As sequências de agressões de um professor bolsonarista na Ufersa
O professor Valdir Fonseca é um abnegado defensor da política beligerante do Governo Bolsonaro. Os estudantes, ao aguardar o conteúdo da disciplina, são testemunhas de sucessivas hostilidades e ataques gratuitos, que vêm de muito tempo
Por William Robson
A aula de Zootecnia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) é momento de apreensão e medo. O professor Valdir Fonseca, docente há quase 40 anos na instituição, guarda histórico de assédio moral, agressões verbais e desrespeito com os alunos de sua disciplina, segundo os próprios. Os ataques são constantes, sempre silenciados. A situação mudou no final de semana.
O professor Valdir é um abnegado defensor da política beligerante do Governo Bolsonaro. Seu apologismo invade as aulas e os alunos são obrigados a perder tempo ouvindo-o. Os estudantes, ao aguardar o conteúdo da disciplina, são testemunhas de sucessivas hostilidades e ataques gratuitos.
“Nós temos relatos de denúncias de abuso moral contra ele há 40 anos atrás”, diz Giulia Guimarães, durante a transmissão do programa Foro de Moscow, que destacou as últimas atitudes do professor Valdir.
Sentindo-se livre nas agressões que não alcançam os conselhos deliberativos da Ufersa, Valdir aproveitou a aula de zootecnia para elogiar o Governo Bolsonaro. “Nestes dois anos (de Governo Bolsonaro), os roubos cessaram ou diminuíram”, argumenta em aula remota (veja o trecho abaixo). Até aí, elogiar algum político não é crime algum, não há nada de errado nisso. E continua. Segundo ele, “todas as estatais brasileiras davam prejuízo e depois que Bolsonaro assumiu, todas deram lucro”. Diante de sua explanação bolsonarista, Valdir foi interrompido por uma aluna, que decidiu não esticar as palavras de louvor ao presidente.
“Professor, a gente ainda vai apresentar o trabalho hoje?”, questiona a estudante Gabrielli de Oliveira Silva. A pergunta foi capaz de transformar o professor, que iniciou a pancadaria verbal. “Vai mais não, mocinha. Se é porque estou falando de Bolsonaro, não se sinta incomodada…”, afirmou o professor, imediatamente retrucado. “Eu me sinto”, respondeu a aluna. “Então se quiser sair, pode sair”.
Valdir não para com a sua aula de bolsonarismo, faz defesas enfáticas ao criticar posturas que, de acordo com seu pensamento, tudo seria válido, desde que tirassem o presidente do poder. Porém os alunos não demonstram disposição para servir de audiência para seu proselitismo. “Desde terça-feira a gente está tentando apresentar o trabalho sobre raças de caprinos e ovinos”, lembra a aluna para um professor que não se recordava da atividade previamente agendada. “A gente tá aqui falando de Bolsonaro, quando poderíamos estar este tempo todinho…”, diz a estudante, interrompida com a resposta agressiva do professor, no intuito de ganhar a discussão no grito.
“Eu falo o que eu quiser, tá bom? A aula é minha. Quanto a apresentação do seu trabalho, eu não ia deixar apresentar. Conta isso? Pronto, tá contado. Eu vou te dar uma sugestão: você arranje problema com Deus, com o mundo e com a Paróquia de São Raimundo, não arranje comigo, não, poque não é bom”, diz o docente, em tom ameaçador.
A estudante mantém a tranquilidade diante da sequência de agressões. A coordenação do Diretório Central dos Estudantes, diante do episódio, comentou que “até o presente momento as autoridades da universidade ainda não se pronunciaram. O DCE Romana Barros, assim como diversos estudantes, já solicitaram o afastamento imediato do docente da disciplina”.
Outra estudante Ylana Monise, durante a transmissão do Foro, revelou que trancou a matéria de Zootecnia Geral por conta das atitudes corriqueiras e intempestivas do professor. “Justamente porque não me senti bem, vocês acreditam?”, pergunta. Vale destacar que circulam nas redes sociais outros vídeos de ataques do docente.
Alunos do professor Valdir vivem um dilema. Enfrentar a fúria do professor bolsonarista, com suas aulas insultantes e constrangedoras, ou adiar o sonho de obter o diploma de ensino superior. Decisão difícil que afeta sonhos e esperanças de dezenas de jovens e de suas famílias. Na relação hierárquica, onde o respeito, o diálogo e o entusiasmo deveriam emanar de docentes comprometidos, os alunos veem em seus professores exemplos a seguir no ofício que escolheram e se dedicarão a exercer.
Claro que o modelo do professor Valdir e seus rompantes de intemperança não é espelho para uma sociedade que busca a civilidade. Pelo menos, a que não compactua com o seu ícone máximo e pelo qual digladia sozinho em sala de aula. E mesmo remotas, as aulas conseguem imprimir cicatrizes em seus alunos deixadas com a força de suas investidas grosseiras.