Eleições 2020

Como o bolsonarismo entra na campanha de Rosalba sem ser percebido?

O bloco parlamentar que se alinha ao bolsonarismo tem interesses em Mossoró. Dois nomes podem receber os afagos do presidente, a partir das intenções do Centrão

Por William Robson

Quando o presidente Jair Bolsonaro desembarcou em Mossoró no dia 21 de agosto, sua intenção era bem maior que entregar a obra inacabada do condomínio Mossoró I. Tudo parecia confluir para a agenda administrativa, entre elas a indicação da professora Ludimilla Oliveira como reitora da Ufersa. O propósito era muito mais amplo e está diretamente ligado às intenções do presidente para 2022 e do Centrão para as eleições deste ano.

O bloco parlamentar que se alinha ao bolsonarismo tem interesses em Mossoró. Dois nomes podem receber os afagos do presidente, a partir das intenções do Centrão: Rosalba Ciarlini (PP) e Allyson Bezerra (Solidariedade). Neste caso, a atual prefeita tem maior vantagem. Além do seu capital eleitoral incontestável, tem consigo o apoio do presidente do seu partido, o senador Ciro Nogueira, que intenta ofensiva no Nordeste, reduto progressista onde Bolsonaro busca sua brecha. Para tanto, vai precisar reforçar seus apoios nas principais cidades da região. Mossoró, como a segunda maior cidade do RN, tem atenção especial. A vinda de Bolsonaro aqui não foi para entregar apartamentos semi-prontos.

Boilsonaro, em visita ao Piauí, em julho

Bolsonaro afirmou outrora que não entraria em campanhas eleitorais deste ano. Declinou da ideia quando percebeu que depende dos prefeitos a sua permanência na presidência a partir de 2022.  Na esteira do auxílio emergencial, que impulsionou a sua popularidade, o presidente tem realizado uma turnê pelo Nordeste, visitando quatro localidades nos últimos três meses. Neste mês de setembro, deve visitar as obras da ferrovia Oeste-Leste, na Bahia, segundo informou o jornal Folha de S. Paulo.

As visitas têm caráter de campanha para afagar os parlamentares do Centrão. Em Mossoró, Bolsonaro teve o deputado federal Beto Rosado (PP) como cicerone e a prefeita Rosalba Ciarlini aproveitou o momento para convidar a todos para recepcioná-lo e ainda tentou agradar ao neto-tiete Neste momento, o que os partidos aliados de Bolsonaro buscam é avançar com seus candidatos a prefeito nas eleições deste ano, formando uma base de apoio à reeleição do presidente em 2022. Por tanto, há interesse especial do PP em Mossoró em retribuir a atenção dispensada pelo bolsonarismo.

Claro que isso tudo acontecendo enquanto os mossoroenses dão milho aos pombos. Até os bolsonaristas-raiz da cidade não estão bem cientes do acordo, a ponto de vaiarem a prefeita no aeroporto, nome que Bolsonaro e  o PP nutrem predileção. O bolsonaristas estão confusos se haverá apoio a Daniel Sampaio (PSL) ou para Allyson Bezerra, que integra o partido do Centrão. Não se sabe tão claramente.

O que se sabe é que os partidos  alinhados ao bolsonarismo estão ganhando força no Nordeste. O PP, em especial, é o partido com o segundo maior contingente de prefeitos na região. Tinha 142 e saltou para 252, acima de  MDB, PSB e PSDB.  O PSD, do ministro Fábio Faria, lidera, mas em Mossoró a possibilidade de partido se integrar à campanha de Rosalba é mínima, visto que pode pender para Cláudia Regina.

O projeto de Bolsonaro no Nordeste passa por Mossoró e tem o PP como protagonista das intenções de reeleição da extrema-direita.  Tudo dependerá de como o eleitor mossoroense vai se comportar diante dos acordos em Brasilia que  se projetam em Mossoró com intenções locais e nacionais. É bem verdade que o PP é alinhado a partidos de esquerda no Nordeste, como ao governador Flávio Dino, no Maranhão, casos que demonstram situações díspares envolvendo a legenda. Porém, em Mossoró, não precisa ser muito observador para notar que Rosalba  e o seu partido andam em sintonia com o Planalto.