Como Fátima se frustrou ao tentar trazer a vacina contra Covid para o RN?

Por William Robson

Correu uma imagem nas redes sociais de um casal pelado em meio à floresta, preparando alimento em fogueira de flepas. A foto vinha acompanhada da legenda: “É assim que eu imagino alguém que diz que vai boitocar os produtos da China”. Bem que Bolsonaro já poderia se candidatar a integrante da série “Largados e Pelados”. Afinal, ele tem ojeriza à China, a pretexto do seu alinhamento geopolítico com Trump, este à beira do abismo em seu projeto de reeleição.

Bolsonaro tem criado caso com os chineses, um dos maiores consumidores de produtos brasileiros. Desta vez, a questão envolve a vacina Sinovac, até agora, ao lado da Sputnik, a mais avançada em testes e estudos contra a Covid-19. O Governo brasileiro, à revelia de Bolsonaro, anunciou a compra de 46 milhões de doses deste imunizante. Ao tomar conhecimento, o presidente desautorizou a compra. “A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá”, justificou.

O Instituto Butantan, em São Paulo, fechou acordo para produzir a vacina no Brasil, o que motivou Bolsonaro a reforçar sua decisão. O governador João Dória é seu desafeto. Entre ideologias e vãs politicagens, sobrou para os potiguares que aguardavam pela vacina e pela possibilidade de um retorno a uma normalidade parecida com a que tivemos.

Na semana passada, a governadora Fátima Bezerra esteve em São Paulo para resolver questões de interesse do Estado, entre elas, a retomada dos voos da Azul e a compra de vacinas contra o coronavírus.

Com o fórum de governadora, ela teve contato com o ministro da Saúde Eduardo Pazuello, onde ficou certo que, a partir da aquisição das vacinas, o Rio Grande do Norte seria prontamente atendido. “Estávamos animados  com o desfecho da reunião com os governadores , inclusive com a participação do Instituto Butantan, da Fiocruz. Animados com a real possibilidade de aquisição da vacina.  Na quarta-feira fomos surpreedidos com o posicionamento descabido do presidente da República”, explicou o secretário de Tributação, Carlos Eduardo Xavier, que também participa do grupo de enfrentamento à covid a nível de Governo.

O Governo percebeu que o caso foi “ideologizado”, o que frustrou as expectativas de Fátima Bezerra. Em entrevista ao Foro de Moscow, Xavier explicou que se a vacina cumpre com suas finalidades, não importa de onde venha. “É um absurdo que a saúde pública do Brasil esteja sendo tratada desta forma”, comentou.  Mesmo assim, Fátima tem tentado outros meios de trazer a vacina para o RN. “A questão da saúde é muita  séria para ficarmos discutindo de onde a vacina virá”, acrescentou.

Ou seja, continuamos sem a vacina e se não houver qualquer tipo de atalho para driblar o boicote de Bolsonaro, os potiguares poderão ser os últimos imunizados. São Paulo já está avançando nesta questão, o que pode estimular o Consórcio Nordeste a tomar medidas autônomas em relação à postura do Governo Federal.

O Intercept, em sua edição do dia 25 de outubro, ressaltou que a “empreitada para boicotar a vacina talvez tenha sido o crime de responsabilidade mais evidente já cometido pelo presidente. Mais evidente e mais vil. Foi provavelmente o mais baixo degrau moral que um presidente já chegou. Estamos diante um atentado contra a saúde pública que, se confirmado, matará milhares de brasileiros”. E não podemos aceitar que os potiguares fiquem à mercê desta insensibilidade.