A morte não transforma abjetos em divindades
É necessária a reflexão diante de um ser infame e mesquinho, canonizado apenas pelos empáticos seletivos bolsonaristas
Por William Robson
É natural que no universo cristão em que vive a sociedade brasileira, alguém passa a ser reconhecido pelo que nunca foi após a sua morte. É como se a virtude chegasse tardiamente como inscrição na lápide. Assim vem ocorrendo com o guru da extrema-direita, Olavo de Carvalho, vítima do vírus que renegou e que propagava a inexistência entre os seus seguidores. Olavo é conhecido pelos simpatizantes como fosse um filósofo, embora agisse como um Rasputin tupiniquim desde que Bolsonaro ascendeu ao poder e levou consigo a rataria.
O escritor de livros delirantes, que lançava dúvidas sobre a forma da terra e afirmava que a Pepsi era adoçada com fetos, defendia o o benefício do cigarro (considerando saudável) e que a pandemia era uma mentira.
O certo é que Olavo morre com um legado de balela, responsável por discursos que resultaram em políticas públicas antipovo praticadas pelos seus admiradores que ocupam o Governo. A Covid relativizada foi exemplo disso. O retardamento na compra das vacinas, também. A diplomacia ameaçada com a China quase lança o que ainda resta de Brasil no buraco. O produto do olavismo é de destruição. Por onde passou, não nasceu mais grama, como o cavalo de Átila. E, nem pelo fato de ter morrido, tais constatações não devem ser jamais omitidas.
“Que Deus perdoe ele de todas as maldades que cometeu”, disse Heloísa de Carvalho, sua filha. “Olavo morreu de Covid. Não tem como eu sentir grande tristeza pela morte dele, mas também não estou feliz. Sendo sincera comigo e meus sentimentos”. Ela se considerava órfã de pai e mãe e escreveu um livro em que destaca como a linguagem tóxica e nociva de Olavo de Carvalho foi destrutiva e apoderada pelo Estado e pelos radicais de extrema-direita que viam em sua figura exemplo de superioridade.
Diante de tudo isso, avaliações por sua postura enquanto destilava suas ideias precisam ser realçadas mesmo após o seu falecimento. Claro que é necessária a reflexão diante de um ser infame e mesquinho, canonizado apenas pelos empáticos seletivos bolsonaristas.
Sim, sua morte atiçou a sanha bolsonarista , que pressionava pela lamentação massiva a um sórdido. Se vai para o céu ou para o inferno, cabe aos religiosos avaliarem e aos deuses. O rastro de ruínas deixado em um país devastado pela insanidade é que precisa ser apreciado. Enquanto os empáticos seletivos bolsonaristas não saírem do transe jamais serão capazes de compreender a semelhança do esgoto de onde saíram com o Brasil que Olavo buscou transformar.