Grandes discos que ouvi #8

“Sign O´ The Times” é a expressão ousada que Prince sempre buscou

O disco é uma conexão a esta ousadia, sendo necessária audição cuidadosa das faixas para compreender a mensagem intimista que o cantor e instrumentista procura impor

Por William Robson

“Todos nós temos nossos problemas/ Alguns grandes, alguns pequenos/ Em breve todos os nossos problemas/ Serão levados pela Cruz”. Suponho que você imagine que estes versos se tratam de uma canção destes tais cantores gospel do momento. Apesar da música evangélica, se trata de uma faixa do impressionante disco do Prince, o seu nono trabalho, “Sign O´ The Times”, lançado em 1987, considerado o seu mais importante trabalho e de latente destaque no pop global.

A reprensagem americana traz estampa nos dos vinis deste disco do Prince, de 1987 (Foto: William Robson)

Prince não estava comercialmente bem quando este disco foi concebido. Havia acabado de deixar seu projeto com a Revolutions. Isso não quer dizer nada em termos artísticos. Álbuns comerciais não são necessariamente bons (mas pode ocorrer).  O baixinho de Minneapolis, morto há cinco anos, queria ser mais ousado, enquanto a sua gravadora Warner torcia o nariz. “Sign…” seria concebido como álbum triplo, rechaçado pelos executivos, que determinaram que deveria ficar em dois bolachões. E assim, Prince teve de montar uma pesada estratégia de edição das composições.

O resultado ficou esplendoroso. Além do gospel, Prince caminha pelo jazz, por uma a levada funk que abre o álbum recheada de sintetizadores e samples, pelas baladas “The Balad of Dorothy Parker” e “It” e pela pop e divertida “I Could Never Take the Place of Your Man”.

Prince queria ousar e conseguiu expressar tudo o que gostaria e que não estava registrado em seus oito álbuns anteriores. O disco é uma conexão a esta ousadia, sendo necessária audição cuidadosa das faixas para compreender a mensagem intimista que o cantor e instrumentista procura impor. Na citada “The Cross”, a música traz uma atmosfera lisérgica com distorções de guitarras abafadas que lembra muito o estilo de Lou Reed e uma bateria poderosa com uma caixa que explora toda a esteira assemelhando-se a um tarol afinadíssimo.

A edição remasterizada e reprensada em vinil de “Sign..” ganhou contornos luxuosos e cuidadosos. Os dois discos receberam estampas especiais em ambos os lados e o tradicional selo de papel foi descartado. A edição americana foi lançada em lote limitado e com reproduções das músicas a partir dos tapes originais, o que acaba sendo uma experiência ainda mais marcante de ouvir esta obra-prima.

 

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