Eleições

A ausência em debates como estratégia política

Como as redes sociais se tornaram hegemônicas e as TVs decadentes, participar de debates se transformou em opção e estratégia eleitoral. Muitos políticos pensam nas vantagens e desvantagens de entrar em campo digladiante enquanto pedra ou teto de vidro

Por William Robson – Agora RN

Na primeira eleição direta para presidente da República, a TV Globo organizou um debate entre aqueles candidatos que saíram melhor para um segundo turno. Na ocasião, em 1989, foi um evento transmitido através de um pool de emissoras. Os candidatos eram Lula e Fernando Collor de Mello.

Naquela época, não existia a internet como conhecemos. A televisão era o meio mais popular no país. A Globo, a emissora mais poderosa do que nunca. Em 2001, Armando Nogueira, então diretor de jornalismo da Globo, confirmara o que todos já desconfiavam: houve manipulação do debate e concluiu que a falha foi “um gol contra da TV Globo” e um “desserviço” à emissora.

A estrutura comunicacional mudou bastante em 35 anos. A internet alcançou parcela importante da sociedade. As redes sociais dominam. Os streamings afetaram a programação da TV e o velho modelo de sinal aberto está cambaleando. Por outro lado, os debates políticos se ampliaram, alcançando outras emissoras, em campanhas tanto para presidente, quanto para governadores e prefeitos. No entanto, nem de longe, guardam a força de décadas passadas.

Como as redes sociais se tornaram hegemônicas e as TVs decadentes, participar de debates se transformou em opção e estratégia eleitoral. Muitos políticos pensam nas vantagens e desvantagens de entrar em campo digladiante enquanto pedra ou teto de vidro. Em 2022, por exemplo, o líder nas pesquisas, o ex-presidente e candidato Lula (PT) informou que não participaria dos debates do segundo turno marcados pelo SBT e pela Record TV. Repetiu o que fez em 2006, na disputa pela reeleição, ao ausentar-se do debate da TV Globo. Uma cadeira vazia foi disposta ao lado dos demais concorrentes.

Semelhante estratégia foi adotada pela ex-presidente Dilma, em 2010. Ela faltou ao embate promovido no primeiro turno pela TV Gazeta em parceria com o jornal “O Estado de S.Paulo”. Quatro anos depois, a mesma decisão na TV Cultura e no “Estado de S.Paulo”. Também em 2014, o agora vice-presidente Geraldo Alckmin, buscava a reeleição de governador de São Paulo e faltou ao debate da TV Bandeirantes no primeiro turno, alegando problemas de saúde.

Nas eleições deste ano para as prefeituras, os debates se reconfiguraram em ambientes de baixaria. Em São Paulo, o candidato Pablo Marçal (PRTB) utilizou destes momentos para bater boca como estratégia a ser usada em redes sociais. “Olha, aquilo ali foi só para gerar cortes, viu?”, disse ao programa Roda Viva. O debate, em si, não importa. Propostas, confronto de ideias tampouco. O momento é de gerar cortes editados para memes e falas enviesadas, a fim de inflar a militância na internet.

Assim, estes momentos na televisão ganharam outro objetivo. Continuam sisudos, engessados e poucos dinâmicos. Até aí nada mudou. O dinamismo se dá a partir das edições maliciosas geradas a partir destes encontros, em boa parte, insalubres. Por esta razão, muitos nomes em disputa avaliam a viabilidade de adentrar tais ambientes.

No RN, os programas com estas características são avaliados pelos candidatos. Não é de agora. A governadora Fátima Bezerra (PT), em 2022, também faltou ao debate da Rede Rural de Rádios e da TCM, por exemplo.

Assim, o mesmo se dá para estas eleições, onde o debate é pensado como tática. Em Pau dos Ferros, a atual prefeita Marianna Almeida (PSD) não apareceu, na noite desta terça-feira 2, ao encontro promovido pelo canal TCM. O ex-prefeito e candidato Carlos Eduardo (PSD) não participou de nenhum debate na TV até agora em Natal. Professora Nilda (SD), de Parnamirim, e Jaime Calado (PSD), de São Gonçalo do Amarante, se ausentaram da Band. Em Mossoró, o prefeito Allyson Bezerra deixou sua participação na TCM nesta quinta-feira, 5, em aberto. “Eu debato ideias, não no campo da agressão, da difamação e de ringue. Aí, não é debate. É outra coisa”, respondeu.