Jornalismo

Morre o jornalista Mino Carta, aos 91 anos

Adepto da máquina Olivetti, Mino Carta "abominava as novas tecnologias", destacou a Carta Capital, ao noticiar a morte dele. Em entrevista em outubro passado a Lira Neto, o jornalista falou sobre os efeitos da revolução tecnológica na profissão
2 de setembro de 2025
Divulgação
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O jornalista Mino Carta morreu na madrugada desta terça-feira, aos 91 anos. A morte foi confirmada pela Carta Capital, da qual era fundador e diretor de redação. A publicação informou que o profissional lutou contra problemas de saúde ao longo do último ano e estava internado havia duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, diz o jornal O Globo.

Mino Carta trilhou carreira no jornalismo por mais de sete décadas. Começou a escrever de maneira fortuita, quando o pai, Giannino, também jornalista, recebeu a encomenda de artigos sobre a Copa do Brasil, em 1950, para dois jornais italianos. Como odiava futebol, perguntou ao filho se queria escrever os textos em seu lugar.

— A partir daí, percebi que a felicidade não era tão cara e podia ser alcançada escrevendo — recordou Carta, em entrevista ao portal da Associação Brasileira de Imprensa, em 2008.

O jornalista, nascido em Gênova, na Itália, Mino Carta era a terceira geração da família no ofício. Seu avô materno Luigi Becherucci foi diretor do jornal genovês Caffaro, mas perdeu o cargo com a ascensão do fascismo no país. Já seu pai foi preso em 1944 por se opor ao regime de Benito Mussolini e fugiu numa revolta de carcereiros — veio trabalhar no Brasil após a Segunda Guerra, mas descobriu, ao chegar, que o emprego não existia mais.

Em 1956, Mino abandonou o curso de Direito em São Paulo e retornou em 1956 para a Itália. Lá, trabalhou na Gazetta del Popolo e como correspondente dos diários brasileiros Diário de Notícias e Mundo Ilustrado. A família retornaria ao Brasil quando Giannino assumiu a editoria internacional do Estado de S. Paulo. O irmão do jornalista, Luigi, foi trabalhar na editora Abril pouco antes do parente.

Aos 27 anos, Mino Carta aceitou assumir a direção da revista Quatro Rodas, pela editora Abril, mesmo sem saber dirigir ou diferenciar um Volkswagen de uma Mercedes, como o próprio revelou anos depois. Dali em diante, lançou outras publicações de destaque, como a Veja, em 1968; a IstoÉ, em 1976; e a Carta Capital, de 1994. Ele também integrou a equipe fundadora do Jornal da Tarde, em 1966, e o Jornal da República, em 1979.

Adepto da máquina Olivetti, Mino Carta “abominava as novas tecnologias”, destacou a Carta Capital, ao noticiar a morte dele. Em entrevista em outubro passado a Lira Neto, o jornalista falou sobre os efeitos da revolução tecnológica na profissão.

— Em lugar de praticar um jornalismo realmente ativo, na busca corajosa pela verdade, a imprensa está sendo engolida e escravizada pelas novas mídias — lamentou.