Combate à homofobia

As náuseas, nojo, asco e repugnâncias de um advogado homofóbico no Whatsapp

A segunda-feira (29), um dia após as celebrações da comunidade LGBTQI+, um integrante do grupo “Advogados Mossoró/RN” disse estar com “náusea, nojo, asco e outros espasmos de repugnância”. O que teria provocado tanta ojeriza a este que deveria promover o Direito?

Diversas manifestações para debater a representatividade LGBTQI+, o combate à discriminação e enaltecer a luta por direitos dos homossexuais foram marcadas no domingo (28). Dia de celebração da igualdade e do amor, enquanto o esgoto ferve até expelir o ódio daqueles que não perderiam a oportunidade de expor o seu lado mesquinho. Isso seria até previsível no universo fascista que ganhou forte espaço nos últimos tempos. O inesperado é quando vêm daqueles que deveriam promover o direito, sobretudo, os direitos humanos.

Desde o ano passado, os ministros do Supremo Tribunal Federal consideraram que atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais devem ser enquadrados no crime de racismo, previstos na Lei 7.716/1989. Isso colocou o Brasil como o 43º país a criminalizar a homofobia, segundo o relatório “Homofobia Patrocinada pelo Estado”, elaborado pela Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais.

A segunda-feira (29) amanheceu com a notícia de que o advogado José Marle de Lucena estaria com “náusea, nojo, asco e outros espasmos de repugnância”. O que teria provocado tanta ojeriza a este que também foi candidato a vice-prefeito de Mossoró nas eleições de 2012? Não, ele não estava criticando atos de preconceito contra a comunidade LGBTQI+. Pelo contrário, estava fazendo coro a tais manifestações no grupo de Whatsapp chamado “Advogados Mossoró/RN”.

O vocabulário de Marle é o mais subterrâneo e raivoso, resultado de reação à pesquisa da Comissão de Diversidade Sexual da OAB/RN, que aproveitou a data para levantar sondagem sobre a temática. Entretanto, o advogado assim atacou: “Vem com estes “ouriços” querer saber quem é contra ou a favor de quem queima os “carreteies”. Ora  vão procurar o que fazer (sic)”. Em seguida, traz aqueles chavões bolsonaristas que mais revelam o espírito de desprezo do ser humano e do seu direito à individualidade e à liberdade, evocando bravatas do tipo “família, educação, segurança e combate à corrupção”. Só ficou faltando fazer o sinal da arminha.

Um professor do meu tempo de mestrado na UFRN me falou uma vez que o discurso é tão poderoso que não há quem controle o seu poder. Se qualquer pessoa se colocar como dissimulado para a sociedade, um dia seu real espírito de porco sobressairá. Se as pressões ou situações forem consideradas adequadas, a sua real faceta será desnudada e tudo que fingiu por toda a vida cairá, restando a sua essência genuína. Talvez, o advogado supôs que estaria com grupo de colegas compactuado com sua atitude. Mas, não foi o que aconteceu.

Logo o seu relato no whatsapp saltou dos muros do grupo, em forma de denúncias veementes de seus colegas de profissão. A repercussão foi tanta que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seções RN e Mossoró, precisou agir em tempo recorde. Emitiu nota rápida para evitar que os estilhaçados da insensatez e da brutalidade atingissem a entidade. A nota é um enunciado de repúdio contundente, porém a questão que fica neste episódio é se irá além do corporativismo: Será que vai parar por aqui?.

Pelo jeito, não irá parar. A nota ressalta que “os fatos estão sendo apurados desde que a Comissão tomou conhecimento, em conjunto com a Comissão de Diversidade Sexual da OAB/RN, para que todas as medidas administrativas, civis e criminais sejam tomadas”.

É verdade que não foi a OAB a responsável pela intempestividade do advogado. Daí, o procedimento para que a repercussão de tal atitude pueril invadisse a entidade. No entanto, não dá para dissociar a relação da ordem com seus associados.

Ou seja, tanto a Ordem quanto a suas comissões envolvidas estão diante de evidente ato homofóbico dentro da própria entidade que representa. Afinal, a OAB Mossoró não é o prédio da Nova Betânia, e sim, a composição de todos os filiados, relação sinérgica que se mistura e se confunde. É necessário ver até onde a repulsa da entidade será efetivamente capaz de neutralizar qualquer avanço homofóbico entre associados que debocham publicamente sem temor, nem desembaraço sobre temas de alta relevância. Isso, sim, dá náuseas, nojo, asco e espasmos de repugnâncias.