Eleições

Efeito Marçal: O bolsonarismo em diluição

Ao que tudo parece indicar, Marçal se tornou a pedra no sapato do bolsonarismo. E para quem achava que a extrema-direita tinha chegado ao limite, surge novo nome que dobra a aposta

Por William Robson – Agora RN

Bolsonaro é um fenômeno, mas também um acidente de percurso. A direita brasileira, mais comportada, construiu esta figura através de episódios que, articulados, geraram o bolsonarismo. A começar pela falácia dos 20 centavos na onda de protestos das chamadas Jornadas de Junho de 2013.

A situação vai ganhando outros contornos na acirrada eleição de 2014, em que Dilma quase não se reelegia. O PSDB iniciou o processo de implosão do novo governo, quando entrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com um pedido de auditoria a fim de verificar a “lisura” da eleição presidencial. O Governo Dilma 2 ainda foi neutralizado rapidamente, diante de um processo de impeachment que ganhou as ruas.

A queda da Dilma em 2016 e ascensão do Governo Temer mudaram os rumos do país. Alterou também as perspectivas do PSDB, que esperava ser a bola da vez para ocupar a Presidência.

Não foi o que aconteceu. Com um Brasil em chamas, a polarização foi exarcebada. E a plataforma tucana não cabia mais na direita. Um caminho mais extremo surgiu com Bolsonaro correndo por fora. Assim, em 2018, vence as eleições. Com ele, toda a extrema-direita. O PSDB perde espaço e se torna um partido nanico.

Com a volta do PT, quatro anos depois e a derrota do bolsonarismo, a extrema-direita segue firme. Mas, o sarrafo subiu. E quem está dando as cartas agora é o coach Pablo Marçal, um outsider (outro?) que conseguiu elevar o tom que sequer o bolsonarismo praticava. Extrapolou os limites do extremismo e ameaça o trono edificado pelo ex-presidente.

Bolsonaro e seu clã sentiram a pancada. O PL, partido do ex-presidente, busca desidratar Marçal em ofensiva na TV. O novo nome da extrema-direita tem incomodado o bolsonarismo em São Paulo e expõe um fenômeno que está ocorrendo em outras partes do país: o bolsonarismo sem Bolsonaro.

Para tentar minar Marçal, os filhos de Bolsonaro partiram para o embate. De forma surpreendente, os militantes bolsonaristas se revoltaram. “Muita gente reclama do PL, mas todo partido tem os seus problemas – e graças a Deus o do PL não é por envolvimento com droga ou o PCC”, afirmou o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Não deu resultado e Bolsonaro e os filhos não sabem como calibrar as críticas. O certo é que a ofensiva de Marçal no campo bolsonarista tem dado resultado até aqui: “A esquerda criou o nome bolsonarismo para ver se faz com que todo mundo tenha a cara do presidente [Jair Bolsonaro]. A liberdade não tem dono. Não é o Pablo Marçal que manda nisso, não é Bolsonaro que manda nisso”, deu o recado na CNN.

O bolsonarismo, por sua vez, tenta explorar o passado sujo de Marçal e seu envolvimento em quadrilha que desviou dinheiro de contas bancárias. Realmente, ele não é flor que se cheire. Chegou a ter ainda seus perfis derrubados nas redes sociais por abuso de poder econômico por pagar apoiadores para editar e difundir cortes de seus vídeos, em um esquema envolvendo mais de cinco mil perfis.

Ao que tudo parece indicar, Marçal se tornou a pedra no sapato do bolsonarismo. E para quem achava que a extrema-direita tinha chegado ao limite, surge novo nome que dobra a aposta e dilui o núcleo antes fortemente dominado pelo ex-presidente.