Pontos de drenagem de Mossoró não passavam por limpeza há 20 anos
O serviço parece ser relativamente simples, ou seja, tirar o lixo acumulado que entope as tubulações. Mas, o processo de limpeza, que deveria ser simples, constatou cenário impressionante
Por William Robson
Mossoró tem pontos que ficaram e que ficam marcados quando chove. Avenida João da Escóssia, Lagoa do Bispo e as imediações da Cobal são alguns exemplos. Sempre alagavam na menor das precipitações. A água não escoava, embora estas áreas contassem com sistema de drenagem. As imediações da Cobal, na avenida Dix-neuf Rosado, se transformavam em lagoa. Por que se tornou problema crônico?
Mossoró já enfrentou diversas enchentes. Muitas históricas, como a de 1985, quando o rio Mossoró transbordou e invadiu o Centro da cidade. Lojas e a praça Rodolfo Fernandes eram tomados pelas águas. As cheias cessaram após a obra de dicotomização e tricotomização do rio, que desvia o curso das águas. Tal obra realizada pelo então prefeito Dix-huit Rosado impediu que novas cenas de enchentes se repetissem.
No entanto, outras cenas emergiram. As causas, igualmente, outras. Carros boiando ou enguiçados eram recorrentes em tempos de chuvas. O mossoroenses estava diante de outro problema crõnico. E toda a situação era provocada pelo sistema de drenagem da cidade. Portanto, a Prefeitura de Mossoró tinha apenas que realizar um trabalho de limpeza no sistema de escoamento das águas pluviais.
O serviço parece ser relativamente simples, ou seja, tirar o lixo acumulado que entope as tubulações. Bem menos complexo que a obra de Dix-huit. Mas, o processo de limpeza, que deveria ser simples, esbarrou em um cenário impressionante. Para surpresa dos técnicos da Prefeitura, os principais pontos da cidade não recebiam manutenção há mais de 20 anos. O secretário de Infra-estrutura, Meio Ambiente, Urbanismo e Serviços Urbanos, Brenno Queiroga, constatou a ausência de manutenção da estrutura de drenagem da cidade.
“São intervenções bem pensadas, com muita engenharia envolvida, muito dimensionamento. As nossas equipes estão trabalhando fortemente nisso e estamos desobstruindo os canais desde o rio até o ponto de alagamento, limpando todo o sistema que existe. Por exemplo, tem sistema que não passava por limpeza há mais de vinte anos. Então, encontramos vários tubos obstruídos, causando alagamentos”, explicou.
Ou seja, os alagamentos na cidade resultam da negligência. A simples desobstrução da tubulação do entorno da Cobal já começou a fazer resultado. Em chuvas mais pesadas, a água já escoa mais rapidamente, não se acumulando como ocorria antes. No Instagram do Brenno Queiroga, é possível ver uma imagem da quantidade de entulho que se acumulou em um bueiro da cidade.
Claro que um problema de décadas não se resolve tão rapidamente assim. Mais ainda que março e maio estão surpreendendo em volume de chuvas. Março somou 152,6 milímetros. E maio já vai com 142,6mm. No entanto, é possível observar avanços importantes no trabalho de mapeamento de desobstrução em diversos trechos da cidade.
Na postagem, o secretário já fazia o alerta: “Quanto transtorno a falta de manutenção pode causar? Alagamentos, desmoronamentos, prejuízos. Às vezes a falta de uma pintura em uma estrutura metálica de um Ginásio pode causar prejuízos de centenas de milhares de reais. Uma boca de lobo que não foi limpa, pode causar o alagamento de casas e comércios e causar prejuízos milionários”, relatou em março.
A Defesa Civil de Mossoró mapeou os pontos mais críticos da cidade que apresentam as mesmas características de alagamentos e sistema de drenagem inoperante. “Estamos trocando o pneu com o carro em movimento”, explicou Brenno, diante das chuvas que seguem na cidade.
“Hoje no entorno da Cobal estamos terminando de colocar as últimas grelhas. É importante que a população saiba que para o serviço ficar bem feito, é necessário esperar a cura do concreto, que para endurecer leva cerca de 21 dias. Ou seja, daqui a 25 dias nós estaremos concluindo as obras naquele setor”, acrescenta o secretário.
Chover em Mossoró é tão raro que a chuva se torna um evento. Os mossoroenses postam nas redes sociais, tomam banho e fazem uma festa. Embora raros, há períodos de chuvas em Mossoró, o que exigem atenção constante à manutenção estrutura de escoamento da cidade. Porém, isso não ocorria e o resultado todo mundo percebia. Tratava-se de atitude deliberada por duas décadas só percebida quando o prefeito Allyson Bezerra decidiu abrir os bueiros, as bocas de lobo e confirmar o descaso.