Operação Lava Jato

Faltou o Dallagnol, procuradores de Mossoró!

Cabeça da Operação Lava Jato, a pretexto de combate a corrupção, o ex-juiz Moro rasgou a lei para perseguir opositores políticos e agora está em ação de procuradores de Mossoró. Mas, não foi só ele

Por William Robson

Não fosse a Vaza-Jato, já estaríamos testemunhando o prenúncio do apocalipse. O ex-juiz Sérgio Moro estaria flanando e usufruindo das benesses de toda as falcatruas que patrocinou no intestino do Judiciário em conluio com representantes do Ministério Público. Cabeça da Operação Lava Jato, a pretexto de combate a corrupção, rasgou a lei para perseguir opositores políticos, sobretudos ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT), mormente o ex-presidente Lula (os demais foram efeitos colaterais para dar verniz de legalidade).

Não fossem as ações de Glenn Greenwald que revelaram as concertações entre Moro e Deltan Dallagnol para incriminar Lula a qualquer custo, muito provavelmente, aquele que se tornou ministro do principal beneficiário pelo lawfare, hoje poderia estar ocupando uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). Ou seja, o jornalismo salvou o Brasil e descortinou a sujeira a qual muitos já suspeitavam.

No calor das sucessivas operações espetaculosas, ninguém se atrevia a atacar ou criticar o Moro. Semideus, ocupava patamar maior que a lei. Procuradores da Lava Jato o reverenciavam e até o convidavam para fins de semana no Beach Park. Moro vivia momentos de glória logo após expor seu troféu, o ex-presidente Lula preso por mais de 500 dias.

Receberia a recompensa, os holofotes e o Ministério da Justiça. Tudo corria bem até que as conversas do Telegram, do grupo Filhos de Januário, foram desnudadas. E aí, tudo mudou de figura. E veio em sequência… Moro foi expulso do ministério, não mais empunhava o cargo de juiz, desmoronou o sonho do STF, Lula foi solto, as decisões da Lava Jato foram anuladas. Tudo em uma só tacada. Resultado: se refugiou nos Estados Unidos, para trabalhar em um escritório de recuperação judicial das empreiteiras brasileiras que ajudou a quebrar.

Agora, surge a notícia de que procuradores do Ministério Público Federal (MPF) de Mossoró, apresentaram esta semana ação civil pública (ACP) contra a União por supostos danos morais coletivos que teriam sido causados pela atuação do ex-juiz Moro. Questionam a sua condução na Lava Jato e apontam as ações como “antidemocráticas”. Bingo! Antes tarde do que nunca.

A ação ressalta que o agora ex-juiz  teria atuado de modo parcial e inquisitivo. Bingo!

E que teria “demonstrado interesse em influenciar indevidamente as eleições presidenciais de 2018, após a qual foi nomeado ministro da Justiça”. Bingo!

Não para por aí. Os procuradores de Mossoró ainda dizem que a operação “influenciou de modo inconstitucional o processo de impeachment de 2016”. Bingo!

Não se sabe até onde uma ação desta natureza vá prosperar. Porém, traz uma pesada carga simbólica. É uma espécie de reconhecimento do próprio Ministério Público dos exageros da Lava Jato e da parcialidade de um “juiz ladrão”, para usar a expressão do deputado Glauber Braga.

Vem em hora oportuna e tal manifesto pode ser anexado ao rol documental que estarão na história para reforçar o comportamento de quem atuou sorrateiramente e tinha pretensões políticas fortes. E que já está na lata do lixo da história.

Ah, por falar nisso, todos lembram do Dallagnol, que gostaria de administrar os recursos da Petrobras e criar um fundo especial para a Lava Jato, tornando a operação um poder paralelo. Dallagnol também participou de toda a trama, é protagonista nas conversas obscuras. Os procuradores de Mossoró esqueceram dele? Colocá-lo no mesmo bojo do Moro é obrigação, o trabalho precisa estar completo. É, ao mesmo tempo, uma demonstração coerente e de autocrítica em reconhecer o quanto  o Ministério Público e o Judiciário desceram ao esgoto para agir politicamente e, no final, gestar o que temos de pior neste momento.