Como a indústria da fome fez do RN um Estado de miseráveis?
No RN, o quadro impressiona de tão grave. 59% dos potiguares estão em situação de “insegurança alimentar”, termo utilizado pelo IBGE para designar aqueles que passam fome
Por William Robson
Comer é um direito humano a ser preservado por qualquer ideologia ou sistema político. Ninguém pede para nascer. Mais do que isso: ninguém pede para adentrar em qualquer regime de Governo ao nascer. Mas, se nasceu, as condições a serem oferecidas devem garantir que essa pessoa não morra de fome.
Parece algo lógico e o Brasil até parecia ter superado a questão. Em 2014. após sucessivas políticas de combate à fome iniciada em governos progressistas, o país deixou de integrar o mapa infame dos famintos. Em 2014, o Brasil ficou de fora da lista das nações com 5% de sua sociedade ingerindo menos calorias que o recomendável. Projetos como o Bolsa Família, plano de transferência de internacionalmente aplaudido, contribuíram para este fator enquanto os capitalistas sem capital acreditavam que a solução seria “ensinar a pescar, não dar o peixe”.
Em 2016, o golpe que interrompeu tais políticas levou deixou o país em parafuso. Se antes os brasileiros pensavam em trocar a geladeira, o fogão, comprar um carro ou ter a sonhada casa do Minha Casa Minha Vida, agora pensam na mais básica das necessidades. O que vai comer hoje, sem garantias de comida para o dia seguinte. Em outras palavras, voltamos ao mapa da fome e quem afirma isso é o relatório do IBGE divulgado neste dia 17.
Se não bastasse a miséria à porta, o preço do arroz (item fundamental do cardápio do brasileiro) é vendido R$ 38, o pacote com cinco quilos. Muitos brasileiros acreditaram em Bolsonaro achando que o 38 referia-se ao revólver que, porventura, gostaria de ostentar na cintura. A alta dos preços vai além e tem pessoas que já estão trocando carne por ovo. Outros pedem esmolas nas redes sociais, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
No RN, o quadro impressiona de tão grave. 59% dos potiguares estão em situação de “insegurança alimentar”, termo utilizado pelo IBGE para designar aqueles com dificuldade de acesso aos alimentos básicos como arroz, feijão, carne e frutas. São três níveis (grave, leve e moderada) e a soma coloca mais da metade da população do Estado em contato direto com o fantasma da fome. A situação poderia ser pior se um projeto da deputada estadual Isolda Dantas e sancionada pela governadora Fátima Bezerra que permitia a entrega da merenda escolar às famílias dos alunos da rede estadual não prosperasse. E se os restaurantes populares estivessem fechados no período de pandemia.
O potiguar é um povo extremamente vulnerável que precisa de cuidados. Não pode ficar à mercê de truísmos liberais que nem entregam o peixe, nem ensinam a pescar. Do contrário, sob a lógica de Temer e Paulo Guedes, não chegaríamos ao ponto de voltar ao mapa da fome. A ação do Estado é fundamental para que não tenhamos mais miseráveis.
A fome foi, por muito tempo, um projeto. Não havia interesses das poucas famílias que se alternavam no poder de dar fim a isso. A fome é engrenagem de uma indústria rentável que aprisiona os miseráveis e rende votos para os populistas e demagogos, que tiraram muito proveito das tribulações da seca. Programas de Emergência, Funrural, carros-pipa sempre foram os melhores mecanismos para transformar a miséria em urna recheada de votos.
O maior desafio da governadora Fátima Bezerra, cujo Governo efetivamente só está descascando abacaxis até agora, é pensar em um programa de segurança alimentar eficiente e estruturante, capaz de reduzir este percentual constrangedor. Embora os dados do IBGE compreendam o universo entre 2013 e 2018, quando ainda não estava no Governo, a situação deixada pelos governos anteriores, merece a atenção que não foi dada. Afinal, o RN nunca teve governantes comprometidos com o bem-estar das pessoas. E não dá para falar em nada, enquanto a barriga dos dos jovens, crianças, homens e mulheres potiguares estiverem vazias e sem esperança.