De "bolsa esmola" a Renda Brasil

Como Rogério Marinho constroi o caminho para Bolsonaro no Nordeste?

Se for você bolsonarista-raiz já tratou o Bolsa-Família como “bolsa-esmola”, “bolsa-farelo”, que “não se pode dar o peixe, tem de ensinar a pescar”, ou coisas do tipo. Bolsonaro pretende ampliar o programa a contragosto com fins populistas e eleitorais

Por William Robson

Se você for bolsonarista-raiz, de dancinha na Praça Portugal,  e mapear seus posts nas redes sociais certamente encontrará um que tratará o Bolsa-Família como “bolsa-esmola”, “bolsa-farelo”, que “não se pode dar o peixe, tem de ensinar a pescar” ou coisas do tipo. Os capitalistas sem capital sempre defendiam que Bolsonaro deveria reduzir a ação do Estado sobre as pessoas, porque elas mesmas poderiam se virar sozinhas. O Estado seria mínimo para o povo e máximo para as elites, em outras palavras.

Como já sabemos, Bolsonaro não gosta do Nordeste, vê os nordestinos pejorativamente como “paraíbas” e, como escrevi em artigo anterior, se pedíssemos para apontar onde fica o Estado do Rio Grande do Norte no mapa, teria dificuldades em acertar.

Bem, agora ele prepara uma ofensiva que visa ludibriar os nordestinos, que por sua vez, não vão com a cara do Bolsonaro. Ele, o presidente, e os seus foram rechaçados nas urnas, inclusive, o ex-deputado federal Rogério Marinho, político que o potiguar gostaria de ver enterrado, porém ressuscitou por força das hostes bolsonaristas na condição de ministro do Desenvolvimento Regional do governo fascista. Ou seja, o presidente encontrou uma alternativa para quem o Rio Grande do Norte c0nhece bem.

Marinho concedeu entrevista ao jornal O Globo, explicando as estratégias do bolsonarismo no Nordeste. Para quem não está contextualizado, Bolsonaro tem feito várias visitas a Estados da região, inaugurando obras praticamente realizadas em governos progressistas. É claro que Bolsonaro não tem um trabalho sequer para chamar de seu na região, por isso, apropria-se do que ele jamais realizaria se tivesse de começar do zero. Como citado no começo deste texto, até o Bolsa Família estaria ameaçado.

O ministro expulso do RN reconheceu que não se pode “reconstruir o país do zero e fazermos de conta que não aconteceu nada antes”, mas não dá o crédito ao afirmar isso. E se a bolsa era esmola, agora precisa ser ampliada, segundo eel. “Descobrimos que existiam milhões de “invisíveis”, que não foram atendidos ao longo de décadas”, diz, logo ele que é desta região. Onde Rogério Marinho estava em todo este tempo no Rio Grande do Norte, que não percebia a miséria do povo?

Por isso, ele justifica a intenção de Bolsonaro em criar o seu “Bolsa Família” com o provável nome de “Renda Brasil”. Já pensando em 2022, Bolsonaro pretende ampliar o raio de beneficiário e acrescentar penduricalhos no benefício que já existe. Logo ele que criticava uma das forças-motrizes no combate à fome no Brasil, obra do ex-presidente Lula. “O voto do idiota é comprado com bolsa família”, disse o então deputado em palestra na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Assim, não dá para crer que Bolsonaro foi transformados com estalos de sensibilidade e alteridade. Estamos no caminho dos cem mil mortos por covid-19 e, sem empatia  qualquer, diz que a vida precisa seguir. Não, Bolsonaro está em campanha eleitoral e sua convicção está baseada em que nordestinos são idiotas compráveis com Bolsa Família.

É evidente e Marinho confirma a intenção. “Qualquer ação do presidente tem viés político”, afirmou, acrescentando que recebeu a incumbência do presidente de abrir caminhos neste sentido no Nordeste.  A estratégia é avançar sob os espaços populares, edificados pelo Partido dos Trabalhadores, e tentar neutralizá-los com medidas populistas (lembrem que eles detestam o Nordeste e o Bolsa Família). ” O Nordeste nunca foi propriedade de um partido político”, afirmou, em alusão ao PT.

Para isso, o governo bolsonarista precisa ser irrigado por este populismo e pela demagogia que já permeia o Nordeste e poderá desembarcar pelo Rio Grande do Norte ainda este mês. “O presidente tem muita sensibilidade por esses temas. Cada viagem dessa ele se recarrega, se oxigena, porque a reação das pessoas nos emociona”, conclui Marinho. Agora, se você não for bolsonarista-raiz, já pode rir.