De olho em 2022, o que Bolsonaro vem fazer este mês no RN?
Como sabemos, Bolsonaro nunca gostou do Nordeste. E como também sabemos, o Nordeste não gosta do Bolsonaro. Mas, o presidente rechaçado nas urnas em todos os nove Estados da região propõe um armistício mal intencionado
Como sabemos, Bolsonaro nunca gostou do Nordeste. E como também sabemos, o Nordeste não gosta do Bolsonaro. Mas, o presidente rechaçado nas urnas em todos os nove Estados da região propõe um armistício mal intencionado, quando tenta cooptar a simpatia dos nordestinos sob o estereótipo de uma subcivilização.
Se a sua memória não for curta como dizem por aí em relação aos demais brasileiros, lembrará que Bolsonaro referiu-se aos governadores do Nordeste como “governadores de paraíbas”. Ele conversava informalmente com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, há exatamente um ano. Sua real impressão dos nordestinos e seus representantes foram captados pelos microfones, amplificando à contragosto, seu sentimento pela região.
As atenções de Bolsonaro se voltam, de fato, para o Rio de Janeiro, de onde minaram seus votos e, por tabela, de seus filhos. Onde mantém negócios mal explicados e relação com elementos barra-pesada, estilo Adriano da Nóbrega (já morto) e Fabrício Queiroz, que tira o sono do clã. Se mostrássemos o mapa do Brasil para o presidente a fim de que nos apontasse onde fica o estado do Rio Grande do Norte, certamente, teria dificuldades de responder.
No entanto, mal se curou da “gripezinha” que caminha para vitimar cem mil brasileiros, sua resignação impressiona ao pensar na sua reeleição, em espécie de campanha antecipada iniciada pela região que ele mais odeia (há também o Norte, mas daria outro artigo). Sua intenção é manter a base do seu eleitorado, ainda com surpreendentes 30% seguindo algumas estratégias: afastar-se do núcleo olavista, evitar o cercadinho de produção de polêmicas, esquivar-se de problemas com o Congresso e o STF e neutralizar a militância antidemocrática que conseguiu aglutinar e que perturbava a ordem pública. Adicione como ingrediente, o fato do Supremo determinar a derrubada de contas “inautênticas” e eliminar uma quantidade incontável de robôs que geravam engajamento nada orgânico.
Outro elemento desta estratégia é atrair o eleitorado do Nordeste, onde os partidos progressistas, sobretudo o PT são claramente hegemônicos. O partido governa quatro dos nove Estados. E de que forma Bolsonaro quer chegar aos nordestinos? Em primeiro lugar, aposta no estereótipo do chapéu de couro e do jegue como representação de todos que vivem aqui. Em seguida, tira casquinha as obras criadas por Lula e Dilma, como o Bolsa Família e a transposição do Rio São Francisco, em foto emblemática onde comemora feito e que rendeu memes. O primeiro aconteceu em Teresina (PI) no dia 30 de julho, enquanto que o segundo em Salgueiro (PE), foi em junho. Em ambas as situações, os governadores Wellington Dias (Piauí), nem Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (PT-Ceará) e Paulo Câmara (PSB-Pernambuco) participaram dos eventos.
Agora, em agosto, a campanha de Bolsonaro para 2022 no Rio Grande do Norte. Além de olhar para a reeleição, o que o presidente antinordestino vem fazer por aqui. Segundo o jornal Tribuna do Norte, que trouxe a informação nesta quarta-feira (5), Bolsonaro tem previsão de visitar o Estado no dia 21, podendo ir ao Vale do Açu para uma solenidade de entrega de título de terra e fazer visita a obras hídricas. Está em cogitação também uma vistoria nos serviços de construção da barragem de Oiticica e no porto Ilha de Areia Branca. Não há previsão para passagem em Mossoró.
Para dar uma força,o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que há tempos quer distância do RN, será o cicerone, além do ministro-chefe da Secretaria de Governo do presidente, general Luiz Eduardo Ramos, que tem raízes em Timbaúba dos Batistas.
E Rogério Marinho? Bem, Marinho gosta de ficar justificando a semeadura bolsonarista no terreno germinado por governos progressitas. Até os xique-xique do Nordeste sabem que Bolsonaro não tem uma obra para chamar de sua por aqui. Mas, Marinho tenta usar o velho discurso, estilo “reforma-trabalhista-vai-gerar-mais-empregos”: “Alguns brigam pela paternidade de obras, nós entregamos elas, isso que importa. As obras não são de partido ou de governo são do povo brasileiro”, justifica, como se as grandes demandas nordestinas fossem contempladas por obra do acaso.