Manuelito, o fotógrafo número 1
O material de Manuelito é quilométrico. Pelo menos 40 mil fografias foram doadas ao Museu Municipal Lauro da Escóssia
Por William Robson
Num texto escrito em 17 de agosto de 1975, o jornalista Emery Costa se referia aos cinquenta anos de profissão do fotógrafo Manuelito: “Ele conseguiu, em quase meio século de vida profissional como artista da fotografia, sintetizar num slogan o atestado maior de sua fama com um atelier dos mais bem montados no interior sordestino”. Emery escreveu no mesmo dia em que Manuelito Pereira dos Santos Magalhães Benigno completava 65 anos de vida
Significando muito para a história de Mossoró, registrando os principais acontecimentos da cidade, Manuelito era um fotógrafo marcante e com força para influenciar. Prestes a se completarem 18 anos da sua morte, amanhã, o profissional é sempre lembrado.
O material de Manuelito é quilométrico. Pelo menos 40 mil fografias foram doadas ao Museu Municipal Lauro da Escóssia pela filha Maria Manolita Pereira Maia, isso sem contar com os milhares de negativos e equipamentos utilizados pelo artista. A particulandade de Manuelito era o tratamento que dava as fotografias.
Desenvolveu um aparelho que iluminava o negativo, a ponto de ele poder fazer o retoque nas fotos e também dava cores a elas quando era dictado “Considero Manuelito como o maior fotógrafo em preto e branco que o Estado já teve”, diz Elias Júnior, da Color Filme.
O museu se preocupou em oferecer um espaço somente para mostrar um pouco de Manuelito. Afora suas máquinas fotográficas e inúmeras lentes, ainda há livros do acervo pessoal que costumava ler. “Ele gostava muito de ler romance e tinha vários livros”, relembra a filha Maria Manolita. Não apenas de ler, mas de escrever também. Pouco tempo antes de morrer, Manuelito preparava sua autobiografia. “Nós não somos fotógrafos, porque Manuelito fazia a foto e nós não conseguimos”, declara o fotógrafo Cézar Alves, da GAZETA, referindo-se à tecnica que tinha em registrar as imagens em vidros, que serviriam de negativo. “Ele usava um pó de potássio que entrava em funcionamento, quando o flashe explodia como um tocha”.
Em duas folhas datilografadas, o fotógrafo – considerado o n°1 de Mossoró – falava de seu nascimento em Fortaleza (CE), de sua iniciação na profissão em 1930, de sua chegada a Mossoró (veja texto nesta edição), além de fazer uma análise das técnicas fotográficas “Fazer um comparativo da arte fotográfica de 1930 a 1977 seria uma longa explanação”, dizia ele, no texto intitulado “Quase Meio Seculo Fotografando”, de 1977. “Contudo, vale ressaltar a diferença das técnicas e recursos durante essas quatro décadas. Acompanhei de perto essa evolução”.
Arquivo sobre Mossoró fazia parte da vida de Manuelito
“Fotografel a vida e a morte. Alegrias e tristezas”. Manuelito pôde afirmar que viveu as várias metamorfoses da cidade, bem como de sua profissão. O fotógrafo tinha um objetivo em mente: fotografar para deixar marcado na história a vida de Mossoró no passado.
O material de Manuelito, que está no Museu Municipal Lauro da Escóssia, registra fatos politicos importantes e passagens pela cidade de presidentes da República, como Juscelino Kubtischek, Getúlio Vargas, João Goulart, entre outros.
“Cliquei também ministros de Estado, governadores, prefeitos, politicos em geral, misses e diversas personalidades do mundo artistico e cultural”, disse em sua autobiografia.
Fotografar Mossoró era muito mais que um compromisso com a cidade, mas consigo mesmo. Para Manuelito, o arquivo que conseguiu montar não tem preço, porque fazia parte de sua vida. “Ele adorava Mossoró e não trocava por cidade nenhuma”, afirma a filha do fotográfo, Maria Manolita.
Considerando o seu trabalho como um Muscu da Imagem, Manuelito tinha o propósito de manter viva a história mossoroense. Che-gou a se dispor para qualquer um que mostrasse interesse em realizar uma pesquisa sobre a cidade nos últimos 40 anos. “Esta obra de grande valor estará sempre à mostra daqueles que desejarem conhecer”, dizia o profissional, que também desenhava e coloria as fotografias com tintas especiais importadas.
Fotógrafo veio de Fortaleza a pedido dos Escóssia
Quando Manuelito chegou a Mossoró, em 4 de outubro de 1933, a cidade não dispunha de fotógrafo. Para ser um fotógrafo não era como hoje, tão simples. “Antigamente eram poucos fotógrafos porque o equipamento não era de acesso fácil”, conta a filha Maria Manolita. Manuelito veio de Fortaleza a pedido da família Escóssia.
Manuelito já era profissional da fotografia havia três anos. Sua competência era incontestável bem como sua preocupação em dar tons artísticos a seu trabalho. Por isso, rapidamente conseguiu instalar seu próprio negócio na Praça Vigário Antônio Joaquim e ser reconhecido como o fotógrafo número 1 de Mossoró.
O estúdio foi arrendado no finalzinho dos anos 70 e vendido poucos anos depois. O comprador foi Elias Júnior, hoje proprietário da Color Filme. Ao ser arrendado, Manuelito ficou vivendo de sua aposentadoria e fotografava por puro prazer. “Fotografia é uma coisa que me empolga e faz a gente gostar e se apaixonar pelo que ela pode dar e ensinar”, acreditava.
Um infarto fulminante no dia 10 de agosto de 1980 dava fim à trajetória de Manuelito. Seu legado nunca foi esquecido, bem como o seu talento. Fotos históricas, que marcaram a cidade, estão em exposição permanente no Museu Municipal Lauro da Escóssia.