Como padre Sátiro salvou a Uern
As crises que foram se sucedendo, até o padre Sátiro Cavalcante Dantas assumir a reitoria, em 1985
Por William Robson*
Talvez não fosse a estadualização da então Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN), hoje Uern, a instituição não mais existiria. A instituição, fundada em 28 de setembro de 1968, era subordinada à Prefeitura de Mossoró que, por sua vez, não conseguia mantê-la.
Com o passar do tempo, o problema foi aumentando ao ponto da escola passar por várias crises. Toda a receita da universidade vinha a partir das mensalidades dos estudantes. A prefeitura entrava com menos de 4% de todas as despesas da escola.
As crises foram se sucedendo, até o padre Sátiro Cavalcante Dantas assumir a reitoria, em 1985. Sua principal missão era tirar a Universidade Regional do atoleiro. Pensou em várias hipóteses. Uma bem difundida, mas sem êxito, foi a tentativa de federalização. Políticos e sociedade queriam, mas o reitor achava inviável. E estava certo.
A solução mais realista seria resolvida no próprio Estado, com a incorporação da universidade ao Governo Estadual. Todos entraram na luta. Até o então prefeito Dix-huit Rosado, que não era simpatizante da ideia, temendo que o município perderia o patrimônio, acabou aderindo. A população inteira também estava a favor e, numa assembléia realizada no Cine Pax, em 85, percebeu o quanto a sociedade queria ver a Urrn sob a responsabilidade do Estado.
O governador da época, Radir Pereira, assumiu também a bandeira e, como estava em final de mandato, convocou os candidatos à sucessão para se comprometer com a causa. Obtendo a afirmação positiva de todos, consegue estadualizar em 8 de janeiro de 1987.
O “início definitivo da universidade”, segundo ele
A vontade da sociedade mossoroense pela estadualização da Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN) ra tão grande que, numa importante assembléia realizada em agosto de 1985, no Cine Pax, tomou-se um decisão energética.
Padre Sátiro Cavalcanti Dantas, então reitor da Urrn na época, relembra que o prédio ficou completamente lotado com professores, alunos e pessoas da sociedade civil. E ficou acertado que a estadualização deveria vir de qualquer maneira, ou então ninguém veria outra saída senão o fechamento da instituição.
O então governador do Estado, Radir Pereira, sabia da importância, mas queria que o seu sucessor resolvesse tudo sozinho. Então, juntamente com o reitor padre Sátiro, resolveu adiantar o processo de estadualização, desde que os candidatos a governador se comprometessem com ele de que abraçariam a causa e dariam a ela continuidade.
Os candidatos eram João Faustino, Geraldo Melo, Sebastião Carneiro e Aldo Tinoco. Todos eles foram convidados a garantir o comprometimento num evento organizado no salão nobre da Urm.
Nessa época, a universidade estava passando por uma crise muito grave, devido a problemas políticos e à derrocada do reitor antecessor a padre Sátiro. Isso foi um motivo a mais para que o governador Radir Pereira e o prefeito Dix-huit Rosado investissem na luta pela estadualização. “Eu considero o início definitivo da universidade regional a partir daí”, diz padre Sátiro.
Federalizar era o caminho mais difícil
Mesmo com o decreto nº 5.025, autorizado pela Secretaria de Educação do Estado, no dia 14 de novembro de 1968, para o funcionamento legal da Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN), a sociedade mossoroense não estava de toda contente. Queria um reconhecimento maior. Acreditava que uma federalização seria a melhor solução.
O então reitor da universidade em 1986, ano da incorporação da Urrn ao Estado, padre Sátiro Cavalcante percebeu que seria muito difícil fazer da universidade regional uma escola sob manutenção do Governo Federal. “Eu sabia que não iríamos conseguir apesar do esforço dos nossos políticos”, disse ele após um debate sobre o assunto para a Santa Clara (105,1 MHz).
De fato, o padre Sátiro estava certo. Numa conversa com o tão ministro da Educação, Marco Maciel, ficou definido o melhor caminho para a seria mesmo a estadualização. Entretanto, não foi motivo para apagar os ânimos dos e insistiam pela federalização da instituição.
Quando se percebeu que a possibilidade de federalizar a Urrn era praticamente impossível, o padre Sátiro resolve assumir, timidademente de vez, o projeto já que era um ano de campanha e acreditava que qualquer outra decisão poderia influir no resultado eleitoral.
Enquanto o então governador Radir Pereira e o reitor padre Sátiro batalhavam pela estadualização da universidade, o prefeito Dix-huit Rosado temia que todo o patrimônio da escola pudesse ser perdido. Mas, o deputado Vingt Rosado conseguiu convencê-lo da importância, tornando-o um aliado.
*Reportagem originalmente publicada no jornal Gazeta do Oeste, em 12 de janeiro de 1997