A última edição impressa de “The Independent” e os sinais de um novo jornalismo
Já imaginou em algo mais anacrônico que produzir jornal de papel nos dias atuais? Manter duas estruturas caras (redação e gráfica) para imprimir notícias no papel que será jogado pela porta da casa das pessoas? E o que pior, em índices de audiência cada vez menores?
E o jornalismo vai emitindo sinais de que é preciso transformação. E esta transformação não passa pelas antigas formas de difundir informação. A Folha de S. Paulo noticia que jornal britânico “The Independent”, cujas vendas desabaram nos últimos anos, aparece este sábado (26 de março) pela última vez em papel —a partir de agora apostará exclusivamente numa versão digital para enfrentar a crise da imprensa
Já imaginou em algo mais anacrônico que produzir jornal de papel nos dias atuais? Manter duas estruturas caras (redação e gráfica) para imprimir notícias no papel que será jogado pela porta da casa das pessoas? E o que pior, em índices de audiência cada vez menores?
Ou seja, não parece compensar em manter tal estrutura para meia dúzia de nostálgicos (sabemos que os novos leitores não se informam pelo jornal impresso). Tão anacrônico quanto o modelo, estão publicitários e ou campanhas de publicidades que buscam ações efetivas neste tipo de formato.
E muitos são enganados por jornais que omitem suas reais tiragens, por constrangimento, ou por faltarem com a verdade junto ao IVC (Instituto Verificador de Circulação).
Por um custo infinitamente mais baixo é possível destituir a gráfica e na rapidez de um clique mandar estas mesmas notícias, mais atualizadas e melhor acabadas, para estas mesmas pessoas. Não mais um quilo de papel por debaixo da porta, mas através do celular de cada um.
Você, jornalista, se não está acompanhando este cenário, ou se acompanha de camarote, esteja atento que o jornalismo vai exigir um novo desafio, uma nova forma de contar histórias, de maneira mais dinâmica e mais engajada.
Olhar para um barco furado e ainda acreditar que terá um jeito (sem saber qual é) beira a insensatez. Já passou da hora de agir, de se reinventar.
Lembro, no antigo Orkut, numa discussão na comunidade Imprensa Mossoroense que eu e um grande amigo jornalista, Allan Erick, já atentávamos para um futuro cada vez mais digital para o jornalismo, o que vitimaria sem piedade, o jornalismo impresso.
Naquela época, soava como uma heresia. Os colegas das redações (em Mossoró, tinha três jornais diários), não acreditavam nesta história, faziam aquela velha comparação do surgimento da TV que eliminaria o rádio (embora não considerasse o contexto de uma revolução digital) e houve até quem falasse numa tal “sinestesia” com o papel, outro que gostava de cheirar o jornal e outro que chegou ao hilário momento em dizer que não saberia ir ao banheiro sem um jornal debaixo do braço.
Nenhum deles lembra desta conversa, exceto eu e Allan Erick. E muitos dos que disseram isso, hoje eventualmente pensam diferente, porque foi necessário que este cenário de mudanças no jornalismo se mostrasse mais real, a ponto de esbofetear o rosto dos descrentes e deslumbrados.
Infelizmente, a bofetada veio, para alguns, da pior maneira possível. Acreditaram tanto no jornalismo impresso, não se prepararam para outras saídas para o jornalismo, se preocuparam com o cheiro do papel e não com a notícia, e perderam seus empregos. Outros são teimosos e só acreditarão quando a vez deles também chegar. Por isso, necessário faz pensar neste novo jornalismo, que já não é mais tão novo assim. Há muitas experiências vigentes, startups jornalísticas, caminhando muito bem.
Continuar a produzir jornal de papel nestes tempos, como diz o jornalista Paulo Nogueira, ex-editor de importantes revistas da Abril e da Globo, é como fabricar carruagens no final do século 19, quando os carros começavam a ganhar as ruas. Nem o mais fabuloso fabricante de carruagens sobreviveu com o correr dos dias.
O novo jornalismo, de caráter essencialmente digital, emite sinais de que está precisando de bons jornalistas para um importante e necessário caminho a ser percorrido. E a audiência está lá esperando neste cenário repleto de possibilidades.
Ou seja, a crise não é do jornalismo.