É o fim da oligarquia?

Por que a vitória de Allyson Bezerra não aniquilou o rosalbismo?

Não se pode negar a formidável carreira de Rosalba até aqui. Enfrentá-la nas urnas a ponto de derrotá-la era encarado como algo muito, muito improvável

Por William Robson

No programa especial de sábado da Agência Moscow, onde tivemos a participação do publicitário Phabiano Santos e do juiz Herval Sampaio, entre várias projeções em torno das eleições que se dariam no dia seguinte, pairava uma certeza: a vitória do candidato Allyson Bezerra e sua chegada histórica à Prefeitura de Mossoró. Sim, não se pode negar o feito que terminou consolidado. O jovem, recém-ingressante na política e com dois anos de mandato de deputado estadual, desbancava uma oligarquia.

Rosalba pleiteava o seu quinto mandato. Desde o final da década de 80 ocupava cargos importantes e não apenas as quatro à frente do Executivo mossoroense. Senadora, governadora também entraram em seu currículo, além de fazer alguns sucessores, garantindo assim a estrutura para que pudesse sempre retornar quando quisesse e o interstício legal permitisse. Não se pode negar a formidável carreira de Rosalba até aqui. Enfrentá-la nas urnas a ponto de derrotá-la era encarado como algo muito, muito improvável.

Estátua do ex-governador Dix-sept Rosado, no Centro de Mossoró, símbolo da oligarquia

Quando fala-se no feito histórico de Allyson ante à oligarquia que não soltava a prefeitura por nada, tangenciando seus eleitores, comissionados e seguidores a mão forte, entende-se que a predominância da família Rosado no controle da cidade acumula mais de 50 anos. Não à toa, temos como símbolo de dominação e “tomada” de território, uma estátua do ex-governador Dix-sept Rosado, pai de Carlos Augusto, marido de Rosalba. A estrutura de bronze expõe a característica da oligarquia: um representante em sua empáfia, observado por um povo faminto abaixo de seus pés.

Nestas eleições, a oposição a Rosalba emergiu dividida, levantando sérias dúvidas sobre a capacidade de destroná-la. Afinal, os votos divididos permitiriam que a atual prefeita nadasse de braçadas e se consagrasse mais uma vez. Até que, por circunstâncias que poderiam ser abordadas em outro texto, a disputa foi se polarizando em torno dela e do deputado Allyson Bezerra.

A máquina oligárquica foi pressionada a trabalhar a todo vapor devido aos avanços de Allyson, apresentados em pesquisas variadas que, em boa parte, estimularam o voto útil da maior parte do eleitor que queria ver Rosalba fora da prefeitura, independente de quem ficasse em seu lugar. Os especialistas no programa de sábado analisaram esta situação.

No domingo (15), as urnas confirmaram a vitória de Allyson. Ele obteve 65.297 votos contra 59.034 da atual prefeita. Vitória com uma diferença de 6.263 votos. Mas, o êxito levantaria a pergunta: a oligarquia estava, enfim, no chão?

Com 42,96% dos votos a seu favor, Rosalba mantém-se com importante capital eleitoral e político. A derrota de domingo não desfez, de uma vez por todas, toda a edificação rosalbista ao longo de anos. Durante os comentários no programa, Phabiano Santos chegou a considerar que o terço dos votos fieis ao rosalbismo não se esvaem tão facilmente assim, como deseja a parcela dos seus adversários. E isso pode ser fator importante em processo de resiliência do grupo para pleitos posteriores. Vai depender muito do desempenho do prefeito eleito a quem os rosalbistas atribuem a pecha de “aventureiro”.

O que resta do rosalbismo a partir de agora? Por enquanto, além do capital eleitoral coeso, a manutenção de sua representação na Câmara Municipal, através do professor Francisco Carlos. Muito pouco diante da estrutura que Rosalba ou Carlos Augusto conduzia e a ascendeu ao Governo e ao Senado. Por enquanto, o rosalbismo terá pelo menos quatro anos para pensar uma forma de se reinventar via a atual prefeita ou novatos no grupo e monitorar o volume de votos que ainda estão do lado dela.