Por que você sentiu a pane das redes sociais?
Quando surge uma pane como a que afetou o Facebook, Instagram e o Whatsapp, a sensação de muitos foi de ataque à própria vida, à sua rotina, à sua realidade
Por William Robson
Você conseguiu passar pela pane global das redes sociais nesta segunda-feira (4) de maneira imperceptível? Talvez a avassaladora maioria dirá que não, que perdeu negócios, que deixou de se comunicar, que afetou o trabalho, que não conseguiu agendar, nem cumprir compromissos. Verdade é que as redes sociais se tornaram parte da manifestações sociais e aí fica a reflexão quando surge imprevistos como este: qual realidade estamos vivendo?
Interessante é que conversava sobre isso com meus alunos na Uern sobre o conceito de narrativa, do simbólico e da realidade. Que a realidade, como fenômeno filosófico dado, não existe e que as relações discursivas e as percepções formam o nosso contexto. É aí onde tanta gente confunde a realidade da vida cotidiana – com suas variadas contingências – e a realidade virtual, a que nós fomos condicionados a viver e conviver nestes tempos de internet.
Quando surge uma pane como a que afetou o Facebook, Instagram e o Whatsapp, a sensação de muitos foi de ataque à própria vida, à sua rotina, à sua realidade. Isso ocorre porque o sentido da vida, para muitos, passou a ser o feed do Instagram. É lá onde as coisas estariam acontecendo, o mundo estaria girando… É lá onde é possível encontrar a felicidade para além da utopia. A felicidade do Instagram existe. Ninguém está triste, preocupado com contas, nem com os fracassos naturais da vida. Todos são super-humanos. Esta é a realidade construída nas redes sociais.
Da vida de abundância, ninguém quer se desvencilhar. O problema é que a realidade, como citado acima, são percepções. E, na realidade da vida cotidiana, o ser humano não é super e a felicidade não é plena como na propaganda de margarina e nos feeds. O Instagram e as redes acabam servindo de refúgio para novas realidades, que implicam em satisfação, stalking, encontros e desencontros. E tudo isso, geram prazer e patologias que seriam temas para outro assunto.
O que percebemos na pane de segunda tem a ver com a dependência. De como a sociedade se enjaulou em redes sociais privadas (sim, elas têm dono e não é você) que podem afetar a vida de bilhões de pessoas em um instante. Sejam pelos negócios, pela comunicação interpessoal ou mesmo na busca pelo preenchimento do vazio da alma.
Onde você se encaixa em meio à intempérie das redes? Como dosar as realidades do cotidiano, das narrativas simbólicas, do discurso e dos feeds? Só assim será capaz de compreender e fazer o exercício de como as redes sociais lhe afetam. Ao fugir do seu cotidiano, não está abrindo mão da realidade. Porque, ela, como ressaltado, são construções subjetivas da sociedade e é está na sua cabeça. Nas redes, não há lugar para derrota, nem fracasso, nem tristeza, nem fome, nem liseu. E, sinceramente, ninguém guarda tantos atributos como as expostas nestas redes.
Talvez, somente uma pane oportuna e momentânea fosse capaz de colocar suas percepções dentro de realidades bem menos utópicas. Percebeu como a sua realidade é vulnerável?