6 de outubro de 1996

Coleção Mossoroense, a pequena grande editora

Coleção Mossoroense lança 2,5 mil títulos e vai enfrentando com eficiência todas as tribulações

Por William Robson

Há quem imagine que Mossoró não disponha de muitos escritores. Vai ver é porque não conhece o trabalho realizado pela Coleção Mossoroense, uma editora local que lançou apenas em um ano – de 25 de setembro de 95 a 25 de setembro de 96 – cem publicações, entre elas, 50 livros. Muitas delas são de escritores novos e revelações que conseguiram colocar suas obras para frente por causa de uma iniciativa interessante e culturamente, relevante.

A Coleção Mossoroense é encabeçada pelo escritor Vingt-un Rosado, que há muito tempo anda vidrado por livros. Em 1948, época em que Dix-sept Rosado era prefeito de Mossoró, Vingt-un conseguiu convencê-lo a montar uma biblioteca. O fato se concretizou com cinco dias da gestão do político, servindo de base para novas idealizações de âmbito cultural e que estão dando conta do recado até hoje, como é o caso do Museu Histórico Lauro da Escossia

Vingt-un com algumas publicações de sua editora (Acervo: Gazeta do Oeste)

O projeto fot dando certo. Nasceu o “Boletim Bibliográfico”, que manteve-se até 1961, lançando 153 números. A Coleção Mossoroense deu as caras a partir de 30 de setembro de 1949 – exatamente um ano após a criação da citada biblioteca

Como numa coisa que sempre puxa a outra, a Coleção Mossoroense originou um evento anual para expor as obras da editora lançadas no periodo. Batizou-o de Noite da Cultura. Tradicionalmente acontece no dia 25 de setembro. geralmente na Loja Maçônica. Esse ano marcou a sua 22a edição

Bem no começo de tudo, os bons tempos estavam do lado da Coleção Mossoroense. Na 17a Noite da Cultura, por exemplo, 400 novos titulos toram lançados. Um fato inusitado também para o cenário literário nacional da época

ADMINISTRAÇÃO

Mas para conseguir chegar a um reconhecimento, ela passou por situações “barra-pesada” Caiu na instabilidade e por pouco não fechou. A Coleção Mossoroense era ligada à Fundação Guimarães Duque de responsabilidade da Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM).

No Inicio dos anos 90, quando o professor Joaquim Amaro Filho assumiu a diretoria da Esam, uma crise interna fez com que ele desativasse todos os trabalhos da fundação. “Ele cortou inteiramente toda a cobertura que a escola vinha dando à Coleção Mossoroense”, diz Vingt-un.

A resolução afetou em cheio o trabalho da editora, que entrou então, ao tempo das vacas magras. Uma pequena ajuda da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) segurava as pontas e não deixava ninguém dar o tiro de misericórdia. A 20a Noite da Cultura, realizada em 1994. confirmava o que seria o declínio da Coleção Mossoroense, lançando apenas sete publicações

Como as atividades da Fundação Guimarães Duque estavam paradas, surgiu a idéia de reativá-la. agora sob a nomenclatura de Fundação Vingt-un Rosado, o que aconteceu em 7 de abril de 1995. “João Batista Cascudo Rodrigues e Sebastião Vasconcelos fizeram-na renascer porque viram que a Coleção estava morrendo”. relembra Vingt-un.

Acervo: jornal Gazeta do Oeste
Agradecimentos: Rádio Difusora

 

 

Alguns trabalhos lançados este ano pela Coleção Mossoroense

LIVROS

CORDÉIS

• Mossoró – Fatos e Gente que Fizeram Sua História de Wilson Bezerra de Moura

• A Entrada dos Cardeiros de Ángela Maria Cunha F de Medeiros

• Como Surgiu a Sbec, de José Saldanha de Menezes So- brinho

• História da Vaca Calçadinha, de Luis Gonzaga Brasil

• Fragmentos da Vida. de Rubens Coelho

 

FOLHETOS

• Nas Veredas da Terra do Sol. de José Romero Araujo

Cardoso

• A Verdadeira Transnordestina, de Otto Guerra

• Uma Data e Dois Homens, de Elder Heronildes da Silva

• Introspecção de Cid Augusto

• Pelos Caminhos da Esam de Vingt-un Rosado

• Um Poema do Presente, de Marcos Ferreira de Souza

• História da Imprensa em Talpu. de Gustavo de Castro Praxedes

• Até ao Sertão, de Marcos Severo de Amorim

• Memórias de um Comerciante e Banqueiro, de Sebastião Gurgel

• Conceitos de Minha Vida de Michelle Rosado Cure de Medeiros

• O Cerco de Jericó de Joscelito Marques Ferreira

 

Editora tem forma acessível de lançar novos escritores

Sem apoio de ninguém. nem mesmo do governo a Coleção Mossorense estava em extinção. O apoio da Esam não existia mais e o governador mandava apenas uma resma de papel por mês. A iniciativa de reabertura da Fundação Vingt-un Rosado deu no ano passado outra visão para a editora, agora bem mais otimista.

No ano passado, a Coleção colocava ao seu público sessenta lançamentos. Este ano, o índice subiu mais de 50%. O total já publicado passa dos 2.350 títulos, entre folhetos, livros e cordéis, distribuidos em quatro séries distintas. Isso porque existe uma forma acessivel dos escritores poderem publicar as suas obras. A editora entra com 100% do material, o trabalho grafico realizado na Es cola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN) e o acabamento.

O escritor paga apenas 20% do que seria cobrado normalmente nas graticas convencionais, entrega o original ja digitado e diagramado, além das gratiticações para as pessoas que participarem no trabalho de confecção do livro.

TIRAGEM

A média da tiragem é de 300 exemplares. O autor fica com 250 e o restante com a editora. “Isso possibilita o aparecimento de gente nova na literatura”. acredita Vingt-un. “Antes da fundação ser desativada, lançamos mais de cem novos escritores, Inclusive pessoas como Dorian Jorge Freire, um jornalista que honra o Brasil, Marcos Filgueira, Jaime Hipólito, entre outros”

Para Vingt- un, as portas da Coleção Mossoroense estão abertas a qualquer escritor interessado. Por causa disso, dessa flexibilização, muitos reclamam da inexistência de uma pré-seleção do material a ser publicado, que compromete, assim, a qualidade do acervo. “Eu acho que devo lançar todo mundo porque, fazendo assim, pode aparecer um Dorian Jorge Freire, um Benedito Vasconcelos e os atuais meninos que o Cid Augusto está descobrindo quase que com uma varinha do condão”, explica o escritor