Aos 30 anos, “Nevermind” segue entre os gigantes do rock
Com a sonoridade de um pós-punk bem mais para Sonic Youth que para o Joy Division, há sintonia entre ambos os momentos
Por William Robson
Começo esta série “Grandes Discos que Ouvi” trazendo comentários e impressões sobre álbuns que considero importantes para recomendar. Toda semana, pretendo trazer um. Para começar, aproveito o aniversário deste disco do Nirvana.
Ouvi o “Nevermind” (1991), pela primeira vez, pouco tempo após o seu lançamento, há 30 anos. Também estava vivenciando a transição do vinil para o CD e a novidade digital parecia deixar os melômanos e audiófilos extasiados. Foi nesta vibe que ouvi o segundo disco do Nirvana e, talvez, o mais importante do rock nos anos 90.
O peso que emanava de “Smell Like Teen Spirit”, aberto pela combinação de flams e hi-hat de Dave Grohl, era a deixa do que estava por vir. Com a sonoridade de um pós-punk bem mais para Sonic Youth que para o Joy Division, há sintonia entre ambos os momentos. A psicodelia, a voz dilacerante, o som sujo, batidas firmes, as microfonias, tudo era características que marcaram as bandas citadas como influência que gestaram este som completamente novo, enquadrado na época como grunge.
O grunge não era unicamente a pegada pesada que o Nirvana imprimiu em “Nevermind”. Outros nomes que recebem tal carimbo trazem elementos peculiares, como o Pearl Jam e o Soundgarden, por exemplo. Mas foi com o “Nevermind” que este movimento, tendência, escola, corrente (seja o que for…) se fortaleceu e influenciou uma pá de bandas pelo mundo. No Brasil, vale lembrar, até os Titãs entraram na onda quando lançaram o “Titanomaquia” e até a surf music bebeu da fonte – taí o Charlie Brown Jr. para não deixar ninguém mentir.
Com este disco, Kurt Cobain também ascendeu à categoria dos grandes nomes do rock mundial. Seu comportamento melancólico combinava com a expressividade de suas canções, sua atitude com o desespero de suas performances vocais e com a tenacidade com que conduzia seus riffs. E alguns casos, fugindo do campo harmônico, mas com a liberdade musical que somente os ousados são capazes de fazer, como na linha de baixo em “In Bloom”.
Este álbum chega aos 30 anos tão necessário quanto no período em que o ouvi pela primeira vez. Agora, o Nirvana não existe mais, além de sua importante discografia. “Nevermind” e sua antológica capa se tornaram até motivo de processo judicial do menino pelado que olha para a nota de um dólar. Mas, nada tira o poder que está gravado e perpetuado na discoteca básica do rock.
Músicas
“Smells Like Teen Spirit”
“In Bloom”
“Come as You Are”
“Breed”
“Lithium”
“Polly”
“Territorial Pissings”
“Drain You”
“Lounge Act”
“Stay Away”
“On a Plain”
“Something in the Way”