Terceirizados recebem janeiro na segunda; relembre seus tempos de semi-escravidão
Estes trabalhadores, na gestão da prefeita Rosalba Ciarlini, sofriam calados, sem perspectiva, com o bolso vazio, mas com a sensação de que, pelo menos, estavam trabalhando
Por William Robson
Não é novidade que a ex-prefeita Rosalba Ciarlini costumava atrasar os salários dos terceirizados. Ao deixar o mandato, a folha de dezembro ficou em aberto. O mesmo episódio se repetiu em 2019. Quando 2020 chegou, os salários de novembro e dezembro dos servidores da Athos, prestadora de serviço para a Secretaria de Educação, não caíram na conta.
A Athos também atuava na Saúde e mais uma vez os trabalhadores não viram a cor do dinheiro. Outubro, novembro e dezembro acumulados. O Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio, Conservação, Higienização e Limpeza do Rio Grande do Norte (Sindlimp/RN) se manifestou. Aliás, a entidade tem as costas quentes de tanto lapadas da gestora passada. “Estamos preocupados”, disse Aldeíza Sousa, à época.
O jornalista Carlos Santos comentou em 25 de março do ano passado que os trabalhadores terceirizados atuavam como semi-escravos. E que acumulavam o avanço da pandemia e o medo constante de perseguição política. Nos primeiros meses de 2020, estes servidores não abrigavam qualquer perspectiva de receber seus salários. A mesma dirigente sindical Aldeiza chegou a afirmar: “Eles estão na miséria e quase ninguém fala por eles”. Á mercê da própria sorte e abandonados, assistiam ao show de desculpas advindas das empresas e da prefeita Rosalba Ciarlini.
Naquela ocasião, a empresa Troia Assessoria e Serviços Técnicos Ltda. não teve o seu contrato mantido, sobrando para 140 terceirizados que, na rua da amargura, não receberam as verbas rescisórias. Na Athos, a mesma relatada no início do texto, o cenário mais tenebroso. 200 demissões na Saúde, 200 na educação e 150 na Administração e Recursos Humanos. O jornalista Carlos Santos relatou que “todos passavam privações extremas com suas famílias”.
Enquanto isso, uma empresa terceirizada balançava na corda bamba. A Estratégica Serviços e Representações mantinha 200 funcionários sem salários em dia.
Os terceirizados na gestão da prefeita Rosalba Ciarlini sofriam calados, sem perspectiva, com o bolso vazio, mas com a sensação de que, pelo menos, estavam trabalhando. Uma vida de resignação sob o jugo do rosalbismo. Os terceirizados poderiam alegar que a prefeitura não repassava os recursos de contrato para empresas. Ledo engano.
A Athos acumulava dois contratos superiores a R$ 1,26 mihão. No ano anterior, em 2019, faturou R$ 10 milhões e antes que o ano terminasse recebeu a informação que assumira um contrato de R$ 17 milhões. Ou seja, R$ 27 milhões garantidos.
Enquanto isso, 2020 chega ao fim e os terceirizados são novamente surpreendidos. A questão é a prefeitura que entraria o ano seguinte sob nova direção. 800 terceirizados que prestam serviços à Prefeitura de Mossoró iniciaram fevereiro ameaçando paralisação, método nunca antes aplicado nos tempos semi-escravagistas de um recente passado.
O sindicato repassa o recado que recebeu das empresas: “Há um empurra empurra entre empresa e Prefeitura de Mossoró. As empresas dizem que estão com quatro faturas abertas e o Município fala que o orçamento de 2021 não foi aberto”, relatou Aldeísa. Havia uma previsão que o Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio, Conservação, Higienização e Limpeza do Rio Grande do Norte (Sindlimp/RN), Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares no Estado do Rio Grande do Norte (Sindhoteleiros) e Sindicato dos Trabalhadores da Saúde em Hospitais, Clínicas e Laboatórios Privados de Mossoró (SINTRAPAM) fossem recebidos pelo prefeito Allyson Bezerra no dia 22.
Antes da reunião, o prefeito surpreendeu as categorias com a notícia que esperava. A Prefeitura de Mossoró informou nesta sexta-feira (5), o pagamento dos terceirizados referente ao mês de janeiro de 2021.O dinheiro deve entrar na conta dos trabalhadores até a próxima segunda-feira (8).
E quanto ao mês de dezembro. A assessoria de Comunicação da Prefeitura há o compromisso de pagar o mês de dezembro, mas, hoje, esbarra em questões legais. “É importante dizer que ao final do ano passado a gestão anterior cancelou os empenhos. Então, hoje, legalmente, o município de Mossoró não pode pagar o salário referente ao mês de dezembro. Porém, assumimos o compromisso de trabalhar incansavelmente para efetuar os pagamentos dentro da legalidade”, explicou o prefeito, acrescentando que o Município segue os trâmites previstos e que até o dia 22 deste mês será divulgado o cronograma de pagamento dos salários atrasados.
Os terceirizados jamais começaram um ano desta forma.