma, 4 outras mulheres negras eleitas também pedem pedem proteção e denunciam ameaças desse tipo.

Em Mossoró o processo eleitoral não se deu muito diferente, em 2021 a Câmara Municipal passará a ter 23 vereadores já eleitos, desses: 8 vereadores são brancos, 14 se autodeclaram pardos e 1, apenas um, se reconhece como negro.  Mas desses 15, nenhum desses pautam o  antirracismo. O Prefeito eleito, por sua vez, já demonstrou que não entende nada sobre a necessidade da pauta da  igualdade racial, como disse em um debate na campanha eleitoral: “Somos todos iguais!”. Será se somos mesmo?

É fundamental pensar sobre a narrativa do povo negro nos diversos diversos espaços de resistência e de lutas na cidade: Educação, saúde, transporte, emprego, renda e segurança. Se não houver intervenção antiracista seguiremos a lógica dominante que é branca e de elite. Que o povo negro paute, dispute e ocupe todos os espaços e quando ocuparmos os espaços que não agradem os que estão na mesa do poder não sejamos ameaçados e mortos pelo racismo e pelo ódio.