A perigosa milícia golpista proposta por Girão
Seu objetivo de criar uma espécie de Taleban brasileiro não prosperou
Por William Robson
Na arquitetura da tentativa do golpe bolsonarista nada foi em vão. Dos executores do vandalismo nos três poderes da República, aos mandantes, financiadores, cada um com sua parcela de contribuição nesta imensa quadrilha. Mais do que isso, na intentona bolsonarista, a participação de políticos que reforçaram o discurso golpista foi fundamental até os atentados do dia 8.
O deputado federal General Girão, talvez o maior representante bolsonarista do RN, é daquelas figuras histriônicas que atuam como evangelistas do golpe para os seguidores da seita bolsonarista apaixonada pela ditadura. Enquanto suas falas eram encaradas como delírio, potencializava as fantasias de derrubar o governo legitimamente eleito e impor o bolsonarismo acima de todos os poderes.
Ele já alimentava, como predição, as intenções golpistas. Em dezembro, prometeu um papai noel fardado e pediu que os bolsonaristas pendurassem as meias na janela. Até ali não se tinha ideia da insanidade deste agrupamento capaz de invadir prédios da República para instalar o caos, com a conivência de forças de segurança (a guarda pretoriana bolsonarista), e minuta estruturada para deixar o TSE de joelhos.
As ameaças encorpavam a cada 72 horas de esperança estimuladas pelo líder maior. No dia 6 de dezembro, Girão vai para o Twitter e joga mais combustível na ira bolsonarista sequiosa pelo golpe. ”Temos convicção que aqueles homens e mulheres que são atiradores cadastrados como CAC’s podem sim fazer parte de um efetivo mobilizável para as Forças Armadas. Afinal de contas, já são hábeis no manuseio da arma como instrumento de defesa”, escreveu. No mês seguinte, Lula toma posse e, mesmo assim, as ameaças continuam até o dia dos ataques.
Na sociedade armada bolsonarista, Girão estimula a criação de milícias em torno do golpe e do seu líder. São movimentos paramilitares que não encontram guarida na Constituição, mesmo sabendo que eles se lixam para as leis. Bolsonaro abriu os caminhos do armamentismo, via o pretexto dos Cacs (nunca ouvi falar que há “caçadores” no Brasil), para que as milícias já existentes pudessem ampliar sua estrutura e seus seguidores entrarem na luta através da força bruta.
Girão foi dissuadido dos planos após exortação do próprio Exército. Seu objetivo de criar uma espécie de Taleban brasileiro não prosperou e a página na internet chamada Reserva Pró-Ativa precisou ser desativada. No entanto, o tema ganhou a mídia nacional.
O deputado potiguar puxa a corda o tempo todo sem qualquer interferência. Neste momento em que os golpistas são revelados um a um, não há mais subterfúgios para narrativas como esta. As personalidades golpistas surgem claramente. Uns tentam se esconder, como o próprio Bolsonaro. Outros dobram a aposta, como Girão.