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Eleição majoritária em Mossoró: uma visão sem amores e arrodeios

O campo oposicionista está fragmentando e, sem sombra de dúvida, é um alento ao projeto de reeleição da atual prefeita. A discussão da Frente Ampla que discutimos com as demais forças políticas não prosperou. Texto de Gutemberg Dias

Gutemberg Dias, professor, empresário e pré-candidato a prefeito de Mossoró pelo PCdoB

A eleição municipal de 2020 em Mossoró está recheada de novidades, para não dizer surpresas. Digo isso baseado em fatos e não em conjecturas. A política local, especificamente, no que tange as eleições municipais, nos últimos anos sempre vem tendo grandes novidades, porém, a lógica sempre prevaleceu, ou seja, a manutenção do poder na mão da elite política local, salvo a eleição do ex-prefeito Francisco José Junior.

Rosalba Ciarlini naturalmente é candidata a reeleição e segue como favorita em função, sobretudo, de estar com a caneta na mão e com as condições de desenvolver ações administrativas que teoricamente atinge positivamente a população. É sabido que existe desgaste administrativo e de imagem, mas é algo administrável por sua equipe. A novidade em relação a sua pré-candidatura é a questão da indicação do seu pré-candidato a vice-prefeito, principalmente, por mexer no tabuleiro político. A possível indicação de Jorge do Rosário para essa função soa como algo novo e capaz de atrair para seu palanque grande parte do empresariado local. Vale destacar que corre por fora a ex-deputada Larissa Rosado com o apoio do todo poderoso presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira, querendo ocupar a vaga de vice na chapa da prefeita Rosalba Cialini, nesse caso seria uma chapa Rosado-Rosado. O que se observa é que o núcleo governista tem alguns problemas a sanar na sua engenharia política.

Com maior força no campo oposicionista caminham os deputados Alysson Bezerra e Isolda Dantas. Ambos seguem em faixas próprias que, de certa forma, tem caminhos mais antagônicos do que convergentes. Veja que são dois nomes da oposição com palanque montado a partir de suas estruturas na Assembleia Legislativa. Num outro rumo segue a pré-candidatura do PCdoB com Gutemberg Dias e, de certa forma, entra no jogo, em função do adiamento das eleições, a ex-prefeita Cláudia Regina que ainda não anunciou sua pré-candidatura, mas suas redes sociais indicam isso.

O campo oposicionista está fragmentando e, sem sombra de dúvida, é um alento ao projeto de reeleição da atual prefeita. A discussão da Frente Ampla que discutimos com as demais forças políticas não prosperou e o que se observa são pré-candidaturas que caminham para serem aprovadas nas suas respectivas convenções partidárias.

A manutenção dos projetos majoritários nessas eleições, pela sua peculiaridade, ajuda muito ao projeto de se chegar ao legislativo. É natural que os projetos majoritários tenham maior inserção na sociedade e, também, nos meios de divulgação e isso pode ajudar no fortalecimento das chapas de vereadores e na atração de voto de legenda que historicamente é maior quando os partidos têm candidaturas majoritárias.

Um fato que chama muito atenção é a falta de debate sobre plataformas concretas. Os discursos são genéricos e sem um foco nítido de um projeto capaz de realmente mudar os rumos do município. Esse mal não só atinge a situação, mas também a oposição. Mossoró tem uma potencialidade econômica invejada, hoje é o 23º PIB do Nordeste e suas riquezas naturais geram enormes oportunidades para se discutir o seu futuro a partir do desenvolvimento econômico.

Nessa contextualização apresentada enxergo que a campanha segue para ter múltiplas candidaturas oposicionistas, fato que, teoricamente, pode favorecer a pré-candidata situacionista. Mas, sabemos que numa eleição tudo pode acontecer e o vento pode soprar diferente. Um bom exemplo, se a ex-prefeita Cláudia Regina disputar o pleito, ela pode dividir parte do eleitorado de Rosalba Cialini, haja vista que ela transita no mesmo ciclo político, já que politicamente ela surgiu a partir do núcleo de poder capitaneado pelo projeto situacionista.

O eleitorado mossoroense, guardado as devidas proporções, vem fazendo mudanças na sua forma de votar. Desde a eleição de 2012 é perceptível que a grande parcela do eleitorado já segue fazendo uma ruptura com os grupos tradicionais e acredito que ao longo das próximas eleições tende a se acentuar. Isso favorece, em grande parte, os nomes de oposição que começam a ganhar espaço no eleitorado, principalmente, nas camadas com maior grau de instrução e de faixa etária menor.

O jogo será jogado e o dia 31 de agosto de 2020 será a data limite para saberemos exatamente quais serão as peças que estarão no tabuleiro eleitoral de Mossoró. Numa eleição atípica como essa, qualquer prognóstico é mera especulação e “tudo pode acontecer” nas eleições municipais, “inclusive nada”.

Publicado originalmente no Blog do Barreto