A crítica que Thabatta Pimenta faz à esquerda
“Nós defendemos todos os recortes que as mulheres significam nesta sociedade”, disse ao Foro de Moscow, não poupando até mesmo o campo progressista
Por William Robson
A vereadora de Carnaúba dos Dantas, Thabatta Pimenta, utilizou um termo para expressar a necessidade de firmar o espaço da mulher trans: “mulheridade”. “A nossa luta não é contra as nossas mulheres. Nós também somos. Como mulher trans e travesti luto muito mais por todas do que muitas mulheres cis que não fazem nada”, afirmou em entrevista ao Foro de Moscow desta sexta-feira (10).
Ela enalteceu o sentido da palavra que adotou na conversa. “Nós defendemos todos os recortes que as mulheres significam nesta sociedade”, disse, citando as trans, negras, e as com deficiência. “Por isso, é um absurdo ouvir que a gente está tomando o lugar de outras mulheres”.
Thabatta não poupou sequer a esquerda por reforçar este discurso discriminatório. “No próprio espaço progressista existem as ´radfem´, ou seja, as feministas radicais que acreditam e defendem este tipo de pensamento. Há uma parte minoritária de mulheres, graças da Deus, que também acha isso. Mas, estamos desconstruindo esta imagem há muito tempo”, explicou.
A vereadora destacou na entrevista o quanto a mulher trans é marginalizada, porém que tenta falar para além da bolha, embora perceba que a esquerda necessitar, do mesmo modo, entender a diversidade feminina. Ela reforçou que o Dia Internacional da Mulher (“Dia de todas as mulheres”, ressalta) não foi compreendido até por parlamentares aliados.
“No momento de homenagear as mulheres, esquecem dos direitos das mulheres trans e travestis. Precisou acontecer isso (a fala transfóbica de Níkolas Ferreira) para dizer que defende a pauta. Mas, não se perguntou porque, ao defender as mulheres, não defendeu os direitos das mulheres trans e travesti também”, afirmou. “Precisamos ocupar estes espaços e entender a realidade de todas”.
Thabatta destaca que é necessário entender o sentido amplo da expressão mulheridade. “Se for defensor dos direitos humanos, que seja de verdade. Isso é o que acontece também em nosso espaço político, na nossa esquerda. Eu defendo uma esquerda, o progressismo, de uma forma real, pensando em cada realidade dos nossos corpos e das nossas vidas. Então, se você defende os direitos humanos e não de todas as pessoas, algo de errado você está fazendo”, conclui.