Caos no Amazonas

O que preocupa o RN na transferência dos doentes de Manaus?

Enquanto uma ala inteira de pacientes morria sem ar em hospitais da capital, a solidariedade foi o caminho mais viável neste momento. Porém, isso implica em certos cuidados

Por William Robson

O Amazonas é mais emblemático exemplo do caos originado pela displicência dos governantes no enfrentamento da Covid-19. As imagens da inúmeras covas e fossos onde as vítimas do vírus foram enterradas, correram  e escandalizaram o mundo. O caos revelou também a incompetência conjunta de todos os emtes: do Governo do Amazonas, da Prefeitura de Manaus e do Governo Federal. Como resultado deste inferno, os hospitais lotados enfrentaram a falta de oxigênio, elemento necessário para os pacientes mais graves.

“Os hospitais viraram câmaras de asfixia”, disse o pesquisador Jesem Orellana, da Fiocruz/Amazônia à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Algo, portanto, precisava ser feito. Enquanto uma ala inteira de pacientes morria sem ar em hospitais da capital, a solidariedade foi o caminho mais viável neste momento.

De onde menos se esperava, chegou ajuda. O chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, informou, via Twitter, que o presidente Nicolás Maduro “instruiu para que se colocasse à disposição imediatamente o oxigênio necessário para atender à contingência sanitária em Manaus”. Logo a Venezuela tão hostilizada por brasileiros seguidores do bolsonarismo negligente.

Além disso, cerca de 750 pacientes serão enviados para outros Estados em situações “controladas” e com condições de recebê-los. Um deles é o RN. Ao menos dez pacientes devem desembarcar ainda nesta sexta-feira (15),  em voo da Força Aérea Brasileira (FAB). O Estado será um dos primeiros na leva de 235 pacientes transferidos para outros Estados, entre eles, Maranhão, Piauí e Paraíba.

O RN tem se destacado no enfrentando da pandemia, mesmo com as recorrentes tentativas de boicote no período de isolamento social. Como ocorreu recentemente em Manaus, a governadora Fátima Bezerra enfrentou a pressão dos empresários e do setor econômico para que abrisse a economia independente do caos e os mortos que resultariam a partir disso. Fátima, ao contrário dos manauaras, não cedeu. Permitiu a retomada econômica quando os índices de ocupação de leitos nos hospitais do Estado alcançassem níveis próximos a 70%.

Até esta quinta-feira (15), a Covid cobrou a vida de 3.138 pessoas no RN, com 126.890 casos registrados. Números que poderiam ser bem maiores se não houvesse monitoramento e acompanhamento sistemático da pandemia no Estado. E, com a chegada dos pacientes do Amazonas, as autoridades sanitárias potiguares carregam outra preocupação em meio aos atos de solidariedade.

Segundo a Secretaria de Saúde do RN, a nova variante da Covid-19 é o que mais inquieta. A cepa tem potencial contagioso muito maior que o vírus original. Sua disseminação tornaria o quadro tão incontrolável por aqui como no Amazonas.  Por isso, o órgão emitiu uma nota.

“A equipe de Vigilância Epidemiológica da Sesap e o Laboratório Central de Saúde Pública do RN (Lacen) se organizam para execução de ações que conduzirão o processo de sequenciamento genético das amostras dos pacientes que tiverem coletado RT-PCR no estado de origem”, diz o comunicado, ao salientar que as equipes irão estabelecer o fluxo em parceria com o Laboratório de Virologia da UFRN, que mantém articulação com a Fiocruz, para o sequenciamento dessas amostras e identificação da Cepa do vírus SARS-CoV-2.

O mapeamento genético será necessário para compreender a natureza do vírus e os procedimento a serem tomados após sua identificação. Os pacientes serão encaminhados para o  Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), em Natal. Mossoró não deverá receber pacientes de Manaus.

“Os irmãos amazonenses estão precisando de toda ajuda possível neste momento difícil, e aqui no RN não mediremos esforços pra fazer a nossa parte. O momento é, mais do que nunca, de união e solidariedade”, afirmou a governadora, via Twitter.  Segundo a governadora, o caos no Amazonas levou o governador Wilson Lima a pedir ajuda ao Governo do RN.