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Berg Trombone: “Sem sombra de dúvidas, este é o maior desafio da minha vida”

Prestes a acompanhar Bartõ Galeno em Pernambuco, músico descobre um tumor no esôfago e precisou ficar internado, Nesta conversa com o jornalista William Robson, ele fala sobre a nova rotina, projetos musicais e os próximos passos no combate ao câncer

Josemberg da Silva Freitas, o Berg Trombone, 39 (completa 40 anos em agosto), é um dos músicos mais requisitados de Mossoró. Sua versatilidade permite que percorra por diversos estilos e projetos musicais. Berg passeia do rock às marchinhas de carnaval, como o projeto Pode Inté For. Agora, integra a banda do cantor Bartô Galeno e já estava com show marcado em Pernambuco, quando precisou fazer um exame de endoscopia. Não estava se sentindo bem, com dificuldades de se alimentar e ingerir líquidos. Logo, precisou ficar internado. Somente dois depois, diante de mobilização de amigos e de grupos de Whatsapp, descobriu que estava com um tumor no esôfago, com altíssima probabilidade de ser um câncer. “Sem sombra de dúvidas, este tem sido o maior desafio da minha vida. Não foi nada fácil descobrir isso”, afirmou, em entrevista ao BDD.

Berg Trombone falou, nesta conversa com o jornalista William Robson, sobre a nova rotina, projetos musicais e os próximos passos do tratamento. Fala de sonhos e de que ainda pretende percorrer o Rio Grande do Norte de bicicleta, já que também é amante do ciclismo.

Porém, sua maior paixão é a música, que diz acompanhá-lo desde a barriga de sua mãe, quando cantava para ele. Além de tocar trombone, é compositor, professor de música com graduação pela Uern e especializado em Psicopedagogia. “A música é minha vida. Desde pequeno quis ser músico. A música me ajuda a fugir das tensões”, afirmou.

 

Berg, você foi surpreendido com este que talvez é o maior desafio de sua vida, em termos de saúde. Conte um pouco sobre como você descobriu e como isso tem influenciado em sua vida

Sem sombra de dúvidas, este tem sido o maior desafio da minha vida. Não foi nada fácil descobrir que estou com câncer. Não era a notícia que esperava. Estava com dificuldades em me alimentar já há algum tempo. Quando a dificuldade ficou maior a ponto de não ingerir líquidos, fiquei agoniado, superpreocupado. Fiquei dois dias passando mal. Pedi para a minha esposa para adiantarmos um exame de endoscopia para ver o que era. Na minha cabeça, sairia do exame com a medicação para o problema e voltaria à vida normal. Mas, fui direcionado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para ficar internado e isso me pegou de surpresa. Fiquei internado sem saber, ao certo, o que eu tinha.

 

Berg (o primeiro à esquerda), durante apresentação do projeto Pode Inté For (Foto: Divulgação)

E quando você tomou conhecimento?

Dois dias depois. Isso foi numa quinta-feira, dia 2, que por sinal iria tocar com Bartô Galeno, em Pernambuco. Liguei para ele no dia anterior dizendo que não iria poder tocar, por conta da endoscopia e que não estava me sentindo bem. Na sexta-feira, vi uma mobilização grande no hospital, as pessoas me visitando, e eu sem saber o que estava acontecendo. De repente, recebo em um grupo de Whatsapp a mensagem de que eu estava com câncer e que era muito agressivo. Perguntei para a minha esposa e ela disse que ainda não estava sabendo de nada. Não havia diagnóstico, um tecido foi retirado para biópsia, mas nada certo ainda. No sábado, diante da mobilização das pessoas, conseguiram me transferência para a Liga (de Combate ao Câncer). No sábado à tarde, me informaram que eu estava com um tumor no esôfago com 99% de chances de ser um câncer. Aquilo me chocou. Fiquei apreensivo e triste, ao mesmo tempo. Não queria aquilo. Quem quer um câncer? Na hora, chorei e perguntei aos médicos: “Tem cura? Eu vou morrer?”. Disseram que não, que eu era novo, que lutasse e que daria certo. Fiquei abalado, mas também fiquei feliz, por outro lado, porque vi uma mobilização emocionante de pessoas que se preocuparam e se preocupam comigo.

