The Voice Kids

O que significa Carlinhos Brown na vida musical de Bia Gurgel?

Sob a unção de Glorinha Oliveira, a Rouxinol Potiguar, e as influências concebidas a partir do talento de Katharina Gurgel, a menina encantou todos os três jurados. Em especial, Carlinhos Brown

Por William Robson

“Mossoró fez brotar Bia Gurgel em glória”. O desempenho da cantora mossoroense de apenas 14 anos encheu a cidade de orgulho e o país de regozijo neste domingo (13), quando participou do The Voice Brasil Kids. Na linhagem de uma família talentosa, sob a unção de sua bisavó, a cantora Glorinha Oliveira, a Rouxinol Potiguar, e as influências concebidas a partir do talento de Katharina Gurgel, a menina encantou todos os três jurados. Em especial, Carlinhos Brown.

Bia Gurgel, durante sua apresentação no domingo

Bia cantou a música “Como Nossos Pais”, de Belchior. Mas, chegou chegando na interpretação de Elis Regina com molhos personalizados. Nuances vocais de extrema complexidade a serem encaradas quando se obtém muita segurança e técnica. Bia se revestiu das duas. Inclusive, revelou os estudos que vinha mantendo, entre eles, o exercício de melismos sutis muito bem aplicados.

Bia estava muito à vontade, incorporando interpretações que se uniam à melodia forte e dramática. Os jurados ouviam perplexos, aguardando como seria sua performance nas notas mais altas ou como recorreria a possíveis falsetes. Sua potência vocal a levava tranquilamente a todas as frequências. Logo no início da apresentação, Gabi Amarantos sentia Bia alcançar com muita precisão as notas mais elevadas, apontando o dedo para cima. Michel Teló ficava atento às quebradas no instante em que a canção crescia junto com Bia.

Mas, foi Carlinhos Brown o jurado que fez toda a diferença. Foi o primeiro a virar a cadeira, embora os três o fizessem quase simultaneamente. Bia reagiu de imediato. Ali começava a conexão. “Vem pro Time Brown, Bia Gurgel! Vamos fazer história juntos”, disse o cantor e percurssionista baiano. “Tenho uma admiração gigante por você. Para mim, você é o rei”, afirmou Bia.

A reação de Carlinhos Brown ao ser escolhido por Bia Gurgel para integrar em seu time

Com a prerrogativa de escolher seu tutor e diante do privilégio de três opções à sua disposição, Bia deu um grito de alegria: “Carlinhos Brown!!!”.

Assim, o que pode significar para a cantora mossoroense esta escolha? O que Bia poderá absorver deste artista multifacetado?

A começar, Carlinhos Brown relatou a sua relação com Mossoró. Ou seja, a cidade não é estranha para ele. “Mossoró foi uma das minhas primeiras referências. Quando eu saí ainda criança, com Luiz Caldas, Acordes Verdes e meus amigos, a gente fez a primeira turnê ali. A gente tinha Luiz Gonzaga como tutor, porque abríamos os shows dele e Mossoró sempre esteve aberto também”, comentou.

Além disso, Bia terá amplo leque musical à disposição, uma paleta infindável de sons, um liquidificador de estilos e experimentos. Como afirmou, Brown (cujo sobrenome deriva, segundo relatos, de James Brown) saiu ainda criança com Luiz Caldas, outro talento versátil e guitarrista virtuoso. Era o seu percussionista. Inclusive, ambos reviveram o início da carreira no DVD ao vivo do Luiz Caldas, quando Brown toca percussão e apresenta golpes de capoeira no palco.

Brown tocava na banda Acordes Verdes, de Luiz Caldas, nos anos 80. Juntos, promoveram o axé-music em estilos variados, com reggae, samba-reggae, e instrumentações eletrônicas. Depois, incursionou com seu projeto Timbalada. Esta aí a formação de Carlinhos Brown: a versatilidade estilística do axé, que foi além e alcançou nomes como Caetano Veloso (quem não lembra da música “Meia Lua Inteira”?), Paralamas do Sucesso (na canção “Uma Brasileira”, do disco “Vamo Batê Lata”), Tribalistas (com Marisa Monte e Arnaldo Antunes) e Sepultura (na visceral “Ratamahatta”, ao lado de Max Cavalera, deixando sua marca em um dos mais importantes discos da história do rock, “Roots”).

Somente aí, já para perceber os diversos caminhos pelos quais Bia poderá percorrer. Sem falar na ampla rede que pode ser construída diante do arcabouço de Brown. Bia tem à sua disposição a oportunidade da vida. De beber na fonte do artista que perpassa por pólos que muitos críticos considerariam antagônicos ou impermeáveis.

Para entender melhor, o primeiro disco solo de Carlinhos Brown, de 1996, trazia esta polivalência e potência. Lembro quando ouvi o álbum “Alfagamabetizado” pela primeira vez e senti como Brown trabalhava com experimentalismo e fusões. Colocava Marisa Monte e Nando Reis, a cantora grega Alexandra Teodoropoulou e a percussão composta por surdos tudo no mesmo balaio. Mas, o que fez sucesso mesmo foi a pop “A Namorada”.

Brown ressaltou que Mossoró é o lugar onde Deus fez brotar Bia em glória. “Menina, você nos honra. A tarde de domingo está diferente pelo seu brilho, por este olhar, por este canto”, disse, precedendo a genuflexão de reverência à nova estrela. “Eu sou o servo”, reforçou. Pois é. Bia tem o tesouro musical a seus pés.