Eleições 2020

Como as pesquisas de opinião se tornaram instrumentos para induzir o eleitor em Mossoró?

Os institutos surgem nas eleições para atender a uma demanda, porque as sondagens tem potencial discursivo inegável. No entanto, a sua credibilidade dos institutos podem ser colocados à prova

Por William Robson

O dia da eleição vai se aproximando e a pesquisas de opinião pipocam. O que deveriam ser instrumento para analisar o momento da campanha, balizando as estratégias dos candidatos, tem se tornando em elemento importante de manipulação. As pesquisas, organizadas por institutos de baixo renome e disposto a atender o interesse do cliente, deixam o caráter de sondagem e se transformam por si mesma, na estratégia.

Quem acompanha eleições sabe que os candidatos costumam realizar pesquisas internas, que não alcançam o público. A partir destas sondagens, partem as deliberações e os reposicionamentos na campanha. Os números reais são guardados a sete chaves. Por outro lado, sondagens para inglês ver são publicadas, enviesadas como peça publicitária para induzir o voto dos indecisos.

A campanha de Mossoró começou com duas pesquisas antagônicas. Enquanto a atual prefeita Rosalba Ciarlini seguia na frente nas duas sondagens, a disputada pela vice-liderança apresentava o seu caráter simbólico. No dia 21 de agosto, o Instituto AgoraSei destacou Rosalba Ciarlini com 22,3% dos votos e colocou o deputado Allyson Bezerra em patamar de destaque diante dos demais candidatos da oposição, com 8,7%, frente a Cláudia Regina (3,7%) e a deputada Isolda Dantas (3,2%). Ou seja, nem se as duas candidatas se juntassem, alcançariam os níveis do deputado.

Por outro lado, quatro dias depois, o Instituto Sensatus apresentou sua pesquisa, a pedido da SuperTV. O que parecia ser um fenômeno do jovem parlamentar, os números apresentaram empate técnico, embolando a disputa do segundo lugar, todos na margem de erro:  Allyson com 14,98%; Cláudia Regina 12,94% e Isolda Dantas,12,13%.

Por isso, os institutos surgem nas eleições para atender a uma demanda, porque as sondagens tem potencial discursivo inegável.

Em quem confiar? Se levarmos a premissa em consideração que se baseia na frase-feita “pesquisa é uma fotografia do momento”, Isolda e Cláudia cresceram em velocidade mais intensa que Allyson, comparadas as pesquisas. Mas, como sabemos também, é regra de ouro não comparar pesquisas de institutos diferentes. Alegam técnicas e métodos díspares na checagem dos números, demonstrações que os eleitores, às vezes, não conhecem bem.

O Datafolha chegou a realizar levantamento para saber o poder de influência das pesquisas no voto. 14% dos entrevistados relataram, diante de uma indecisão, já terem definido em função dos resultados de pesquisas eleitorais (contra 81% que disseram não ter feito isso); 13% admitiram já terem mudado o voto ou deixado de votar levando em conta os resultados das pesquisas eleitorais (contra 87% que não). Há um poder no lançamento de pesquisa que induz as mentes indecisas e que constroi falsas realidades.

Por isso, os institutos surgem nas eleições para atender a uma demanda, porque as sondagens tem potencial discursivo inegável. No entanto, a sua credibilidade podem ser colocados à prova quando os resultados não se refletem nas urnas. Por exemplo, o mesmo Instituto AgoraSei apresentou tais discrepâncias. Nas eleições de 2016, em Tibau,o instituto colocava Carlinhos com 23,7% dos votos, mas ele obteve 44,77%. Em Cruzeta, cravou vantagem de 13,5% para Sally. Mas, nas urnas, a disputa foi mais apertada: 7%. Segundo o Blog do Barreto, uma nova pesquisa deste instituto foi registrada para ser divulgada no dia 16, através da Rádio Difusora, avaliando os candidatos de Mossoró. Por sua vez, a TCM publicará a sua sondagem no dia 19, em parceria com a Ts2 Soluções Empresarial LTDA.

Não se pode afirmar que os institutos se equivocam de forma deliberada. Muito provavelmente, os métodos aplicados podem apresentar números que diferem da realidade. Locais podemser  mais privilegiados que outros, grupos sociais determinados ouvidos com maior ênfase que outros. Não se quer dizer que a intenção é ludibriar o eleitor. Os candidatos sabem que o potencial de uma pesquisa é inegável quando percebe-se que o seu nome está em destaque. É o caso de Allyson  com o AgoraSei na primeira sondagem, cujos números são bem mais favoráveis que o levantamento da Sensatus.

O que se percebe é o que o jogo da campanha também é jogado com pesquisas ao gosto do freguês.Nascem para  estimular a militância e induzir votos. Nascem para apresentar cenários obtidos a partir de metodologias específicas e nem sempre eficientes. E neste ambiente, as sondagens desempenham papel importante no debate político, enquanto as pessoas ficam questionando se elas devem ser confiáveis ou não.