Por que Rosalba e Fátima não se entendem no combate ao coronavírus?
As pressões econômicas agem em ambas as instâncias, com reações distintas. Enquanto uma busca endurecer o isolamento a fim de evitar maior número de contágios e desafogar os hospitais, outra vai cedendo silenciosamente
A edição de 9 de junho do Foro de Moscow trazia o seguinte questionamento: “Quando as lojas de Mossoró vão reabrir?”. A indagação se baseava no decreto da governadora Fátima Bezerra que previa reabertura gradual da economia a partir desta quarta-feira (17). Como sabemos, o decreto vigente é o mais rígido já assinado desde o início da pandemia e impõe sanções e multas para aqueles que não respeitarem o isolamento.
É verdade que a fiscalização se tornou mais ostensiva, porém seus efeitos não surpreenderam. Apesar do rigor do novo decreto e a antecipação do feriado estadual alusivo aos Mártires de Cunhaú e Uruaçu, lembrado em 3 de outubro, para a sexta-feira, 12, o índice de isolamento permaneceu inalterado.
Segundo o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS-UFRN), ficou entre 41,88% e 48% no período da sexta-feira, 12, ao domingo, 14. Portanto, o isolamento social e o decreto estão em constante desrespeito.
È redudante dizer que, em Mossoró, o isolamento sempre foi uma grande enganação. Finge-se que emite decreto de controle da pandemia, finge-se que fiscaliza o comércio, finge-se permanecer em casa. Na realidade, o Centro de Mossoró lembra o formigueiro de sempre. O Mercado do Vuco-Vuco reabre sempre que a PM dá as costas e o trânsito não reduziu o caos.
Estava claro que a governadora Fátima não iria reabrir o que já está aberto (pelo menos, na frieza do papel) nesta quarta-feira (17), como previsto no decreto. Por isso, determinou que a perspectiva de reabertura gradual da economia se desse a partir do dia 24, medida sensata ante o colapso que deixou de ser iminente e está às vistas no sistema público de saúde.
O levantamento mais recente da Secretaria de Saúde destaca que a taxa de ocupação dos leitos de Covid-19 no Estado chegou a 94% e 751 pessoas estão internadas. Destas, 367 em leitos críticos. Se consideramos a região Oeste, Mossoró tem fila, mas não tem leito, assim como Pau dos Ferros. Situação mais que preocupante.
Diante do desespero, espera-se que a prefeita Rosalba Ciarlini considere o tamanho do problema que tem em mãos e reforce o isolamento social, certo? Não. A prefeita anunciou novo decreto, que prorroga o fechamento dos serviços não-essenciais até o dia 23. No entanto, autoriza o “funcionamento de livrarias e papelarias, obedecendo as diretrizes de segurança, como uso de álcool gel e distanciamento no interior desses estabelecimentos”. Ao contrário de Fátima, Rosalba não estendeu a rigidez do decreto, mas começa a abrir gradualmente a economia, enquanto as filas de doentes e infectados dobram o quarteirão.
Ou seja, não há harmonia, nem articulação no combate a pandemia em Mossoró, quando se trata de Governo e Prefeitura. As pressões econômicas agem em ambas as instâncias, com reações distintas. Enquanto uma busca endurecer o isolamento a fim de evitar maior número de contágios e desafogar os hospitais, outra vai cedendo silenciosamente contribuindo com o não-cumprimento patente na cidade.