Como a Aceu chegou ao abandono
O prédio foi construído nos anos 30 para auxiliar no trabalho amador do time de futebol. E foi crescendo até começar a derrocada nos anos 60/70
Por William Robson
O Clube Aceu, antes das ruínas em que se encontra atualmente, foi palco de muitas alegrias. Antes denominado Ipiranga, o clube abrigava os ricos da época em grandes festas.
O prédio foi construído nos anos 30 para auxiliar no trabalho amador do time de futebol. E foi crescendo até começar a derrocada nos anos 60/70.
Quando o Ipiranga perdeu o seu glamour de outrora, o prédio ficou praticamente abandonado. Até que dois convênios passaram o patrimônio do extinto clube de futebol para a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern).
A sociedade mossoroense acreditava que a entidade, passando para a Uern, seria soerguida e as atividades socioculturais retomadas.
No inicio, parecia que iria dar certo. Até meados dos anos 80, atividades culturais e recreativas aconteciam com frequência, mas os anos 90 marcaram um triste capitulo na história do clube.
O prédio for abandonado e hoje serve apenas de depósito de material, arquivo e como sede do Sindicato dos Funcionários da Uern (Sindifurrn).
O abandono é tanto que no inicio deste ano parte do pavimento superior caiu e deixou os funcionários apreensivos.
Foi feita uma inspeção e constatou que o prédio não poderia ser utilizado por não oferecer segurança Mas o atual reitor da Uern, Walter Fonseca, parece não se importar.
Acervo: jornal Gazeta do Oeste
Agradecimento: Rádio Difusora
Clube surgiu para reforçar time de futebol
O clube Ipiranga é um dos mais tradicionais de Mossoró. O historiador Ra imundo Soares de Brito relembra os momentos das grandes festas e bailes pro- movidos no local onde hoje funciona a Associação Cultural e Esportiva Universitária (Aceu).
O lugar abrigava festas grandiosas e chegou a ser reduto da aristocracia mossoroense. Mas o que levou ao surgimento da Aceu foi mesmo o futebol. “Existia uma rivalidade entre dois clubes importantes na época: o Ipiranga e o Humaitá”, disse o historiador. Ambos não existem mais.
Do Ipiranga, restam apenas escombros da sede social, que estão à disposição da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern).
Um dos socios-fundadores, Enéas Negreiros, em entrevista à GAZETA, disse desconhecer as fórmulas de como todo o patrimônio passou para o nome da Uern, sem que os mais de 200 associados tomassem conhecimento.
Com a rivalidade no futebol, os diretores do clube resolveram, então, montar a sua sede. A principio, o futebol praticado pelo Ipiranga era considerado amador. O time não fazia parte do esquema profissional, nem seus jogadores tinham remuneração, mas o sonho de levantar uma sede social era grande, principalmente pelos dirigentes.
Houve uma certa facilidade de levantar o empreendimento. Os diretores do Ipiranga eram empresários respeitados e detentores de influência na sociedade.
Antes, o clube funcionava num prédio alugado na Praça da Redenção, mas o sonho de ver o Ipiranga um time profissional era grande. A Prefeitura apoiou a iniciativa, doando o terreno. “O padre Mota foi um dos grandes responsáveis pela construção do clube”, disse Raimundo Soares.
Enéas Negreiros explicou que a empreitada para levantar o Clube Ipiranga recebeu o apoio de pessoas como Dix-neuf Rosado, Pedro Fernandes Ribeiro e Manoel Fernandes Negreiros. “Eles se mostraram muito solícitos para apoiar a iniciativa”, comentou.
Prédio foi construído por forte patrocinador
O padre Mota doou o terreno para a construção do clube Ipiranga. Este clube, antes funcionando num prédio alugado, estava com mais de duzentos sócios cadastrados, e isso mostrava a importância que era não apenas para o futebol amador, mas para o entretenimento mossoroense.
Com a doação, seriam necessárias as campanhas para arrecadação de mate- rial de construção para levantar o prédio. Alguns abnegados começaram, então, a pedir apoio. Até mesmo os alto-falantes, muito utilizados no início do século.
Mas os apoios não eram suficientes para tocar a obra adiante. Até que o empresário Badeu Fernandes de Negreiros foi contatado.
Badeu era representante das Tintas Ipiranga em Mossoró. Ele e um grupo de abnegados do Ipiranga.
Usaram um argumento que pesou muito na hora de fechar o negócio: o clube existia em função da marca da tinta. O patrocínio foi fechado e doado uma grande quantidade.
A doação foi tão grande que apenas 20% das tintas davam para pintar todo o prédio. Os 80%, segundo Enéas Negreiros. foram vendidos e transformados em material de construção. O clube ficou pronto em meados dos anos 30.
Cessão à universidade é questionada por ex-sócios
Um dos fundadores do Clube Ipiranga, Enéas Negreiros, em reportagem publicada na GAZETA no final do mês passado, questiona a forma como o antigo clube Ipiranga passou a ser propriedade da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern). “Não recebi qualquer comunicação como sendo um dos sócios. Nem eu, nem ninguém”, disse.
