Combate ao coronavírus

Por que Mossoró não consegue alcançar os níveis do RN no combate à Covid?

Enquanto outras regiões contribuem no combate à pandemia e o Estado zera filas e reduz a ocupação de leitos, Mossoró se vê diante de números elevados e fora do controle na pandemia. E a cidade já não tem mais onde enterrar seus mortos

A cautela tem sido atributo do Governo neste período de pandemia. Sobretudo, no quesito reabertura gradual do comércio. As pressões vêm de toda parte, sejam dos empresários que sentiram a água bater no pescoço, sejam dos opositores que lançam gasolina em meio à fogueira apostando no caos para colher ativos eleitorais. A cautela, neste caso, precisa se associar com a paciência e a prudência, visto que a governadora Fátima Bezerra pagaria o pato caso os números da pandemia no Rio Grande do Norte ficassem fora do controle.

Neste site no Foro de Moscow, os alertas têm sido constantes para o uso político da pandemia. Fátima estava ciente disso a ponto de monitorar a situação dos leitos e das filas de doentes que se ampliavam, ainda que os prefeitos de Natal, Álvaro Dias, e de Mossoró, Rosalba Ciarlini, aproveitassem a oportunidade para seguir com a abertura econômica enquanto a governadora apelava para segurar a segunda parte da Fase 1 por mais uma semana.

Fátima enfrentou as pressões em nome da questões sanitárias, ao mesmo tempo em que seus adversários rifavam seus conterrâneos em nome de projetos políticos. O cálculo de Fátima, mesmo arriscado, considerou trabalhar na queda de ocupação de UTIs e na redução das filas para pensar, por consequência, na reabertura gradual da economia.

A governadora precisou enfrentar, isoladamente, esta situação, quando os empresários já relativizavam as mortes e os doentes e quando o dinheiro seguia falando grosso. O resultado foi certeiro e a semana começou com a boa notícia. A redução das taxas de ocupação de leitos críticos (UTI e semi-intensiva), bem como, também, a taxa de transmissibilidade são fatores que levarão o Governo a partir para a segunda parte da Fase 1 da reabertura nesta quarta-feira (15).

Para este momento, serão contemplados os  estabelecimentos com serviços de alimentação de até 300m², estabelecimentos com até 600 m² e com “porta para a rua”, dos ramos de comércio de móveis, eletrodomésticos, lojas de departamento e magazines não localizados dentro de shopping centers ou centros comerciais, agências de turismo, comércio de calçados, comércio de brinquedos, artigos esportivos e de caça e pesca, de instrumentos musicais e acessórios, joalherias, artesanatos e comércio de cosméticos e perfumaria.

Na coletiva que passou a ser frequente no Governo no intuito de esclarecer sobre as ações de combate à pandemia,  a governadora Fátima Bezerra ressaltou que o RN conseguiu a taxa geral de ocupação de leitos críticos para menos de 80% e manter a taxa de transmissibilidade abaixo de 1. Semana passada, o índice estava em 1,3, ou seja, para cada dez pessoas com o vírus, outras 13 seriam infectadas. E a boa notícia é que a fila foi “zerada”, ao contrário de situações anteriores em que ultrapassavam as 40 pessoas à espera de leito.

Claro que a situação do Estado demonstra avanços importantíssimos, que merecem ser celebrados e que também não significam que tudo está resolvido. Muito precisa ser feito. No entanto, pontualmente há situações mais preocupantes. Mossoró, por exemplo, registrou 94,44% de ocupação de leitos na manhã desta segunda-feira (13), segundo informou o Portal do Oeste, longe dos padrões estaduais e muito mais distante do recomendado para a retomada econômica (70%). Claro que para este último percentual, nem o Estado respeita mais, transformou-se em número fictício.

Mesmo assim, na semana passada, Rosalba bateu o pé ao não seguir a decisão de Fátima em aguardar mais uma semana, sujeitando a colocar seus conterrâneos em perigo. A escalada da pandemia em Mossoró é algo assustador e até sinistro. Veja a controvérsia em torno do chamado cemitério novo. A Prefeitura de Mossoró desapropriou um terreno para ampliação da área, e começou a sepultar pessoas no local antes mesmo da construção dos muros de proteção. Isso foi feito por uma simples razão: a cidade não tem mais onde enterrar seus mortos.

Imagem de vídeo da área desapropriada pela prefeitura no cemitério novo (Foto: Portal do Oeste)

Ao buscar paliativos urgentes, a 3ª Promotoria de Justiça de Mossoró não viu outra saída, senão recomendar que a Prefeitura de Mossoró avalie a possibilidade de exumação dos corpos para que sejam enterrados em túmulos abandonados no cemitério e não mais fora dele. É mais ou menos como enterrar uma pessoa por cima da outra.

Para os promotores, não se pode desapropriar qualquer terreno para servir de cemitério. Há padrões para isso. E o MP fez tais recomendações. Para ampliar o cemitério existente, devia-se observar o cumprimento das Resoluções Conama n.º 335/2003 e 420/2009, em especial no que diz respeito ao afastamento de sepulturas de estruturas hídricas, tanto superficiais quanto subterrâneas.

Ou seja, há duas situções distintas no mesmo Estado. Enquanto, outras regiões contribuem no combate à pandemia, como o Alto Oeste e o Seridó, Natal e Mossoró se veem diante de números elevados e fora do controle na pandemia. Por isso, Mossoró, em específico não tem mais onde enterrar seus mortos. Para entendermos a situação, vamos observar a taxa geral de ocupação de leitos no Rio Grande do Norte que chegou a 78,60% nesta segunda-feira (13). A região Oeste registra o maior percentual (94%), seguida da região Metropolitana de Natal (81%), Seridó (73%), Mato Grande (71%) e Pau dos Ferros (50%).

Por esta razão, há parcela importante da responsabilidade dos prefeitos no combate à pandemia. “Faço um chamamento às prefeituras por que têm papel fundamental nesse contexto. Cabe a elas o cumprimento rigoroso dos protocolos sanitários e das medidas restritivas ainda em curso. Estamos trabalhando com a perspectiva de retomar as atividades econômicas na próxima quarta-feira e para isso se faz necessário o alerta à sociedade, prefeituras e aos empresários para o cumprimento rigoroso dos protocolos sanitários”, adiantou a governadora. Ou seja, Mossoró precisa de plano sério para conter o avanço da pandemia para se equiparar à melhora dos índices no restante do Estado.