Pau dos Ferros

A postura de Marianna na visita de Bolsonaro

Diante do negacionista, valente com mulheres e que fez pouco caso da pandemia que matou mais de de 500 mil pessoas, a prefeita mandou uma mensagem

Por William Robson

A prefeita de Pau dos Ferros, Marianna Almeida, recepcionou o presidente Jair Bolsonaro, vestindo-se de preto. Diante do negacionista, valente com mulheres e que faz pouco caso da pandemia que matou mais de 500 mil pessoas, a prefeita mandou a mensagem. Por um lado, o recado da dor de tantos familiares enlutados pelo país (só no RN, são 6.600 vítimas da Covid-19) e, por outro, de que não compactua com um governante insensível. “Estou cumprindo o meu papel institucional”, disse em suas redes sociais, a primeira prefeita eleita da cidade. Sua atitude teve ampla repercussão nas redes sociais nesta quinta-feira (24).

Marianna chegou à cerimônia onde o presidente Jair Bolsonaro assinou a Ordem de Serviço para construção do Ramal do Apodi. Apesar da importância da obra, já que o Ramal do Apodi deve levar as águas do Eixo Norte do Rio São Francisco a 54 municípios RN e Estados vizinhos, a passagem do presidente por Pau dos Ferros foi marcada por vexames.

No dia anterior, guerra de outdoors entre militantes favoráveis e desfavoráveis a Bolsonaro, culminando com funcionários do Dnit derrubando as placas daqueles que criticavam o Governo. Os elogios ficaram de pé. Depois, aglomerações iniciadas no aeroporto de Mossoró. Bolsonaro, com o ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho a tiracolo, desembarcou sem máscaras. E assim cumprimentou seus correligionários.

Chegou, inclusive a desincentivar quem estava usando. Uma criança foi colocada em seus braços. Logo, o presidente fez questão de puxar a peça que protegia o menino. Noutra situação, pediu para que outra criança baixasse a máscara no palco. Um show de horrores.

Bolsonaro, com Rogério Marinho a tiracolo, ao desembarcar no aeroporto de Mossoró, sem máscara e promovendo aglomerações

Contrária a tudo isso, Marianna tem outras características. Estimula o uso das máscaras e acredita na ciência. “Ao usar máscara nós não apenas nos protegemos, mas protegemos o próximo. Protegemos as pessoas que amamos, e, com isso, conseguimos salvar mais vidas”, relatou. “Diga não, sempre, às saídas emergenciais, sem total respaldo científico. Lembremos, diariamente, da dedicação, de mais de um ano, de diversos profissionais (em especial os da saúde), que, todos os dias, lutam por nós”,

Marianna guarda este perfil sensato. Mas, como manda o figurino, foi ao evento. Tapando o nariz, mas foi. Usando máscara em meio a um grupo negacionista que não deu o mesmo exemplo. Distante do presidente, evitava olhar em sua direção. Estava evidente que sentia-se como peixe fora d´água naquele universo negativamente carregado. Mesmo assim, a prefeita representou toda revolta de um povo abandonado pelo seu líder.

Os blogs repercutiram imediatamente a atitude da prefeita.  O jornalista Saulo Vale informou em seu Instagram que “simpatizantes da prefeita afirmaram que o preto foi em sinal de luto”. E que luto se estendeu para a sua máscara. Mesmo assim, evitou qualquer confronto, chegando a agradecer o apoio do ministro das Comunicações, Fábio Faria, em atender demandas do Município.

“Gratidão ao Deputado e Ministro das Comunicações, Fábio Faria, pelo reconhecimento e pela parceria de tantos anos com o nosso município”, ressaltou em suas redes sociais. “O ministro destinou R$ 500.000,00 (Quinhentos mil reais), referente ao OGU de 2020, para drenagem e pavimentação do Perímetro Irrigado”.

Claro que, institucionalmente, Marianna precisou agir de forma protocolar, sem criar embaraços. No entanto, a forma como se apresentou na cerimônia foi o suficiente para demonstrar a repulsa ao descaso bolsonarista diante da pandemia. Marianna pertence ao PSD, o mesmo partido de Fábio Faria, mas que no âmbito local, tem ligações com o PT. Aliás, a governadora Fátima Bezerra sequer foi convidada para a solenidade.

Pau dos Ferros recepcionou Bolsonaro com vaias. O local da solenidade teve baixíssima presença dos pauferrenses, naturalmente em boa parte, por conta da pandemia. Bolsonaristas, à base de Ivermectina e Cloroquina, se atreveram a comparecer, Mas, até nisso, outro recado foi reforçado: de que o presidente não é bem vindo à cidade, onde teve 23,4% dos votos no segundo turno. Haddad venceu por 76,6%.