Colapso no sistema de saúde

Qual a solução dos médicos do RN para a pandemia? Ouvir o dr. Bolsonaro

O posicionamento do Sinmed apresentado na ação do Sindisaúde atende a dois pontos nevrálgicos do bolsonarismo neste momento: a contrariedade do lockdown e a necessidade de empurrar hidroxicloroquina goela abaixo dos doentes

Se você recebesse a nota assinada pelo médico Geraldo Ferreira, que representa o sindicato da categoria no RN, desconhecendo sua autoria, diria que foi tirada de algum discurso nonsense do presidente Jair Bolsonaro.

Ainda, se a nota incluísse armar a população contra o suposto “autoritarismo” dos governadores, como sugeriu o líder da seita bolsonarista em reunião com ministros no dia 22 de abril, você não teria dúvidas. Não chegou a tanto.

O texto foi enviado para compor os esclarecimentos da classe à ação judicial do Sindisaúde que pede para que o RN entre em estágio de lockdown, a aplicação mais severa de isolamento social. Os profissionais da saúde estão no centro da pandemia, na linha de frente, e sabem que o sistema de saúde está à beira do colapso.

Porém, na nuvem do devaneio que contamina corações e mentes de parcela importante (porém, decrescente) de reacionários antipovo, o presidente do Sinmed poderia até ter ser nome cotado para ministro da Saúde deste desgoverno. Quem sabe?

Sem show da banda Grafith na porta do hospital, seu posicionamento apresentado na ação atende a dois pontos nevrálgicos do bolsonarismo neste momento: a contrariedade do lockdown e a necessidade de empurrar hidroxicloroquina goela abaixo naqueles acometidos pela Covid-19. O medicamento não tem eficácia comprovada, mas o médico já define cabalmente que é uma “forma de evitar agravamento”, mesmo ante às dúvidas que pairam a respeito e de suas contraindicações.

Como sabemos, o presidente Jair Bolsonaro é o maior sabotador das ações de combate ao coronavírus no Brasil, título reconhecido por representantes de vários países do mundo. Como o cavalo de Átila, por onde Bolsonaro passar não nascerá mais grama.

Bolsonaro é aquele apátrida que bate continência para a bandeira americana e que, como Jim Jones, instiga seus seguidores a ver neste exemplo o país a ser seguido e idolatrado. E se estes seguidores sonham pelos padrões americanos, na velocidade de mortes no Brasil, logo chegaremos lá. O presidente está se empenhando nisso. Para tanto, sua maior luta contra os governadores é garantir as aglomerações que vão virar óleo na máquina do lucro dos empresários.

Desta forma, incrivelmente, como por osmose, o presidente do sindicato dos médicos sugere um tal isolamento vertical, promovendo contaminação em massa, acreditando que as “medidas de isolamento devem contemplar grupos de risco como idosos e portadores de doenças crônicas graves”. Ou seja, se você for infectado, como impedir que seu familiar idoso não tenha qualquer contato com o vírus?

A explicação do Sinmed é mais política do que científica. E mais bolsonarista do que humanista. E mais individualista do que solidária.

Sabe por quê? Não para por aí. Sem fundamento (a nota é lacônica e intransigente) e com evidente afetação, o sindicato afirma que “medidas como lockdown só servem para encobrir a incapacidade gerencial da administração pública em abrir leitos ou UTIs”. Ele baseia-se em exemplos de Portugal, Espanha, Itália, França, Holanda, Alemanha ou Reino Unido, que também adotaram a medida?

Para finalizar, o médico trouxe aquelas questões que parecem tiradas de “especialistas de Facebook” ou discussões de quitanda: ” Se o Estado tem 7.200 leitos hospitalares, como está colapsado com apenas 280 pacientes internados por COVID-19?”.

É verdade que a sociedade esperava mais sobre a manifestação de uma categoria importante e na linha de frente na pandemia, ao lado dos demais profissionais que atestam o período crítico atual.

Esperava-se a humildade de reconhecer que trata-se de algo desconhecido, a expertise de apontar o que é passível de fundamentação, a ciência de compreender a estrutura existente e a grandeza de olhar para o surto com a mesma preocupação de todos nós (menos dos bolsonaristas).