Projeções

“Ainda não estamos no pico da pandemia no RN”, diz cientista

O professor da UFRN, José Dias do Nascimento, que atuou no comitê científico que fornece projeções ao Governo do Estado afirma que quadros ainda mais trágicos estão por vir

Por William Robson

Pode acreditar: não estamos no fundo do poço em relação à pandemia. Mesmo com as mais de quatro mil mortes registradas  no RN e 19 hospitais sem vagas de UTI ainda não alcançamos a o pior momento. O professor da UFRN, José Dias do Nascimento, que atuou no comitê científico no fornecimento de projeções ao Governo do Estado afirma que quadros ainda mais trágicos estão por vir. Hoje ele está no comitê do Nordeste.

Em entrevista ao programa Foro de Moscow, o cientista esclareceu que estamos vivendo a segunda onda da Covid, ignorada pelos governantes do RN. Para ele, faltou compreender os aspectos científicos que apontavam para a onda mais acentuada após o fim do ano e o carnaval. “A questão não é onde começa a segunda onda ou termina a primeira. Nós tivemos dois picos característicos e nesta segunda onda, sabíamos que seria mais grave que a primeira”, explica o professor.

A segunda onda se revela mais poderosa não apenas pela mutação do vírus, porém, soma-se à estrutura de saúde mais enfraquecida e à exaustão dos profissionais da linha de frente. Assim, a evolução no número de casos e o colapso iminente se tornam possibilidades reais.

O médico Alexandre Mota já havia alertado para o risco do RN estar à beira da crise sanitária. Essa situação se agrava porque os decretos não consideram a gravidade do quadro pandêmico no Estado, visto que precisa considerar fatores econômicos e o Estado não tem condições fiscais de decretar fechamentos mais rígidos. “Chamo o decreto de 5 de março de chover no molhado”, disse o professor José Dias.

Dias defendida fechamento mais rigoroso. “Eu defendia que o decreto do dia 5 mantivesse tudo fechado por 21 dias, período importante para quebrar a transmissibilidade. E, digo mais: nenhum empresário e nem o vendedor de cachorro-quente iria falir. Ele iria se proteger por 21 dias. O que foi apresentado foi um paliativo”, afirma.

A pandemia no RN deve se prolongar diante de decretos que não atingem a problemática de maneira efetiva. “O novo decreto como vinha sendo discutido não iria resolver. Por uma questão simples: a transmissibilidade não respeita a movimentação intermitente. Dessa forma, as pessoas vão cansando, muitas vão morrendo. Uma coisa é certa: ainda não estamos no pico. É urgente que o novo decreto restrinja durante 21 dias toda a circulação de pessoas”, recomenda.

Para o cientista, há uma “guerra de forças” para que tal medida não seja chamada de “lockdown”. Buscam um eufemismo. No entanto, 21 dias, para ele, seriam importantes para garantir certo respiro no sistema de saúde. “Por isso, os empresários que estão contra, que querem que se abra tudo a todo custo, estão dizendo em outras palavras: `Nós não queremos saber dos consumidores do nosso produto. Nós queremos saber do dinheiro que eles têm no bolso`”, concluiu.