Os devaneios bolsonaristas

Como os preconceitos e acusações de Daniel Sampaio podem pesar contra Cláudia?

Médico psiquiatra, processado pelo MPF. atacou universidade, estudantes e professores, e agora compõe a chapa da ex-prefeita Cláudia Regina, levando consigo parte do DNA bolsonarista, o que lhe coube do espólio da extrema-direita

Por William Robson

O médico psiquiatra Daniel Sampaio é uma daquelas figuras que surfaram na onda do conservadorismo da Idade Média de Bolsonaro e, assim, ganhou notoriedade. Tornou-se bolsonarista-raiz, onde a competição começa na cloaca, não no cérebro. E sua primeira aparição de destaque, alçando-o à categoria de porta-voz, foi atacar um dos maiores inimigos do presidente: as universidades. Achincalhar o campo acadêmico é a atitude mais provável deste agrupamento, sobretudo, quando vê as instituições como antro de esquerdistas, comunistas, petralhas, comedor de criancinhas, coisas deste tipo.

Com o presidente Jair Bolsonaro

Em maio de 2019, ainda na esteira bolsonarista, Sampaio tinha a seu favor mais que o discurso de ódio. Trazia consigo o selo do PSL, partido que elegeu o presidente, e o qual comanda até hoje. Com estes ingredientes, atraiu a massa daqueles que se inspiram no presidente, que buscam inimigos por toda a parte, atingem negros, mulheres e gays e gostariam de sair dando porrada em todo mundo pela frente.

Foi nesta época que concedeu entrevista à TCM, programa Cenário Político. Apoiou com veemência o corte de verbas para o ensino superior, jogando a culpa para as instituições federais e todos que as compõem. Disse que quase chorou quando visitou sua antiga universidade, a UFRN, e viu as paredes pichadas. E que as universidades estavam formando dependentes químicos, não profissionais para atuarem nos mais diversos campos do saber.

“Eu como médico psiquiatra estou acompanhando os alunos que estão saindo das universidades federais, e acompanho jovens que entraram na universidade com sonhos e estão saindo com tatuagens, dependências químicas, principalmente em álcool e maconha, doenças mentais graves. Isso é um alerta aos pais: se minha filha fosse aprovada numa universidade federal, eu não deixaria ela cursar”, disse Sampaio, do alto de sua análise do universo acadêmico.

Os bolsonaristas raivosos comemoraram. Cada um com seu celular em casa. Os valentes de Facebook, afinal, tinham o seu líder em Mossoró. Até dar o bug na cabeça de cada um, quando o General Girão decidiu se desvencilhar do Sampaio e o PSL ser jogado ao mar pelo bolsonarismo, que ensaiava a criação do Aliança pelo Brasil. O bastão sairia do médico para a dentista Angela Schneider.

Andy Warhol reveria o cálculo sobre os dez minutos de fama que cada um terá direito na vida, ao perceber que Daniel Sampaio não mergulharia. Foi reconhecido, convidado para compor a chapa da ex-prefeita Cláudia Regina, levando consigo parte do DNA bolsonarista, o que lhe coube do espólio da extrema-direita. O médico já se exibia serelepe com a sua parceira de eleições na antiga ponte férrea quando afirmou ter recebido com surpresa a ação do Ministério Público Federal, cobrando explicações sobre estes ataques relatados aqui e outros colecionados pelo órgão, todos lançados contra as universidades, especialmente a UFERSA.

O MPF afirma que Sampaio ainda acusou as instituições de não prestarem conta dos recursos recebidos, de promoverem o vício em drogas entre os alunos e ainda tratou com preconceito os estudantes que usam tatuagens. Exige pagamento de indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 500 mil.

Procuradores da República Emanuel Ferreira e Fernando Rocha, autores da ação, afirmaram que a atitude de Sampaio foi “difamatória e preconceituosa e não corresponde à realidade dos professores e alunos”. Quer dizer, todos nós sabemos que delírios do tipo poderiam partir de quem sequer passou em frente de uma universidade. Não de um médico que chegou a atuar como professor de uma delas, no caso da UERN. Os devaneios que ecoam podem ser pesado fardo para o agrupamento partidário que está apoiando no projeto de alcançar o Palácio da Resistência.