Vidas negras importam

Quem matou Gabriel e por quê?

Em meio às manifestações em que o pobre e o negro são criminalizados simplesmente por uma ou ambas as razões,  a imagem de Gabriel emerge como nova reflexão deste genocídio interminável

Quando ainda guardava esperanças em poder rever o seu filho com vida, Patrícia Souza, moradora do bairro Guarapes, em Natal, implorava por notícias do jovem Giovanne Gabriel de Souza Gomes, de 18 anos. Em relato ao Bom Dia RN no final da semana passada, seu desespero era, como não poderia deixar de ser, evidente. Com o apoio de outros moradores, exibiam faixas perguntando por Gabriel.

Patrícia recebeu a notícia que nenhuma mãe gostaria de ouvir. O corpo do seu filho havia sido encontrado após nove dias de desaparecimento. Uma dor indescritível que agora se transforma em explicações sobre a motivação do crime.

Gabriel se aprontava para ir para a casa de sua namorada em Parnamirim. Sua mãe só percebeu algo estranho quando no dia seguinte a namorada de Gabriel indagou as razões pelas quais ele não tinha chegado. Começou então a via-crúcis. Segundo o site Saiba Mais, testemunhas afirmam que policiais militares abordaram o jovem antes de seu desaparecimento.

Em meio às manifestações em que o pobre e o negro são criminalizados simplesmente por uma ou ambas as razões,  a imagem de Gabriel emerge como nova reflexão deste genocídio interminável, sobretudo, no Brasil. A começar pela mãe do garoto: “Agora eu peço justiça e que as investigações continuem, para saber o motivo, porque eu não me conformo. Eu tenho o direito de saber o motivo que mataram meu filho”.

Em cenário de fascismo em que o higienismo é naturalizada, onde o fato de ser negro já impõe dúvidas sobre a vida e a conduta, como proteger os nossos jovens? Como olhar para este caso e passar a página como se fosse mais um? È preciso que os motivos que Patrícia buscam sejam nossos motivos também. Precisamos saber por que Gabriel foi morto. Por que estão matando os nossos jovens da periferia?

Uma manifestação CMEI Marilanda Bezerra, no bairro Guarapes, onde Gabriel morava, pressiona por respostas. A deputada federal, Natália Bonavides, também questiona: ” Quem matou Gabriel, jovem negro, periférico, com a vida pela frente? Quem escondeu o corpo? Exigimos resposta e justiça. Por Gabriel e por cada jovem negro que tomba em meio ao genocídio em curso”, afirmou em sua conta no Twitter.

A repercussão alcançou também a Assembleia Legislativa. A deputada estadual Isolda Dantas usou suas redes para dizer que “infelizmente, nao é preciso ir longe para ver vidas negras perdidas. Gabriel, jovem negro da periferia de Natal, sumiu por dias e foi encontrado morto. O governo colocou a polícia civil para investigar o caso. Vidas negras importam”. A Secretaria Estadual da Juventude publicou cards pedindo Justiça.

A governadora Fátima Bezerra não tardou em se manifestar sobre este exterminado. “Falei com Priscila, mãe do menino Gabriel, um jovem do bairro Guarapes que estava desaparecido desde o último dia 4 e cujo corpo foi encontrado hoje, infelizmente sem vida. Expressei minha indignação e minha solidariedade à família e aos amigos de Gabriel”, disse, acrescentando que foi  determinado empenho no processo de investigação.

A indignação da Fátima é a de todos os potiguares sensatos neste momento,. E quando  ressaltou que é “para que outros garotos, como Gabriel, não nos deixem de forma tão trágica, em tenra idade”, aponta para tantos outros jovens pobres que buscam perspectivas e sonhos de uma vida melhor longe de ambientes insalubres e ameaçadores, porém de oportunidades e de consciência de que vidas negras importam.