Análise do dia

Como o bolsonarismo empoderou o agressor do quilombola?

A foto mais emblemática do agressor reflete um indivíduo com a máscara do seu ídolo e faz questão de fazer o sinal da arminha. As referências do comerciante racista e reincidente

Por William Robson

Quando foi noticiado que o comerciante Alberan de Freitas Epifânio agrediu Luciano Simplício no último final de semana no município de Portalegre, muitos quiseram dissociar o episódio do bolsonarismo. Ao imporem simetria, adotaram a justificativa de que existem tantos agressores na direita quanto na esquerda. Até aí, falar da existência de espectros ideológicos maniqueístas parece plausível. A questão puxa para este fato em específico: o comerciante tem adoração ao Bolsonaro, o que a seu ver, concedeu autoridade para cometer as atrocidades com o quilombola.

A foto mais emblemática do agressor reflete um indivíduo com a máscara do seu ídolo. Além disso, faz questão de fazer o sinal da arminha, símbolo da campanha eleitoral do agora presidente. Ou seja, ele tem no Bolsonaro a sua principal referência. E quando fala-se de racismo, sabe-se que o presidente não é tolerante. Mais do que isso, é preconceituoso e debocha das raças. Estabelece-se, portanto, a sintonia entre eles.

Alberan viu nesta figura elevada ao poder a representação de que pode, enfim, expor todo o seu ódio racista. Amarrar e espancar o quilombola, expô-lo como animal ou rememorando às condições em que os negros foram tratados no período escravista. Foi este o festival de horror que ganhou o país e inundou as redes sociais, a ponto de elas  restringirem a exibição de vídeos contendo os ataques repugnantes. O comerciante se colocou na condição que mimetiza o que há de pior no ser humano. E isso, por sua vez, está encarnado na figura do presidente.

Como se não bastasse, nesta quarta-feira, foi resgatada denúncia do Ministério Público do RN citando o comerciante em outro episódio. Foi protagonista de outra confusão, desta vez, em 2020. Recorreu a palavrões e ataques racistas a Saulo Mikael Vieira Rocha. Não ponderou nas falas e nem nos xingamentos. Todos, (sem coincidência) de cunho racista.

Alberan aparece, agora, no episódio de 2021 como agressor reincidente, porque o caso do quilombola pode ser enquadrado como racismo também. Tanto na abordagem inicial, com agressões, quanto no que se sucedeu, até o espancamento e a forma como o quilombola foi  amarrado. Em todo os momentos, sua ferocidade foi motivada pela ideia de que negros ou quilombolas são raças inferiores à sua a ponto de serem desumanazidas. Sua fúria destilada foi incentivada pelo preconceito em mais alto grau.

Por isso, Alberan adota o estilo que os bolsonaristas tentam indulgir. Para estes, o comerciante apenas se envolveu em tantas discussões e desentendimentos que ocorrem no cotidiano. Na complacência a quem parece ter cumprido a missão em meio à doutrina de uma seita, seus parceiros fieis o absolvem. Afinal, o bolsonarismo permite excessos e absurdos, abominação e truculência, desamor e ausência de empatia.