Pandemia em Natal

Filas no Midway Mall: o que tantas pessoas buscam no shopping em plena pandemia?

A reabertura do Midway Mall foi um dos temas mais comentados no Twitter nesta terça-feira (28). Grande parte das pessoas se questionava sobre as razões que levam tanta gente a se aglomerar em frente ao shopping

O maior shopping do Estado está reaberto. O prefeito de Natal, Álvaro Dias, “bolsonarizando” a pandemia, faz uso político da situação. Libera o que pode e o que não pode, indo de encontro com os decretos da governadora Fátima Bezerra. Nem a prefeita de Mossoró, Rosalba Ciarlini, também adversária de Fátima, age com tamanha insensatez.

O professor da UFRN, José Dias do Nascimento, ex-integrante do Comitê Científico do Estado, alertou no Twitter que a curva de exposição e de casos imediatamente se eleva, quando é autorizada a retomada de setores econômicos. “Sem abertura, teríamos continuado a descida…mostrada pela linha rosa e interrompida com um salto”, explica, ao demonstrar um gráfico que explica os pontos de referência.

Álvaro Dias vira as costas para a pandemia e olha para a urna. Acredita que levar à população à sensação de que o pior já passou e a ivermectina está aí para salvar a todos do grande mal, deve ser a prioridade. Primeiro foram as praias. Agora, os shoppings.

A reabertura do Midway Mall foi um dos temas mais comentados no Twitter nesta terça-feira (28). Grande parte das pessoas se questionava sobre as razões que levam tanta gente a se aglomerar em frente ao centro comercial em plena pandemia. “Fico me perguntando o que tem para fazer no midway de tão essencial”, diz @moriliaaaa. Outro ironiza: “Vacina de Oxford? Não Da china? Nope Da Rússia? Nada A vacina tá aqui em Natal: em Ponta Negra e no Midway”, escreve @Th3Jot4, com uma foto aérea de uma fila externa ao prédio do shopping.

Lara Paiva, do site Brechando, foi buscar explicações (se é que existem) e tentar responder a tantos questionamentos que bombaram no Twitter.  E, em boa parte dos casos, os depoimentos não levaram a problemática da pandemia em consideração.

Movimento na entrada do shopping Midway, em Natal, nesta terça-feira (28). Fotos: Lara Paiva/Brechando

Como o caso de Emanuel Emerenciano, primeiro na fila da entrada do shopping: “Eu decidi ir ao Midway porque a operadora VIVO é uma irresponsável. Eles nunca mais enviaram os boletos de pagamento da minha conta e agora quero saber o quanto gastei da minha fatura para que o meu serviço não fosse cortado. Eles estão colando os clientes em risco, pois eles deveriam ter deixado os pagamentos na minha casa, depois fica cobrando os juros, ameaçam de cancelar a conta e eu tenho que ir em locais aglomerados para poder pagar. Estou aqui desde às 10h para resolver este problema”

No caso de Mel Crstina, as razões se devem a “aproveitar a folga”. “Eu tenho produtos para comprar e eu quero aproveitar, além de ser minha folga e não quero ir no centro ou Alecrim fazer esse serviço”, afirma.

Há os mais sinceros que reconhecem que precisam aproveitar a reabertura para sairem de casa, como Larissa de Melo:”Não vou mentir não, eu realmente vim fazer compras e estava em casa o tempo todo, enfurnada. Estou precisando comprar uns lençóis e travesseiros na Riachuelo. Aproveitei que o Midway abriu para comprar essas coisas mesmo”, diz, descartando que poderia recorrer às compras online.

A permissão para reabrir os shoppings com ar-condicionado veio por meio de decreto assinado pelo prefeito Álvaro Dias na segunda-feira (27). A reabertura leva em consideração uma publicidade em que são apresentados dados fictícios, na intenção de angariar ativos eleitorais e permitir reabertura econômica de forma deliberada e irresponsável. Entre seus “dados” está a de ocupação de leitos 40%.

Como todos os levantamentos mostram, Natal foi a principal responsável pela alta taxa de ocupação de UTIs do Rio Grande do Norte. Inclusive, a Agência Saiba Mais demonstrou o panorama a partir de amostragem da Secretaria de Estado de Saúde Pública, que em 19 de julho, a ocupação dos leitos críticos estavam 99,3% na capítal, incluindo os hospitais de Campanha e o Municipal de Natal, ambos administrados pela prefeitura da capital. O percentual enfatizava ainda as unidades sob a gestão do Estado e também os hospitais particulares. Mesmo assim, Álvaro Dias jogou os natalenses à própria sorte enquanto tomam uma casquinha no McDonalds.