 

Pois é. há uma mobilização de músicos e amigos para arrecadar recursos para o seu tratamento. Do que realmente precisa e como contribuir para amenizar as despesas neste momento?

Muito amigos estão se mobilizando. Músicos amigos, artistas de todas as classes, professores, pais de alunos, ex-alunos, muita gente envolvida. Não estou tendo gastos, mas minha esposa está mais a frente disso, visto que estou no hospital e não tenho noção de valores.

 

A esposa de Berg Trombone, Karine Furtado, entra na entrevista para auxliá-lo na resposta

Karine Furtado – Berg está internado na Liga e aqui não tem gastos. Cobre tudo exceto alguns exames. Estamos fazendo particular para ser mais rápido e ele iniciar o quanto antes o tratamento. O dinheiro arrecadado está na conta de uma amiga que me repassa para o pagamento destes exames, transportes, roupas (visto que perdeu muito peso). Quando receber alta, vai precisar fazer quimioterapia e radioterapia. Vai precisar também de novos exames e serão novos gastos. Tudo é muito novo para a gente, mas o dinheiro que foi arrecadado é para um processo que ainda virá.

 

Como a música está te ajudando neste momento?

Como estou internado, não estou tocando. A minha rotina é dentro do quarto, tocando para meus colegas. Pergunto para eles quais as canções que gostam, tento aprender e toco. Ganhei um violão da minha coordenação, um aparelho para trabalhar a respiração para quando eu voltar a tocar trombone estar respirando bem. A música é minha vida. Desde pequeno quis ser músico. A música me ajuda a fugir das tensões. Seu estou triste, canto. Se estou alegre, eu canto.  Se estou preocupado, eu canto. Se estou ansioso, canto, toco e escuto música. A música me ajuda em todos os momentos.

 

Quais os seus projetos, em andamento e futuros, na música e na vida?

Tenho muitos. Precisei dar uma parada. Comecei a ver que preciso dar um novo rumo para algumas atividades, como por exemplo, percorrer o Rio Grande do Norte de bicicleta, voltar a tocar trombone como mais fervor do que antes, voltar a compor. Estou cuidando da minha saúde e quero estar mais perto da minha família. Estou tocando com Bartô e isso era um sonho que virou realidade. Quero continuar com ele. Tem sido muito importante para mim. Tenho tantos projetos, mas só posso dar continuidade quando sair daqui.

 

Fale um pouco mais sobre próximas etapas no tratamento e as perspectivas de restabelecer sua saúde.

Comecei a quimioterapia e a radioterapia. Querem me liberar para ir para casa. Estou, por enquanto, com medo de sair daqui. Não posso arriscar pegar uma gripe, coisas deste tipo. Acho mais seguro ficar aqui. Mas, quero ficar até me sentir mais seguro. Não posso receber muitas visitas. O processo é esse. Descobri que tem um fisioterapeuta para me ajudar na respiração, para me ajudar a tocar trombone com mais perfeição. Tenho o acompanhamento médico que necessito e está me deixando muito confiante.

 

Mais alguma coisa, Berg?

Então, deixo uma mensagem: seja positivo. Por mais que a notícia seja ruim em sua vida, saiba que tem saída. Não existe melhora se você não luta por ela. Se você desistir, perde. Se desistir de sonhar, de viver, perde as melhores coisas da vida. Se eu não tivesse feito a endoscopia, não tivesse buscado, talvez agora eu estivesse muito mal ou sequer estaria vivo. A gente não pode desistir de nada. Tudo que tiver em mente, pense positivo que vai dar certo.