Na época da transição, nos final dos anos 70, o Ipiranga contabilizava mais de 200 sócios, mas o clube vivia momentos difíceis por causa da fracassada administração.
Assim, os projetos culturais do Clube Ipiranga foram se enfraquecendo até chegar ao abandono do prédio.
Não parecia mais o Ipiranga dos anos 50 com as grandes festas e carnavais e a forte concorrência com a ACDP e AABB.
O presidente da Associação dos Docentes da Uern (Adfurrn), Carlos Filgueira, disse que a entidade vai se mobilizar para que o prédio – agora abandonado pela atual gestão da Uern – possa ser reformado. “E lamentável o estado em que se encontra o clube Aceu atualmente”, desabafou Carlos Filgueira
Segundo ele, que acompanhou o processo de cessão da estrutura do Aceu para a Uern, a sociedade local acreditava que a universidade pudesse zelar pelo patrimônio e reativar as atividades cultural e esportiva do clube. “Infelizmente isso terminou não acontecendo”, relatou.
Adfurrn protestará contra o abandono da Uern
A Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Adfurn) vai mobilizar a categoria para pressionar o reitor Walter Fonseca a iniciar os trabalhos de restauração do prédio da Aceu.
A última recuperação no edifício foi em 85, quando o processo de revitalização estava em andamento e o Diretório Acadêmico e outras entidades trabalhavam com atividades sociorecreativas no clube. Mas na década de 90 a Aceu não recebeu mais incentivo algum. Pelo contrário. Tornou-se um prédio abandonado, que mais serve de dispensa que para a sociedade mossoroense.
No inicio, as pessoas achavam que a Aceu serviria como antigamente, para festas e atividades culturais, mas não for isso que aconteceu. Agora, a Aceu é tratada com desdém”, disse o presidente da entidade Carlos Filgueira.
A Adfurm prepara um documento protestando contra o abandono. “Não se pode deixar um prédio daquele cair. Deveria ser tombado como patrimônio histórico. Ele existe há mais de 60 anos e conta uma história bonita de Mossoró, relata Filgueira. “Estamos prontos para encampar a luta. Não entendo por que os dirigentes da Uem não se importam com as tradições da Aceu, se é deles a responsabilidade”.
Sociedade confiou que Uern zelaria Aceu
O Clube Ipiranga estava mal das pernas nos anos 70, e a administração do clube era considerada desastrosa. Não havia mais atividades culturais no local e, aos poucos, tudo foi ficando abandonado.
Até que um convênio entre o clube e a então FURRN for assinado pelo reitor da época, João Batista Cascudo Rodrigues, para administrar a quadra de esportes, no fundo do clube.
Alguns anos depois, o convenio se estendeu a todo o prédio. Os sócios não foram comunicados do convênio, nem houve uma assembleia para definir o destino do Ipiranga, mas mesmo assim o acordo for fechado. Segundo um dos sócios na época, o professor Carlos Filgueira, a sociedade mossoroense acreditava que o Ipiranga pudesse ser revitalizado e voltar as movimentações de outrora.
“O convenio com a universidade era considerado como algo bom para quem não queria ver as tradições do clube morrerem”. disse ele. No inicio, o Aceu foi revitalizado, mas aos poucos foi esfriando, até ser definitivamente abandonado.
Prédio está em ruínas
O prédio da Associação Cultural e Esportiva Universitária (Aceu) está em ruinas. O edifício, que não recebe manutenção desde 85, pode a qualquer momento vir abaixo.
E, com ela, toda a história da cultura local, do esporte e de atividades, como os da Luízas de Marilac – que promoviam eventos para angariar fundos para os pobres e idosos
Em maio, a parte superior caiu e o laudo constatou que o prédio não tem condições de uso. Mas isso parece não intimidar o reitor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Walter Fonseca.
Mesmo sabendo da ameaça da parte superior cair novamente, os funcionários do Sindicato dos Funcionários da Uern (Sindifurrn) continuam trabalhando normalmente, é claro, apreensivos.
Vice-reitor diz que instituição espera Governo
O vice-reitor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Lúcio Ney, disse que o “abandono” do clube Aceu não é mais problema da instituição. Segundo ele, foi enviado um documento à Secretaria Estadual de Infra-estrutura relatando todos os problemas na estrutura do prédio.
Em maio, parte do andar superior do Aceu veio abaixo. Daí, o reitor da Uern, Walter Fonseca, determinou a inspeção do prédio. Foi constatado que caiu por falta de manutenção. “Pessoalmente fui a Natal entregar os laudos sobre o Aceu”, disse o vice-reitor. No laudo, ficou constatado que a parte superior não tinha as mínimas condições e que precisa de reforma urgente.
“Até o momento não há uma sinalização de quando será”, disse Lúcio Ney, acrescentando que um engenheiro fez todo levantamento dos curso da reforma, mas o valor não foi fornecido. “O prédio está sem condições”, garante. Mesmo com o perigo iminente, não houve qualquer interdição, e os funcionários da Uern continuam trabalhando normalmente.
Na Aceu, funciona o Sindicato dos Funcionários da Uern, o arquivo e o almoxarifado. “A situação é pior porque não temos recursos”, disse Lúcio Ney.