Como a queda de Weintraub pode garantir a nomeação de Rodrigo Codes, o mais votado?
Com a saída certa de Weintraub, a mudança na pasta pode resvalar na nomeação do novo reitor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), cujas motivações de escolha podem observar mais os fatores democráticos da consulta do que os ideológicos
A queda do ministro da Educação, Abraham Weintraub, é certa. A pressão em torno dele torna a situação insustentável. A cada dia que permanece no cargo, o antes “indemissível” auxiliar do presidente Jair Bolsonaro, gera mais constrangimento ao Governo. Em meio aos conflitos entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Governo, o ministro jogou mais gasolina na fogueira, quando, no domingo (14), se encontrou com manifestantes bolsonaristas em ato antidemocrático, além de desrespeitar a ordem que proibiu protestos na Esplanada dos Ministérios. O episódio levou Bolsonaro a considerar Weintraub um “problema”.
A pressão só aumenta com as ofensivas do STF aos bolsonaristas, às operações da Polícia Federal, à popularidade do governo em queda e a falta de apoio no Congresso. Para piorar, por 9 a 1, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter nesta quarta-feira (17), o ministro na mira do inquérito que apura ameaças, ofensas e fake news disparadas contra integrantes da Corte e seus familiares, segundo informa o jornal O Estado de S. Paulo.
Também nesta quarta, a coluna Painel do jornal Folha de S. Paulo, aponta os bastidores que colocam a saída de Weintraub como algo que não mais se discute. É uma saída certa. A questão é que não se sabe ainda quem irá substituí-lo. O recém-empossado ministro das Comunicações, Fábio Faria, um dos apoiadores da saída de Weintraub, em conversa com deputados, ressaltou que Bolsonaro não voltará atrás e já bateu o martelo da demissão. “Faria justificou seu posicionamento por estar em busca de pacificação entre as instituições”, acrescenta a nota.
Portanto, se a saída está certa e tende a ser rápida, a mudança pode respingar na nomeação do novo reitor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), cujas motivações de escolha podem observar mais os fatores democráticos da consulta do que os ideológicos. Isso porque, em derredor, o Centrão busca o controle total do ministério com um dos maiores orçamentos do Governo. O grupo que troca cargos em forma de apoio, barganha para evitar que Bolsonaro responda a processo de impeachment, já detém praticamente a metade do ministério, onde administra o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Mas, como sabemos, é insaciável.
Caso o Centrão ocupe o Ministério da Educação, Bolsonaro terá baixa ingerência na pasta, ao contrário do que ocorre nos tempos de Weintraub. Por razão simples: o presidente se tornará refém dos deputados do bloco, sobretudo, para as pautas mais cruciais que aportarem no Congresso. E se o Centrão garantir a autonomia que se prevê no ministério, as condições de nomeação de reitores poderão ser amplamente modificadas.
O Centrão é mais político que ideológico. Menos radical e com perfil mais técnico. No caso específico da Ufersa, não haverá motivos de nomear outro da lista tríplice que não seja o mais votado pela comunidade acadêmica, neste caso, o professor Rodrigo Codes. Primeiro, pela posição que logrou na consulta. Segundo, pela expressiva votação que obteve, com 35,55%. Terceiro, por não demonstrar qualquer tendência ideológica, sobretudo de esquerda, durante a campanha. A rigor, não se pode cravar o Codes como representante da ala progressista. Aliás, nenhum dos três se apresentou com posicionamentos críticos às políticas universitárias e aos ataques do Bolsonaro às instituições de ensino superior. Por motivos óbvios.
Assim, um dos nomes do Centrão mais cotados para a pasta é o de Mendonça Filho, do DEM, ex-ministro da Educação de Temer. Ele tem recebido apoio de nomes importantes, segundo informou a jornalista Sonia Racy, do Estadão. No entanto, olavistas e uma ala do próprio DEM, incluindo o presidente da Câmara Rodrigo Maia, são contra. Na esteira para ocupar a vaga, ainda aparecem o pró-reitor da FGV, Antonio Freitas, o economista Ricardo Braga, secretário no MEC, e o atual diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos.
Por outro lado, se Bolsonaro preferir desprestigiar o Centrão neste sentido, correndo riscos à sua sobrevivência e sugerindo nome tão radical e de linha ideológica impiedosa como Weintraub, o sujeito que emerge é o secretário nacional de Alfabetização, Carlos Nadalim. Ele é daqueles que seguem o tal “guru” bolsonarista Olavo de Carvalho e é defensor do homeschooling. O nome agrada os bolsonaristas que babam ódio.
Porém, o presidente tem pouca margem de ação para atender aos seus interesses e dos seguidores da sua seita. Vai precisar conversar com o Centrão, inevitavelmente. No entanto, tudo se torna imprevisível quando se fala em governo Bolsonaro. E nesta confusão, a Ufersa assiste ao seu futuro.