Fátima não descarta fechar tudo novamente e retomar isolamento
Na “Proposta de Cronograma para Abertura Gradual da Economia Potiguar”, estudo de 38 páginas que norteia as fases que desatam a economia, o Governo estabelece intercalamento entre as três fases chamado de “7º Dia de Avaliação”, cruciais para compreender o cumprimento dos protocolos sanitários
Mal amanheceu e o noticiário desta quarta-feira (1) na TV já demonstrava um RN eufórico, despreocupado, como se todos os potiguares já estivessem vacinados contra o coronavírus. As imagens do “Bom Dia RN”, programa da Interv Cabugi, impressionavam com a quantidade de pessoas nas ruas da capital e o início da fiscalização para exigir o cumprimento dos protocolos sanitários impostos pelo Governo e pela Prefeitura de Natal. Em Mossoró, as imagens locais geraram a sensação de que todos estavam ansiosos em ocupar o Centro da cidade. Um dos comerciantes entrevistados ressaltou que será preciso cumprir todos os cuidados, porque não quer repetir o prejuízo que obteve no período em que esteve com seu estabelecimento fechado.
O temor é factível. A governadora Fátima Bezerra reabriu parcialmente o comércio, não escancarou os estabelecimentos sem qualquer critério. Será um teste de fogo para a governante e para os comerciantes. Para a primeira, ao tentar reativar a economia em período de pandemia, com mil mortes registradas desde ontem e com os parâmetros apontando desfavoravelmente. Como ressaltou o professor José Dias do Nascimento Junior, do Departamento de Física da UFRN, a situação epidemiológica do Estado ” não comporta os critérios e parâmetros compatíveis com uma recomendação de flexibilização do distanciamento social e reabertura”.
Para o segundo grupo, o dos comerciantes, pelo fato de transgredir em parte os decretos anteriores e agora ter para si a carga da responsabilidade de manterem-se abertos. Isso porque o maior termômetro para a economia permanecer em funcionamento será os níveis de transmissão e de ocupação das UTIs no sistema de saúde (já em alerta!).
Os prefeitos de Natal e Mossoró correram para editar decretos pela reabertura. Por eles, Álvaro Dias e Rosalba Ciarlini, o comércio jamais fecharia, e foram várias as pressões neste sentido. A pressa da retomada foi praticamente instantânea. Porém, tiveram de serem sensatos em impor regramento sanitário que garantisse o recomeço tranquilo.
Em declaração ontem, a governadora Fátima Bezerra afirmou: “As empresas devem manter todos os protocolos rigorosos, cumprir as medidas de higienização. Esse início não significa que nós devemos descuidar das medidas de distanciamento, de isolamento social. Não queremos ter retrocesso”. Preste bem atenção nesta palavra: “retrocesso”. A possibilidade de voltar a fechar o comércio e compelir novo isolamento social é algo que está nos planos do Governo e pode ser aplicado a qualquer momento. Vai depender do nível de conscientização dos comerciantes. “Se houver aumento da contaminação e da ocupação de leitos não hesitaremos em voltar a restringir as atividades para proteger a vida das pessoas”.
Fátima: “Se houver aumento da contaminação e da ocupação de leitos não hesitaremos em voltar a restringir as atividades para proteger a vida das pessoas”.
Pela primeira vez, o Governo passa a bola para que os empresários conduzam o problema da pandemia. Até então, as rédeas do Estado mantinham os estabelecimentos fechados e refreava a economia. Isso tem alto preço é verdade, nada comparado às vidas que seriam perdidas em nome do capital. Mesmo com Fátima rendida à força do dinheiro, o deslocamento da responsabilidade agora passa para o empresariado, sob monitoramento constante do Estado. A maior questão é: será que a governadora terá pulso para retroceder se for necessário?
Na “Proposta de Cronograma para Abertura Gradual da Economia Potiguar”, estudo de 38 páginas que norteia as fases que desatam este processo, o Governo estabelece intercalamento entre tais fases chamado de “7º Dia de Avaliação”. A primeira análise ocorrerá na semana que vem, e a partir daí, será possível vcrificar a possibilidade de seguir para a fase seguinte, ou retroceder. Ou seja, a reabertura não é definitiva, nem caminha obrigatoriamente para um processo evolutivo de retomada gradual a total.
Por esta razão, as três fases de reabertura obedecem a ordem de, em primeiro lugar, atender às atividades que economicamente estão em situação mais crítica, para seguir para as atividades com capacidade maior de controle de protocolos e que possam gerar menor aglomeração.
“As empresas têm que cumprir todos os protocolos sanitárias mantidos para que tenhamos retomada com toda a segurança. Até porque não queremos que aconteça o que está ocorrendo em outros estados”, afirmou a governadora Fátima Bezerra.
Regiões do interior de São Paulo tiveram que fechar novamente suas lojas quando a contaminação começou a elevar. Outros Estados evitam pagar para ver e decretam medidas rígidas como o lockdown antes de pensar em reabertura. O caso de Blumenau (SC) se tornou o mais emblemático e complexo. “Por favor, nos ajudem”, implorou o prefeito da cidade, Mário Hildebrandt, depois que sua cidade registrou aumento de quase 40% em casos da doença em 10 dias de reabertura.
Portanto, a primeira fase que começa nesta quarta-feira (1) também será de monitoramento por parte das autoridades do Governo, conforme entrevista coletiva no dia anterior. A conscientização tão solicitada e até imposta, mas não cumprida, deverá ser motivada pelo fator econômico desta vez.
Os empresários terão a opção de respeitar os protocolos e conter a gana por lucro desmedido ou estarão sob ameaça de nova interdição para que mais vidas não sejam perdidas. Talvez assim, possa haver um equilíbrio entre dinheiro e a saúde das pessoas.Se não se intimidaram com o peso de multas por transgressões aos decretos (se é que alguém foi multado), poderá vir pelo receio de fechar tudo outra vez.