Política e religião

O recorrente púlpito político do pastor Miranda

Revoltado com a voz das urnas, atacou os membros de sua própria congregação, se dizendo envergonhado. Mas, não é a primeira vez que usou o púlpito para defender seus interesses

Por William Robson

Ao contrário do que sugere o ditado, o pastor Francisco Miranda, presidente local da Assembleia de Deus, mistura política e religião. Desta vez, utilizou o púlpito para demonstrar a sua frustração pela derrota do presidente Jair Bolsonaro. Revoltado com a voz das urnas, atacou os membros de sua própria congregação, se dizendo envergonhado. “Estou com uma coceira na garganta. O que tem envergonhado não é pouca gente. O que tem de petista no meio da igreja evangélica nos dias atuais não está escrito. Cheio de petistas…”, bradou durante um culto esta semana.

Miranda encontrou pouca reciprocidade em seus ataques. O áudio aponta para uma incredulidade naquela cena. A ofensiva contra aqueles que não votaram no candidato de sua preferência não parou. “A nossa mensagem é a mensagem do céu. Procurem uma igreja petista”, advertiu o líder religioso.

A fala do pastor Miranda ofende os petistas o tempo inteiro até afirmar que a igreja “não é petista, nem bolsonarista”, mas “firmada em Cristo”, na tentativa de remediar o preconceito. Mesmo assim, recorre a Deus e a Jesus na mensagem  para reforçar o seu argumento e jogar a ala bolsonarista da igreja contra a ala progressista. Logo após, convida um fiel “não petista” para fazer a oração que enaltece a cisão daquele grupo.

Lula venceu em Mossoró com uma maioria de quase 50 mil votos. Pelo menos, um terço dos evangélicos está neste contingente. É intempestivo e inconsequente constranger os membros de sua igreja que estão ali em busca de conforto espiritual, não de doutrinação política. Já não basta a forte colonização das consciências por líderes evangélicos que usam o púlpito para os seus interesses.

Miranda, ao lado do prefeito Allyson Bezerra: política e religião

Aliás, Miranda adora a política a seu favor. No início da gestão de Allyson Bezerra, entrou em rota de colisão com o prefeito, que não manteve uma pessoa de sua predileção na direção do Colégio Evangélico Leôncio José de Santana. Irmã Marta ocupava o cargo há mais de uma década, refratária a, pelo menos, três prefeitos anteriores.

Precisou que subisse ao púlpito novamente para demonstrar a sua indignação. “Agora foi eleito um irmão em Cristo, Allyson Bezerra, aí o irmão crente, tirou a irmã da frente da escola. Os irmãos vejam que o sino não está batendo correto, não está batendo direito. Oremos pela nossa cidade”, discursou em janeiro de 2021.  Entre 2016 e 2019, a Secretaria Municipal de Educação fez pagamentos que somaram R$ 705 mil à Assembleia de Deus, ou R$ 15 mil por mês, além do fornecimento de servidores do Município para a manutenção da escola. O contrato foi rescindido.

Quer  dizer, sempre que seus interesses são atacados, Miranda sobe ao púlpito, levanta a bíblia e sente algo na garganta. “Por favor, eu precisava desengasgar este negócio. Glória ao nome de Jesus!”, esbravejou, após atacar os irmãos eleitores do Lula.