Vacinação

Após uma semana, como está a vacinação contra a Covid em Mossoró?

Uma semana se passou e o andamento da vacinação segue dentro de um cronograma que não depende tão somente da Prefeitura. Entenda por quê.

Por William Robson

Há uma semana, a enfermeira Raimunda Clézia Cavalcante da Silva, de 60 anos, se transformou em símbolo do início da imunização em Mossoró. Em evento especial, que contou com a presença do prefeito Allyson Bezerra, da secretária de Saúde, Morgana Dantas, e do presidente da Câmara Municipal, Lawrence Amorim, o ato abriu o ciclo de esperança no combate à pandemia na cidade.

A enfermeira Raimunda Clézia Cavalcante, a primeira ser vacinada em Mossoró, ao lado do prefeito Allyson Bezerra e da secretária Morgana Dantas

Naquela cerimônia, a enfermeira da Unidade Básica de Saúde (UBS) da Estrada da Raiz, fez um discurso emocionado. “Era um sonho de todos nós profissionais de saúde. Não existe tratamento, só existe tratamento paliativo. Peço que a população contribua porque muitas vidas já foram embora”, disse ela, irmã de médico vítima do vírus.

Uma semana se passou e o andamento da vacinação segue dentro de um cronograma que não depende tão somente da Prefeitura. Sim, o trabalho é coordenado com o Governo do Estado e o Governo Federal. E a Prefeitura é a ponta final do processo, pois a ela cabe, efetivamente, a aplicação da vacinação nas pessoas. Portanto, o Governo Federal adquire os imunizantes, o Estado distribui para os municípios, que por sua vez, vacinam.

No dia em que Raimunda Clézia foi imunizada, Mossoró recebera 3.981 doses da vacina contra a Covid-19, a produzida pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês Sinovac. As doses do lote inicial foram destinadas aos profissionais de saúde e aos idosos “institucionalizados”, aqueles que moram em abrigos. Como sabemos, a quantidade de vacinas enviadas neste primeiro momento não atende, nem de longe, à totalidade da população, em torno de 300 mil habitantes – sendo assim, necessárias 600 mil doses. Por isso, o critério das prioridades foi implantado.

Desta forma, foi necessário também impor um trabalho rigoroso para impedir a astúcia dos fura-fila (fortemente atuantes na capital).  Fazer valer que a vacina também destinada a 79 idosos no Instituto Amantino Câmara e do Hospital Psiquiátrico São Camilo, não fosse interceptada por oportunistas.

Idosa recebe dose de vacina contra a Covid no Instituto Amantino Câmara. Foto: Célio Duarte/PMM

Mas, até agora, tudo tem dado certo. A secretária Morgana Dantas relatou que houve festa com a chegada do imunizante no abrigo. “Fomos muito bem recebidos e teve festa dos idosos, que agradeceram a Deus a oportunidade, de nesse momento, estarem sendo vacinados e não terem a doença até aqui. Uma felicidade imensa com essa idade conseguir essa vacina e daqui para frente ter um pouco de esperança de chegar a contrair a doença”, relatou a secretária.

Até então, a crise diplomática do Governo Bolsonaro com as nações detentoras da vacina ameaçava o ritmo de vacinação no país e, por consequência, em Mossoró, a ponto de a Prefeitura não ter estabelecido cronograma efetivo de vacinação. Afinal, sem saber ao certo quando novos lotes desembarcariam por aqui, qualquer programação seria em vão.

Mossoró se aproxima das 300 mortes por coronavírus. O relatório do Lais/UFRN mostra que foram 287 até esta segunda-feira (25) e 12.266 casos confirmados. Quase um terço dos casos se concentram nos bairros Aeroporto, Centro e Abolição. E no momento em que a pandemia não arrefeceu, os casos de internação seguem preocupantes. Não há outra saída, senão a vacina.

A governadora Fátima Bezerra, quando recebia as doses da vacina Astrazeneca

O ritmo lento dos repasses dos lotes e até a falta de perspectiva de quando chegariam, foram sobrepostos com a boa notícia do início de semana. O RN recebeu, no domingo (24), 31,5 mil doses da vacina produzida em parceria pela Astrazenica e a Universidade inglesa de Oxford, importadas da Índia e enviadas ao Estado pelo Ministério da Saúde. A governadora Fátima Bezerra foi pessoalmente receber as vacinas no aeroporto.

Deste total, Mossoró receberá mais 4100 doses da Astrazenica e outras 352 doses do segundo lote de vacinas Coronavac (Sinovac/Butantan). Logo, o esquema de vacinação seguirá sem interrupções. A secretária de Saúde explicou que quer manter o mesmo compasso.  “Assim que chegar, faremos a oferta para o restante dos profissionais hospitalares que não foram vacinados na semana passada. As demais doses, distribuiremos para as unidades básicas que contemplarão desde o agente comunitário de saúde até o médico”, informa.

As doses ainda não chegaram, porém, já sabe o que fazer com elas dentro da fase 1 da vacinação. Espera-se que o afago que Bolsonaro tem feito com a China nos últimos dias, tendo de engolir o seu próprio discurso antidiplomático, surta o efeito a ponto de sensibilizar a China e a Índia a não interromperem tanto o repasse da vacina quanto dos insumos para a produção da coronavac no Brasil.

Nem que para isso, o presidente do Brasil tenha reconhecido suas asneiras e apelado de joelhos. “A Embaixada da China nos informou, pela manhã, que a exportação dos 5,4 mil litros de insumos para a vacina Coronavac foi aprovada e já estão em área aeroportuária para pronto envio ao Brasil, chegando nos próximos dias  Agradeço a sensibilidade do governo chinês”, afirmou. Nada como um dia após o outro.