Para onde caminha o Peru?
Em momentos de crise política, econômica, social e sanitária, as pessoas pretendem mudanças profundas, e não a fuga à “polarização”.
Por Daniel Valença, professor da Ufersa e vice-presidente do PT/RN
A primeira pesquisa do segundo turno, do instituto Ipsos, mostra que o candidato de esquerda Pedro Castillo aparece em primeiro lugar com 42% das intenções de voto, contra 31% da candidata de extrema-direita, envolvida em diversos casos de corrupção e filha do ditador Alberto Fujimori, Keiko Fujimori. Castillo é candidato pelo Partido Libre, que se reivindica marxista-leinista-mariateguista (em referência ao marxista peruano José Carlos Mariátegui, considerado o mais original marxista latino-americano).
Neste momento, todas as frações da elite peruana se unem à candidatura de Fujimori, o que novamente reafirma que, quando as elites latino-americanas identificam riscos reais a seus privilégios, não interessa o meio de protege-las, sejam eles uma ditadura ou apoiar a alguém que até o primeiro turno condenavam.
Por outro lado, o Movimiento Peru Libre, da candidata Verónika Mendoza, grande favorita da esquerda até a semana final antes do primeiro turno, declarou apoio a Castillo, que promete a convocação de uma assembleia constituinte, a nacionalização de setores estratégicos e a reforma agrária.
Dessas eleições sobressaem desde já duas lições. A primeira, a unidade das forças populares no segundo turno, ao contrário do que houve no Equador, em que o Movimiento Pachakutik convocou voto nulo, fazendo com que estes se multiplicassem de 1 milhão no primeiro turno para 1 milhão e seiscentos mil no segundo turno. Como consequência, foi eleito Guillermo Lasso, banqueiro, neoliberal alinhado aos EUA, para cuja posse Bolsonaro já prometeu presença.
A outra lição é que, em momentos de crise política, econômica, social e sanitária, as pessoas pretendem mudanças profundas, e não a fuga à “polarização”. Ao deslocar sua candidatura para o centro na reta final de campanha para “conquistar o eleitorado de centro”, Verónika viu seus votos deslocarem-se para a candidatura de Pedro Castillo. As consequências desta tática devem ser analisadas com muito rigor para a compreensão da conjuntura brasileira, sob risco de buscarmos o centro e reforçarmos a descrença em um projeto de real transformação popular do país.