Fábio Faria na Difusora: a privatização dos Correios travou
A privatização dos Correios é um tema polêmico. E em ano de eleição, praticamente o processo vai dormir na gaveta do Senado. O ministro das Comunicações admitiu em entrevista à Difusora nesta segunda (10)
Por William Robson
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, concedeu entrevista na tarde desta segunda-feira (10) para a Rádio Difusora. Entre diversos temas abordados pelo radialista Joãozinho GPS e pelo advogado Paulo Linhares, como a liberação de quase R$ 50 milhões para Mossoró ainda este mês, entrou na pauta a privatização dos Correios. Como a empresa faz parte de sua pasta, Faria foi contundente na resposta quando perguntado por Paulo Linhares sobre o processo de privatização: “Passou na Câmara com ampla maioria e parou no Senado”.
A privatização dos Correios é um tema polêmico. E em ano de eleição, praticamente o processo vai dormir na gaveta do Senado. Parlamentares dispostos a disputar cargos nas próximas eleições não tenderão a discutir o tema. Fábio Faria deixou isso claro e que muito dificilmente este assunto será pautado este ano.
“Realmente, um ano eleitoral é difícil para aprovar a privatização.Estamos tentando convencer os senadores a entrar em um acordo para que possam votar. Não tenho como garantir. O PT é contra e muitos senadores apoiam o PT e são candidatos e não sei aprovariam este projeto este ano”, disse o ministro.
Fábio Faria é um entusiasta da privatização dos Correios. Representantes do sindicato dos empregados dos Correios, em entrevista ao site WILLIAM ROBSON, explicaram que a privatização pode trazer prejuízos para regiões mais pobres do Brasil, onde as grandes empresas de logística não tinham interesse em atuar. Os Correios estão com representações em todos os municípios e na disputa por lotes de atuação, os interessados recorreriam apenas para as regiões mais lucrativas, como o Sul e o Sudeste.
“Nós temos uma empresa grande que tem um custo anual de R$ 20 bilhões. E arca esta despesa por contra da entrega de encomendas, competindo com grandes players mundiais”, defendeu Faria. “O custo de entrega de cartas e boleto é mantido por conta disso, mas esta receita vem caindo ano a ano”.
Veja a entrevista na íntegra
O ministro acredita que os Correios perderão a competitividade em alguns anos, sem a receita advinda das receitas. “O Governo Federal não terá como manter os Correios funcionando”, afirmou. “Os Correios têm capacidade de ser uma empresa global. Nos Estados Unidos, os Correios podem ter esta despesas porque o país é mais rico”, adiantou.
“Tenho muito receio, dentro de pouco tempo e como as outras empresas têm muito dinheiro e infra-estrutura de logística, elas tomem os clientes dos Correios. Como o Mercado Livre, por exemplo, que utilizava os 90% dos seus serviços via Correios e hoje utilizam 10%. A Magalu era 100% e hoje está indo para 30%. Então, cada ano que passa as empresas estão contratando outros serviços que não são os Correios. Chegará um momento em que esta empresa ficará apenas como um custo para a nação”, ressaltou Fábio Faria.
Embora tenha feito uma ampla defesa pela privatização dos Correios, ele sentem que o avanço do processo vai esbarrar na questão política. E que o projeto teria sido elaborado com cuidado para ganhar o respaldo popular como, por exemplo, proibir demissão de funcionários pelos próximos dois anos e garantia de manter a universalização do atendimento. “Fizemos a nossa parte, mas acredito que agora está travado por um problema político”, reconheceu.