A insensatez da nota da CDL que minimiza a pandemia
Enquanto o Brasil, o RN e Mossoró enfrentam toda sorte de adversidades por conta da Covid-19, os empresários ligados à entidade tentam levar a vida como se nada estivesse acontecendo
Por William Robson
Ao que parece, a pandemia não acomete os comerciantes de Mossoró. Enquanto o Brasil, o RN e Mossoró enfrentam toda sorte de adversidades por conta da Covid-19, os empresários tentam levar a vida como se nada estivesse acontecendo. Natural que, à imagem e semelhança do seu maior mito, o presidente Jair Bolsonaro, muito minimizaram ou até mesmo negaram, e ainda negam, este momento.
Quem não se lembra das carreatas de empresários que pediam o fim do isolamento e das medidas restritivas? O desfile de automóveis de luxo passava pelas principais ruas da cidade. No auge do surto, estes comerciantes ainda tinham tempo para pensar em lucro. As vidas pouco importavam naquele instante.
Não fosse a vacina, Mossoró estaria em panorama ainda mais grave. Mesmo assim, as variantes da Covid-19 têm gerado transtornos e sobrecarregado o sistema de saúde. Embora o Estado e o Município ampliem mais os leitos clínicos (de maior demanda) que os críticos (de menor solicitação por conta da vacina), há inúmeros casos de pessoas contaminadas ou com sintomas que se assemelham às síndromes gripais.
Para conter o avanço e não perder o controle, a governadora Fátima Bezerra decidiu emitir decreto exigindo passaporte vacinal em estabelecimentos como bares, restaurantes e shoppings. É sobre último quesito que levou o presidente Stênio Max Fernandes a escrever nota em nome da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Deixa claro que a entidade não é “antivax”, mas que é contra à cobrança do passaporte vacinal. Pelo menos na categoria onde atua. O shopping não permite que pessoas não vacinadas adentrem o local, afinal, é para isso que o passaporte é cobrado. Mas, Stenio acha que é possível dar um jeitinho.
A CDL sugere que a exigência seja limitada somente à praça de alimentação e ao cinema, pois, segundo a nota enviada à imprensa, “não é a medida mais eficaz de contenção ao coronavírus”. Ou seja, a nota minimiza o problema e joga a responsabilidade para o Estado, caso o quadro se agrave. A entidade classista não tem nada a ver com isso. O importante é garantir as vendas e o dinheiro no bolso.
A nota é descabida, na medida em que mostra a real intencionalidade em meio a preâmbulos como “a CDL Mossoró entende que o momento atual da pandemia exige a adoção de medidas que busquem conter a rápida disseminação do novo coronavírus”. Blá, blá, blá… Não entende, não. O que a CDL está vendo são os cifrões, não a saúde das pessoas. Enquanto entidade, poderia nortear-se pela grandeza em meio a um momento delicado em que a participação de todos faz toda a diferença.
A cobrança do passaporte não se trata tão somente para atestar quem se vacinou, mas compelir negacionistas a não circularem por aí difundindo o vírus e suas variantes, sem qualquer restrição. A CDL deveria olhar para este aspecto, não apenas de humanidade, mas de colaboração, sabendo que a piora do quadro ensejará governos a medidas ainda mais restritivas. E isso é tudo que estes empresários não querem.
Se a cobrança do passaporte de vacina tem sido um fardo para estes comerciantes, incapazes de se compadecerem com seus conterrâneos de maneira mais ampla (até mesmo com os negacionistas que serão obrigados a se imunizarem), imagine se tiverem que baixar as portas novamente. A cobrança do passaporte tende a evitar chegar a este nível, mesmo com ações insensatas como as claramente sugeridas na nota da CDL.