Música

As minhas duas experiências mais próximas de Rita Lee

Um show percebido na última hora e uma conversa com o baterista da rainha do rock

Por William Robson

Rita Lee passou pelo menos dez anos sem repetir o feito artístico dos seus primeiros anos, referente à repercussão. Entre 1987 e 1997 lançou trabalhos criativos, bem produzidos, mas ofuscados com a invasão de bandas nacionais que minavam naquele período. Até que o “Acústico MTV”, de 1998, resgatou e repaginou o som desta deslumbrante roqueira.

Poucos anos depois, em 2004, Rita Lee fecha novo projeto com a MTV. Lança o DVD “MTV Ao Vivo – Rita Lee” e, a partir daí, a rainha do rock se reconfigura, revigora, enrobustece o rock que descia à sarjeta por força de vertentes musicais surgidas da época que sobrepunham na indústria fonográfica.

Enquanto isso, eu segui acompanhando a Rita Lee. E, alguns anos mais tarde, tive duas experiências bem próximas dela. A primeira foi em 2010, motivado pelas constantes audições do álbum ao vivo e apreciador do estilo do baterista Claudio Infante, que tocou no projeto. Ele esteve em Canoa Quebrada para acompanhar o show de sua esposa, a jazzística Taryn. Estávamos eu e o guitarrista Allyson Brazuka no saguão do hotel à espera de Infante. Eu empunhava o  CD solo do batera, de título homônimo.

Meu encontro com o baterista da Rita Lee, na fase do “Ao Vivo MTV”, Cláudio Infante, em Canoa Quebrada, em 2010

Não demora muito, ele aparece, a gente se apresenta. Ele fica admirado quando vê o disco, autografa e pede para a gente entrar na van com ele. No caminho, não perco a oportunidade. Começo a fazer uma entrevista informal sobre sua carreira de quando elaborou a levada de “Oceano”, de Djavan, ao lado de Cazuza durante as gravações do álbum “!deologia” e, mais recentemente, da série de shows com a Rita Lee.

Ele me disse: “Imagine vocês, músicos, passar a vida ouvindo seu ídolo e, de repente, ser o baterista dele”, disse Infante. “É algo inexplicável”. É provável que o disco que gravou com a Rita não esteja disponível no Youtube, mas coloco um trecho de como Rita Lee via o Infante neste show.

“Na bateria, uma outra lenda, este menino que toca pra caramba, o melhor baterista do Brasil, sem dúvida: Claudinho Infante”, disse a Rita no DVD.

Noutra oportunidade, no ano seguinte, em 2011, matinha uma rotina de enfrentar a estrada para Natal duas vezes por semana, às terças e sextas-feiras, para as atividades no mestrado na UFRN. No dia 16 de novembro, chego pela manhã na universidade e meu colega de muitos anos, contemporâneo de pós-graduação Tobias Queiroz, me avisa do show da Rita naquele dia. Eu, com a passagem de volta para Mossoró depois da aula, não hesitei em ficar. Liguei para a minha esposa, Janaína, para que pegasse o próximo ônibus com destino a capital e a encontrei poucas horas depois na parada de Neópolis.

Fomos então ao teatro Riachuelo. Comprei os ingressos de última hora. O bom é que tinha cerveja no show. O teatro estava lotado, com uma galera down do high society nas cadeiras logo acima e nós em área à beira do palco. A turnê  “ETC…” foi a última da roqueira. Todos os clássicos, inclusive a meia dúzia de sucessos que os “novos fãs” da necrofilia da arte conhecem, ela cantou. Lembrei de um Ozzy Osborne já com idade avançada se transformando em explosão no palco, tamanha a sua postura. O filho Beto, que participou do acústico e o parceiro da vida, Roberto, também estavam lá.  E a qualidade do som impressionava. Parecia um CD em termos de definição.

Depois deste show, teve a emblemática apresentação em Sergipe. E jamais voltaria a fazer shows. Foi um privilégio inesquecível para mim testemunhar este momento único. E, agora, Rita Lee nasce para viver amanhã e sempre.