Covid-19

Chegamos ao colapso: não há mais vagas de UTI Covid em Mossoró

O colapso se espraia, ainda, por toda a região Oeste, onde, de acordo com o Regula RN, da Secretaria Estadual de Saúde, a taxa de ocupação os leitos críticos chegaram a 100%

Por William Robson

Chegamos ao colapso. Não é força de expressão. Não há mais qualquer vaga de UTI Covid nos três hospitais de Mossoró que atendem a casos do tipo: nove no Tarcísio Maia, dez no Rafael Fernandes e 40 no São Luiz. Os leitos do hospital Wilson Rosado, da iniciativa privada, não foram contabilizados.

Até o início da manhã, a Prefeitura informou a disponibilidade de seis vagas, três para adultos e três para crianças, logo ocupados.  O colapso se espraia, ainda, por toda a região Oeste, onde, de acordo com o Regula RN, da Secretaria Estadual de Saúde, a taxa de ocupação os leitos críticos chegaram a 100%.

Gráfico mostra a dimensão do colapso em toda a região Oeste

O Rio Grande do Norte acumula 3.562 mortos por Covid-19 desde a descoberta do primeiro caso em 12 de março, quando uma jovem de 24 anos retornou da Europa com o vírus. Este montante de vítimas equivale a queda de um Airbus A-320 por mês no Estado. Mês passado também não foi diferente: 243 mortos, ante 302 de janeiro. Uma tragédia sem precedentes. Mossoró, por sua vez, acumula 298 mortes desde o ano passado.

A vacina, a conta-gotas não chega a fazer cócegas frente à fúria da pandemia. Decreto mais rígido foi assinado no final da semana passada, na intenção de impor toque de recolher e impedir aglomerações através de ação ostensiva das forças de segurança. E o mês começa com a informação que ninguém gostaria de divulgar: o colapso total no sistema de saúde local.

A diretora do Hospital Tarcísio Maia, Herbênia Ferreira, em entrevista ao Foro de Moscow desta segunda-feira (1) afirmou que, “sem dúvidas”, alcançamos o pico da pandemia de coronavírus. Inclusive, secretários estaduais de Saúde divulgaram uma carta nesta segunda-feira (1) em que afirmam que o Brasil vive o “pior momento da crise sanitária”  provocada pela Covid e pedem maior rigor em medidas para evitar um colapso em todo o país. Herbênia reafirma:

“Estamos sim, no pico. Falo com muita certeza. No ano passado, quando foi assinado o decreto de isolamento, percebemos a queda no número de entrada de pacientes com outras patologias no hospital, sobretudo, de traumas. O decreto obrigou ao recolhimento, reduzindo o número de acidentes, violência. Diminuiu  muito. Isso não ocorre neste momento. E quando falamos em colapso, precisamos considerar este contexto. A Covid, por sua vez, teve um recrudescimento nos casos, mas também, soma-se outras patologias em alta demanda”, explica.

Os leitos dos hospitais de Mossoró, por ser uma cidade-pólo, não servem tão somente aos mossoroenses, o que poderia ser suficiente. “Atendemos a um universo de mais de um milhão de pessoas, envolvendo diversas cidades”, disse o prefeito Allyson Bezerra, que anunciou nesta segunda-feira (1), reunião com prefeitos da região em busca de uma pactuação em torno do tema.

São pessoas que vêm da região Oeste e de Estados próximos, mas, também da capital, Natal, que teoricamente há mais leitos disponíveis, mas, as políticas de enfrentamento à Covid, ao estilo bolsonarista, exportou pacientes para os hospitais mossoroenses.  Os pacientes, oriundos de Natal e da região metropolitana, começaram a desembarcar por aqui no dia 22 de fevereiro.

A chegada de pacientes vindos de Natal, no aeroporto de Mossoró, em voo no avião do Governo do Estado

Em meio ao caos e a falta de controle, o prefeito de Natal, Álvaro Dias, evitou fechar o comércio, antecipou a retomada da economia em períodos mais severos da pandemia e prescrevia ivermectina, fármaco sem qualquer eficácia no tratamento da Covid. Às vésperas do colapso e de enviar pacientes para Mossoró, insistia no medicamento. “Vamos usar ivermectina, . Ivermectina funciona”, afirmou durante coletiva à imprensa em 22 de fevereiro.

Por sua vez, a a infectologista Marisa Reis, do Comitê Científico do RN, disse que  ”mais de 90% dos doentes que estão internados nas nossas UTIs (no Estado) fizeram uso de ivermectina. Então, significa que ela não é capaz de fazer o que se promete”, comenta. O resultado desta recomendação do prefeito da capital todos conhecemos bem.

O problema de Natal soma-se a outros fatores que geraram o colapso em Mossoró. E quando fala-se em colapso nos hospitais de Mossoró, Herbênia Ferreira ressalta a ocupação simultânea de leitos para outras patologias. “No Tarcísio Maia, os 20 leitos de UTI geral estão lotados. Os casos de traumas intensificam este cenário”, explicou.

Acrescente aí as novas variantes do vírus que circulam no RN. “O que tem chamado a atenção é a quantidade de casos envolvendo jovens, o que não víamos com esta frequência no ano passado. Os pacientes que se agravavam tinham mais de 60 anos. Inclusive, tivemos um óbito recente de uma jovem de pouco mais de 20 anos. Isso é um alerta para que os jovens compreendam que eles já fazem parte do grupo de risco”, alertou.

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, em sete dos 27 Estados, o pico de mortes por Covid-19 em 2021 já superou o ponto mais alto da pandemia em 2020: Roraima, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Paraná e Amazonas. O RN não está incluído, visto que a maior taxa de letalidade ocorreu em junho do ano passado, com 852 mortes.  No entanto, a tendência de crescimento vem se formando desde outubro – mesmo em uma crescente instável. E para agravar a situação, o RN  integra o grupo de 80% dos Estados brasileiros prestes a não ter dispor mais de nenhum leito de UTI Covid. Estamos em sinal de alerta.