Pré-candidata a estadual, Marleide quer se projetar com greves
A vereadora fez um cálculo. Aproveitou as discussões em torno do piso dos professores, tema nevrálgico que pode garantir dividendos políticos-eleitorais importantíssimos
Por William Robson
Não precisa estar tão atento assim para perceber que a vereadora Marleide Cunha já está em campanha. Poucas horas antes de anunciar sua pré-candidatura a estadual, entrou em campo. Foi direto para o reduto que mais lhe interessa: o sindicalismo. Claro, Marleide tem uma forte atuação neste segmento, não é de agora. Porém, tenta delimitar este espaço, fechar o cerco, sabendo que a deputada estadual Isolda Dantas intentará sua reeleição e contaria com os votos destes associados.
Marleide fez um cálculo. Aproveitou as discussões em torno do piso dos professores, tema nevrálgico que pode garantir dividendos políticos-eleitorais importantíssimos. Negociações ocorreram em diversas oportunidades entre o sindicato e o Palácio da Resistência. Somente com o prefeito Allyson Bezerra, a vereadora e a presidente do Sindiserpum (o sindicato dos servidores municipais), Eliete Vieira, se encontraram em quatro ocasiões. As tratativas foram concluídas com a concessão de reajuste de 33,67%, índice além do piso nacional, porque considerou percentual deixado pela então prefeita Rosalba Ciarlini. O acordo saiu no dia 10 de março.
O momento foi celebrado. O sindicato selou as negociações em assembleia no dia seguinte. A vereadora e pré-candidata Marleide Cunha estava presente, conduzindo o evento e ressaltando tratar-se de resultado da luta dos servidores. Na ocasião, ela ainda não havia feito o anúncio de suas pretensões para alcançar a Assembleia Legislativa. Estava implícito. Explicitamente, ocorreu alguns dias após, em 23 de março, quando afirmou à SuperTV que, devido à “carência que há nesse sentido, nos levaram a uma pré-candidatura a deputado estadual”.
A vereadora revelou o que já se sabia e que os movimentos recentes demonstravam (inclusive, referentes à paralisação de outras categorias). Mas, o principal trunfo a seu favor, o piso dos professores, não redundaria em lucros eleitorais como imaginava. Poderia até mesmo desaguarem para o candidato que apoiado pelo prefeito, no caso, o ex-vereador Jadson. Tal percepção tenderia a novas contendas, entreveros e pretextos. Marleide, assim, desafiou a polarização não apenas companheiros do próprio campo, no caso de Isolda, porém, fora dele, atraindo (ou tentando atrair) o prefeito e seu candidato.
Desta forma, novas movimentações se deram sob sua batuta. A mais recente tratou da aprovação de indicativo de greve dos servidores da educação. À frente dos debates na assembleia da tarde desta quinta-feira (31), a pré-candidata abordou a decisão da Câmara de Mossoró que aprovou o reajuste do piso em 33,67%, alegando alterações no Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) dos profissionais da educação municipal (Lei Complementar 70/2022). E estimulou os presentes a bradar palavras de ordem contra o prefeito e ressaltou que era “o princípio do fim da gestão Allyson Bezerra”.
Imediatamente, a Prefeitura se manifestou. Garantiu que nada foi alterado e os direitos seguem mantidos. “Temos a garantia da segurança jurídica a todos os professores através das tabelas salariais e garantia de reajustes futuros que continuam no mesmo padrão de valorização salarial conquistado pela categoria”, afirmou em nota.
Em vídeo publicado em suas redes sociais, a vereadora foca no prefeito. Precisa polarizar com ele. Por isso se apressa em provocar o confronto. Na assembleia do Sindiserpum, não economizou nos disparos em direção da pessoa de Allyson. Tratou-o por “maquiavélico, covarde e imoral”. A menor classificação foi de “mentiroso”.
Diante disso, o indicativo de greve foi marcado para quarta-feira (6), a sequência de toda esta movimentação política-eleitoral. Marleide, em campanha, contabiliza o que pode resultar a seu favor deste episódio nas eleições que estão por vir, da mesma forma que o título de persona non grata a impulsinou para a Câmara Municipal.